Monarquia ou anarquia

Monarquia ou anarquia
Talvez nunca o governo federal tenha afundado tanto em crises tão absurdas quanto vimos de uma década para cá. Os escândalos, alguns colossais, criaram uma situação de incredulidade, que talvez esteja amortecendo os sentidos políticos do nosso povo.
Pode-se também dizer, cada povo tem o governo que merece.
Existe ainda a lembrança de nossa história, país que saiu da monarquia, regime típico de castas e privilégios, numa terra em que os povos précabralinos adotavam o cumpadrismo como forma de organização de clãs e privilégios sociais, recordando sempre que a passagem da monarquia veio desse povo devidamente misturado, amante de facilidades e tão diplomata que soube acabar com a escravidão sem conflitos maiores. Adotou a “democracia” em atos militares confusos e exerceu as primeiras décadas de voto “a bico de pena” sem muito pudor. Sempre, entretanto, os brasileiros souberam camuflar razoavelmente seus comportamentos, algo absolutamente impossível nesses tempos de comunicação total.
O nepotismo é apenas uma marca da degeneração de lideranças que prometiam muito, desde os tempos da UDN, passando pelos militares mais duros, MDB e chegando ao PT beatificado pelas camuflagens românticas da esquerda. Sempre tivemos pelo menos um partido usando a bandeira da moralidade como algo sagrado, sentimento que se esfacelou com o Mensalão, por absoluta falta de opções e esgotamento da nossa credulidade.
Na verdade muitos políticos amam, adoram o poder de império, ou melhor, os tempos de império, com a única ressalva de que eles, pelo menos um número razoável de eleitos, uma vez diplomados dão-se direitos que ao cidadão comum significaria risco de cadeia, de processos intermináveis etc.
Talvez possamos explicar tudo isso pela ampliação das diversas formas de crime organizado ou da mídia sempre apresentando a riqueza como o objetivo da vida de qualquer família.
Devemos, contudo, pensar: o ser humano realmente quer Justiça, Honestidade, Seriedade? Talvez não, nem agora nem nunca. Fosse diferente, as religiões clássicas não ameaçariam com o fogo do Inferno os pecadores.
De qualquer modo, para aqueles que ainda acreditam, a perplexidade é total com o nosso Brasil não muito varonil. Faltam espaços nos noticiários para explicar o que acontece. É crime demais.
Felizmente “nossa terra” tem um tremendo potencial de desenvolvimento e os brasileiros, graças a todas essas malandragens, é tranqüilo, fatalista, se deixa roubar e enganar sem ficar incomodado, sempre esperando o momento de se locupletar, como dizia um personagem do Chico Anísio, se não me engano. O fundamental é o futebol, carnaval, praias, cerveja e sexo, o resto deixa que o tempo resolve.
Isso é bom?
Talvez, guerras e revoluções (o sul do Brasil tem uma coleção delas para contar) meus pais diziam que todos sabem de que jeito começam, ninguém tem condições de afirmar como terminam...
Precisamos de paciência e aprender a votar, a exercer nossos direitos, a exigir respeito a leis feitas pelo próprio governo e seu poder assessório, o Congresso Nacional. Chegaremos lá algum dia?

João Carlos Cascaes
Curitiba, 18.6.2009

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