Manutenção e Engenharia

Nosso Brasil perdeu sensibilidade para a Engenharia, a boa Engenharia. A crise dos anos oitenta do século passado obrigou-nos a viver na opção zero. Ficou tão bonito fazer o mínimo que ganhamos a Lei Federal 8666 de 1993, sem que isso viesse a significar um avanço real na honestidade dos processos, afinal bandido é especialista em leis. O resultado é termos uma coleção incrível de obras e serviços precários. Obras ao menor preço significam canibalização de projetos e atividades de manutenção para os excedentes necessários ao sustento de ONGs, fiscais e campanhas que sabem usar outras leis para segurar qualquer obra.
Precisamos aprender a estabelecer vigilância inteligente, sadia, objetiva e até preventiva sobre o que acontece. Depois que as coisas acontecem vão para as páginas policiais e palanques de políticos oportunistas. Em muitos casos, como é o caso do pedágio, chegamos tarde, pois, afinal, devemos respeitar atos que seguem todo o ritual jurídico sem maiores contestações políticas e processuais.
Felizmente temos bons jornais e novos meios de comunicação e reação na Justiça. Continuamos com a mesma jurisprudência e leis mal feitas, excesso de leis, uma infinidade de oportunidades de negociações subterrâneas diante da babel legal que nosso povo construiu, mas temos os Ministérios Públicos, uma nova mentalidade surgindo nos tribunais, os blogs, a internet (infelizmente apelando-se para os terríveis Spams), Youtube etc.
Nisso tudo existe a rotina.
Os gerentes de manutenção de instalações precisam ser mais ágeis. O Governo Federal desistiu. Está pedagiando estradas e pensando em privatizar o que resta, se tiver caráter operacional, como é o caso da Infraero.
Em Curitiba ficamos sem entender, por exemplo, o atraso na recuperação da estação tubo Água Verde, extremamente perigosa na condição em que deixaram os vândalos por, talvez, nove meses (isso se a recuperação for imediata). No Terminal Guadalupe a demora em resolver a questão das plataformas para os deficientes é inaceitável. Nos dois casos temos o resultado de um projeto que poderia ser mais inteligente, o tal do tubo, lindo mas deficiente sob muitos aspectos. O recapeamento de ruas importantes como a Avenida Iguaçu criou, em alguns lugares, canaletas entre a pista e o meio fio, autênticas armadilhas para os pedestres. Os ônibus estão piorando enquanto a Volvo, uma indústria instalada em Curitiba, exporta mais de dois mil veículos de primeiríssima linha para a cidade de Santiago do Chile. As invasões denunciam a inoperância dos programas habitacionais em Curitiba e na RMC. O lixo é um pesadelo apesar de alertas feitos até no Instituto de Engenharia há muitos anos. Só vemos estudos, estudos e estudos que não se materializam, desculpa que nossos secretários adoram apresentar quando levamos questões dessa espécie a eles.
Podem alegar falta de recursos, por quê não “enxugam” o governo? O que não falta em todos os níveis é secretaria, cargos de confiança, salas e cadeiras cheias de paletós...
Nosso Governo Federal pelo menos é mais teatral e sabe aparecer na mídia, talvez para manter juros absurdos durante muitos anos, festa dos banqueiros e atrasos absurdos em obras e serviços essenciais. Naturalmente que sem dinheiro e criando cargos sem parar a União fica inoperante diante dos desafios de um país que precisa de tudo.
Assim vamos esperneando, colocando filmes no youtube, criando blogs, entrando com documentos no Ministério Público, pedindo a nosso principal jornal do Paraná (Gazeta do Povo) que publique nossas queixas, pois outras formas de agir têm se mostrado pouco eficazes, merecendo até teses de doutorado para que um dia, quem sabe, compreendamos a ineficácia de nossas instituições.

Cascaes
9.5.2009

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