Empregos e acessibilidade

O Brasil foi mais uma vez surpreendido por crises econômicas advindas do cassino mundial em que se baseia a economia capitalista. No gozo de liberdades que os mais ingênuos defendem vigorosamente, os mais espertos (gângsteres) faturam e depois deixam a conta para o povo pagar. Doutores em Economia, mestres, operadores, bolsas de valores, ministérios e seus quadros caríssimos não foram capazes de antever esse pesadelo. Agora, números apontados, ficamos pensando em como somos logrados em prosa e verso.
Deixando de lado a raiva e pensando em soluções, observando o nível de desemprego crescendo, voltamos a nos lembrar das frentes de trabalho que eram criadas quando uma catástrofe acontecia. Medidas temporárias que evitavam o desespero de pessoas, que tinham o péssimo hábito de querer viver, foram um benefício a favor da dignidade, do prazer de poder sustentar famílias. No Paraná, no início da década de oitenta, adotou-se até a pavimentação de estradas com pedras irregulares para absorção de trabalhadores.
Temos novos cenários, mais leis (não cansam de fazê-las) e problemas que poderão ser resolvidos se os governos, em todos o três níveis, pensarem, por exemplo, na solução de um pesadelo para todos aqueles que precisam caminhar pelas nossas cidades.
O asfalto a serviço do transporte motorizado tem equacionamentos diversos. Empréstimos enormes são feitos para a turma atropelar mais gente. Em Curitiba vemos o pessoal da Prefeitura asfaltando e refazendo pisos sem parar. É impressionante o zelo com as nossas ruas. Com certeza o dinheiro para tudo isso vem de algum lugar, ao final pago pelo contribuinte.
Na capital paranaense discute-se a implantação do metrô, obrinha de um bilhão de dólares; existe dinheiro para isso gerando empregos aqui e até na Europa, Ásia ou América do Norte, afinal de contas muita coisa será importada e, se feita aqui, pagará royalties, dividendos, juros etc. para os estrangeiros.
Temos recursos para muitas obras ligadas ao transporte coletivo urbano, mas, e as calçadas? Adianta fazer ônibus desse ou daquele jeito se os seus usuários correm todos os riscos possíveis querendo chegar ou voltar dos pontos de parada? E as nossas calçadas, quando existem, são bem cuidadas, seguras, transitáveis? Será que todos os proprietários de imóveis estão preocupados com as pessoas que caminham?
O Governo Federal via BNDES poderia criar linhas de crédito exclusivas para a construção de calçadas nas cidades que apresentassem projetos coerentes com as exigências e necessidades das pessoas deficientes e de todos os usuários do transporte coletivo urbano. Com esse dinheiro em pouco tempo estaríamos gerando empregos e caminhos seguros para os pedestres. Nada mais justo e oportuno.
É urgente tirar dos donos de imóveis a responsabilidade pela construção e manutenção de passeios. As prefeituras poderiam, saberiam fazê-lo e embutir esse custo (construção de calçadas) em seus impostos. Dentro de um ano os primeiros projetos estariam gerando dezenas a centenas de milhares de empregos, num processo de transformação radical da paisagem urbana em nosso Brasil emergente. Convém lembrar, usando cimento, areia, água, mão de obra e projetos brasileiros.
Temos agora, pois, a oportunidade de corrigir falhas dantescas em nossas cidades, reduzir acidentes, atropelamentos, tombos, fraturas, custos para o INSS, aumentar a atratividade dos sistemas de transporte coletivo urbano e, nesse período de crise, a oportunidade de se criar postos de trabalho que evitarão o constrangimento de milhares de brasileiros que terminam escolhendo entre a indigência, catar e comer lixo ou o tráfico, a bandidagem. Para tudo isso basta criar um modelo de financiamento e de gestão das calçadas urbanas, retirando dos proprietários de casas, terrenos, prédios e coisas assim essa obrigação, a responsabilidade de fazer e cuidar do que não querem.
Podemos mudar para melhor, é só querer.

Cascaes
27.1.2009

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