Qualidade e operação do transporte coletivo urbano

Qualidade e operação do transporte coletivo urbano

O transporte coletivo urbano é um excelente termômetro da competência técnica de qualquer administração municipal. Qualquer grande cidade possui, pelo menos, uma frota de ônibus para atender a população, serviço que em alguns lugares é quase centenário. A energia elétrica entrou em nosso país para alimentar bondes, tendo nesse tipo de atendimento um cliente especial e de grande interesse das concessionárias que na época cuidavam de transporte e energia. Fazendo e cuidando de bondes a indústria eletromecânica criou a base de algumas grandes indústrias européias no século vinte. O circuito de ônibus, bondes linhas de metrô são indutores de desenvolvimento das cidades. A importância dos sistemas dedicados ao deslocamento dos habitantes de qualquer cidade é inquestionável e mais e mais significativa ao futuro das metrópoles. Se significa tanto, nada mais lógico que se dê a esses sistemas o máximo de atenção.
Se algo evoluiu extraordinariamente nessas últimas décadas foram os veículos denominados “ônibus”. Melhoraram tanto que obscureceram os bondes, pois, muito mais baratos, dispensam trilhos, redes aéreas de alimentação de energia, têm flexibilidade de trajeto, podem ultrapassar sem dificuldades qualquer obstáculo etc., além de poderem ser feitos com layout ao gosto do freguês em espaços cada vez maiores graças à possibilidade de articulação. Suspensão, amortecedores de aceleração, freios especiais, piso rebaixado, comunicação, ar condicionado, comunicação áudio visual, processadores de dados dinâmicos dos veículos, sistemas de alerta, tudo é possível desde que as tarifas e/ou subsídios viabilizem os investimentos.
O nó da questão é exatamente a política tarifária.
Qualidade tem custo, preço. Quem paga?
E a operação do sistema, existe?
Não sabemos de cidade no Brasil que realmente opere seu sistema de transporte coletivo urbano, existindo, por favor, avisem-nos informando-nos dos detalhes.
Afinal, o que seria operar um sistema?
A área de energia elétrica pode ser um bom exemplo. Em centros de operação sabe-se instantaneamente quanto as usinas produzem, a carga, fluxos, tensões, freqüência etc., tudo visível em telas de computador onde se tem tudo e muito mais, se necessário. Graças a isso pode-se mudar condições operacionais sempre que necessário, determinando-se ajustes no sistema, ou seja, aceleração ou retardamento de veículos, colocação em serviço de unidade de reserva, avisos a passageiros e motoristas, alerta ao policiamento, orientação para intervenções especiais.
Em 1988 estivemos estagiando na França onde vimos sistemas de rastreamento, controle e comunicação dedicados ao transporte coletivo urbano operando e soubemos que 30 cidade francesas tinham funcionando ou em instalação equipamentos semelhantes, usando ou preparando pessoal e software para o controle operacional de seus ônibus e bondes. Já naquela época, em muitos lugares daquele país, em pontos de embarque e desembarque pequenos painéis informavam o tempo de espera do próximo veículo. Microcomputadores associados à telefonia (minitel, existiam três milhões em operação) eram instrumentos de manuseio nas comunicações à distância. Dentro dos ônibus e bondes os motoristas ou motorneiros tinham recursos de comunicação de modo a alertar a central se qualquer irregularidade acontecesse. Controles de semáforos e alertas ao pessoal de guarda de trânsito completavam a lógica, dando aos cidadãos muito mais tranqüilidade do que sentimos em nosso Brasil varonil atualmente.
Após duas décadas o custo de sistemas de segurança, monitoramento e comunicação caiu substancialmente. Os veículos agora dispõem de tecnologia para serem muito melhores. Por outro lado o trânsito nas cidades piorou, a população aumentou muito. Tudo recomenda aprimoramentos que precisamos entender e aplicar. Obviamente deve-se ter a qualidade e a segurança como prioridades e as cidades precisam viabilizar esse desenvolvimento.
Acima de tudo é preciso ter consciência da necessidade de melhorar o serviço de transporte coletivo, uma decisão soberanamente política.

Cascaes
28.1.2009

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