Curitiba kafkiana

Curitiba kafkiana
Da Wikipédia, “kafkiano”:
Descreve uma situação indesejada em que um indivíduo, sem o querer, se depara como inserido, ficando com a real impressão de que, enquanto a situação perdura, está vivendo em uma dimensão irreal, em estado de perplexidade podendo, em decorrência, ser levado a uma condição mental totalmente desajustada.
Em 11 de dezembro de 2008 no Ministério Público do Estado do Paraná, em reunião promovida pelo Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Defesa dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência, CAOP, com a presença de diversas associações e sob a coordenação da promotora Dra. Terezinha Resende Carula, vivemos mais uma dessas situações inacreditáveis, kafkianas, por assim dizer, se não morássemos em Curitiba.
Não deveria nos surpreender, pois a questão do lixo se arrasta há anos e não vemos a luz ao final desse túnel mal cheiroso e perigoso. Agora a dúvida é a Rodoferroviária, onde nós (ABDC) e outras entidades temos questionado as condições de acessibilidade. Lugar de grande concentração humana carece de recursos compensatórios às restrições das pessoas deficientes e outras com necessidades especiais, isso sem falar nas questões de segurança que a transformaram em lugar de episódios deprimentes.
Precisamos de reformas e correções naquele local, mas parece que nada pode ser feito, pois logo a URBS deverá sair de lá.
Nas palavras da representante da Urbanizadora de Curitiba ficamos sabendo que o prazo para saírem de lá termina em março de 2009. Faltando poucos meses para a questão, que não é nova, ter um desfecho agressivo ao povo curitibano, não temos um plano B, não existe projeto, obras, nada para uma nova rodoviária e, diante da situação existente, não se faz nada no prédio atual.
É difícil de acreditar nisso tudo. Imaginamos que o governo federal, poder concedente do transporte coletivo interestadual, o governo estadual, responsável pelo trânsito entre as cidades do estado do Paraná, e o nosso prefeito estejam, ou melhor, já definiram o que fazer a partir de março do próximo ano.
Ficamos perplexos com o que nos foi relatado, não imaginamos tanta omissão de nossas autoridades.
Aditivamente às nossas preocupações juntamos a questão da acessibilidade, dos direitos humanos, da dignidade e cidadania. É difícil aceitar que esqueçam o sofrimento de gente com necessidades especiais. Nossa esperança é que pelo menos nossos filhos e netos algum dia vivam num país atento e cuidadoso com os idosos, os cadeirantes, os cegos e surdos, as pessoas doentes e aquelas atingidas pelas crises econômicas criadas pelos magnatas do cassino financeiro internacional.
Saímos da reunião no Ministério Público do Estado do Paraná com a sensação de vazio, desamparo, quase na certeza de que vivemos numa cidade fria, incapaz de resolver problemas tão óbvios e urgentes quanto o da acessibilidade na Rodoferroviária, aliás, equipamento urbano sob risco de ser desativado e precisarmos usar lugares improvisados em Curitiba.

João Carlos Cascaes
Curitiba, 12 de dezembro de 2008.

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