Viajar com restrições

As facilidades do mundo moderno podem se transformar em pesadelos.
Nada melhor do que conhecer outros povos, visitar lugares históricos e comuns a nações distantes. Aprende-se muito, pode-se comparar muita coisa, mais ainda quando se decide mergulhar no meio do povo e ver o que as viagens turísticas normalmente não mostram.
Viajar ficou mais barato, existem muitas opções, o turismo aumenta dia a dia, mesmo em tempos de crise e gripe.
Infelizmente parece que temos um tempo para isso, se o perdemos, o que seria uma diversão poderá se transformar em pesadelo ou simplesmente tornar-se impossível.
Qualquer pessoa que tem a sorte de atingir a terceira idade sente que dia a dia fica mais dependente de próteses, sistemas, segurança, qualidade de instalações e comportamentos.
O pesadelo começa nos aeroportos, portos e rodoviárias, lugares que raramente dispõem de sistemas de comunicação eficaz. Ouvir o que dizem via sistemas de alto-falantes é quase impossível e praticamente todas as informações de emergência acontecem dessa forma. Sistemas automáticos dificilmente são amistosos. Os responsáveis por esses softwares devem acreditar que todo cidadão enxerga bem, é especialista em botões e lógicas computacionais etc. Tickets impressos em letras minúsculas são tão rotineiros que só em casa e com o auxílio de lupas poderemos descobrir o que continham.
Alguns desses centros de triagem de turista doido dão a impressão de querer hostilizar o viajante, submetendo-o a todo tipo de humilhação possível. O que é incrível é a capacidade de complicar que alguns gestores desses lugares exercem. Isso tudo para não falar das alfândegas e barreiras sanitárias, impondo ao viajante esperas degradantes em filas enormes com papeletas, que devem ser preenchidas sempre que passamos por elas, tudo em plena época dos computadores e sistemas de vigilância e monitoramento, que devem ter o que dizemos e muito mais a nosso respeito.
O que é mais preocupante em lugares que já foram expoentes em soluções a favor do ser humano é a sensação de que possa estar havendo um retrocesso. Terroristas, medo do fim do mundo, xenofobia, fanatismos religiosos, ideológicos, drogas e sabe-se lá o que mais estão reaparecendo (lembrando a década de trinta do século passado) ou inovando tetricamente, criando um comportamento de desconfiança e de desatenção com o cidadão comum, principalmente se ele não for rico, autoridade e/ou da própria tribo.
Quando perguntamos para gente mais nova que vive nessas cidades, metrópoles antes modelos de preocupações sociais, sobre políticas e serviços de apoio a deficientes, por exemplo, parece que falamos algo relativo a marcianos.
Para não escrever um livro sobre as agruras do turista e mesmo do viajante a serviço, aquele que se vê obrigado a usar sistemas de transporte coletivo, restaurantes populares, enfrentar barreiras, sem os privilégios que alguns conquistam, precisamos pensar, perguntar: será que as autoridades (políticos, urbanistas, burocratas, tecnocratas, educadores etc.) têm raiva do viajante?
João Carlos Cascaes
Curitiba, 28.7.2009

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