Disque Cidadania, Acessibilidade

Olhando a lista telefônica encontramos como telefones úteis os “disque” ambulância (192), bombeiros (193), Defesa Civil (199), Polícia Civil (197), Polícia Militar (190), Água e Esgotos (115), Auxílio à Lista (102), Despertador Automático (134, Denúncia de Tráfico de Drogas (181), Hora Certa (130) e alguns números de socorro mais longos. (difíceis de lembrar em emergências, pois, pois).
Com certeza logo teremos disque paca, tatu, cotia, defesa de árvores etc.
Seres humanos, entre as inúmeras espécies de vida que existem sobre a Terra (foi nosso destino nascer com formato e funções que denominamos humanas) estão dando lugar para outras espécies nas prioridades da mídia. Não seríamos nós tão importantes que mereceríamos um numerozinho de telefone para reclamações e sugestões de maior segurança, dignidade, respeito?
Entre as muitas questões que nos afetam está a acessibilidade. Infelizmente nossa legislação, exemplificando, deixa aos proprietários de imóveis a responsabilidade pela existência e qualidade das calçadas. Assim temos centenas de milhares de indivíduos, cada um com seu juízo próprio, decidindo como eu, você, nós todos poderemos caminhar pela cidade. Pior ainda, os criadores de normas são absolutamente alheios às necessidades dos pedestres. Afinal, lembrando o padrão de vida deles, dificilmente iremos encontrá-los caminhando ao longo de nossas ruas, usando o transporte coletivo urbano, disputando espaço em praças mais humildes etc. Talvez caminhem em Caiobá, Camboriú, Bombinhas ou Jurerê Internacional, aqui é pouco provável. Tudo bem, no Barigui encontramos calçadas asfaltadas, sistemas de vigilância eletrônica, banheiros públicos etc. Em Curitiba proletária, não!
Se existem cidadãos que podem caminhar sem cadeiras de rodas e enxergam e ouvem bem, ótimo, e os demais?
No Brasil felizmente criamos uma legislação a favor das pessoas deficientes, obra muito especial de nosso senador Flávio Arns. Somos os eleitores do senador que construiu um edifício legal a favor desse povo. Se votamos nele, por que não aplicamos as leis, decretos, normas e, acima de tudo, o espírito que norteou essa preocupação?
Talvez nos surpreendamos com a falta de atenção a favor das pessoas comuns, principalmente dos deficientes. Quem sabe valeria a pena criar um disque cidadania, acessibilidade ou algo parecido?
Imaginamos que seria fácil ganhar patrocínio, quando vemos nossas estatais gastando o nosso dinheiro em projetos “de responsabilidade social” estranhos. Não seria boa propaganda investir na cidadania dentro das cidades?
Felizmente os Ministérios Públicos existem. Vivem a pão e mexerica, mas atuam, documentam, registram, acionam o Poder Judiciário. Temos onde dirigir nossas queixas além dos órgãos responsáveis pelos serviços, proprietários de imóveis, empresas etc.
Carecemos, contudo, de um instrumento fácil de registro de nossas queixas, algo subordinado a alguma entidade dedicada à cidadania, tão distante quanto possível de interesses comerciais e políticos.
Poderemos começar, portanto, discutindo a criação de um “Disque Cidadania”, quem sabe mais, o “Disque Acessibilidade”; aqueles que dependem disso tudo agradecem.

João Carlos Cascaes
26.1.2009

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