O respeito pelo cidadão e o transporte coletivo

Os americanos inventaram os “shopping centers”, no Brasil levamos a idéia a padrões espetaculares. Dentro deles o cidadão pode andar com segurança, divertir-se, comprar qualquer coisa, freqüentar bares e restaurantes, deixar os filhos em parquinhos, o carro bem estacionado e até pegar dinheiro em caixas eletrônicos. Algumas cidades conseguiram resultado semelhante sem a necessidade desses ambientes fechados (ainda que usando ar condicionado). No Balneário de Camboriú temos o imenso prazer de caminhar vendo lojas e o mar, ou por dentro, conhecer o comércio, bares e restaurantes de cada lado da rua onde, estranhamente, os motoristas respeitam o pedestre.
Curitiba optou pelos templos de consumo e entendeu que as ruas são feitas para motoristas usarem o mais rapidamente possível os seus veículos.
Essa, pelo que percebemos, deve ser a ordem dada aos pilotos de ônibus.
Ônibus cada vez piores, exceto onde a administração quer mostrar serviço, atendem a população. Provavelmente na tentativa de baixar tarifas, de contê-las, dá voto, degrada-se a segurança e o conforto e deseduca-se o motorista, que deve estar se neurotizando em tabelas horárias cada vez mais justas.
Lamentamos profundamente ver como antigos especialistas resistem à idéia de implantação de sistemas complementares ao transporte coletivo existente na capital paranaense. Metrô pesado ou leve, mas em pista isolada, dedicada, circuitos de comboios (usando o termo português) em monotrilho, O-Bahn, túneis, viadutos, trincheiras, canaletas, sistemas elevados ou subterrâneos, com todo o conforto e segurança possível aos seus passageiros e aos pedestres, ciclistas e até para outros que usam o transporte individual já estão atrasados. Temos anteprojetos para o metrô, nem a forma institucional foi definida, conseguir verbas como?
Qual é o resultado de tudo isso?
Em São Paulo calculam em quatro bilhões de reais o prejuízo causado pelos engarrafamentos. O metrô de lá deveria ser, pelo menos, dez vezes maior, perderam tempo...
Podemos, fazendo algumas contas, avaliar o nosso custo material. E as centenas de vidas perdidas em acidentes absurdos?
Quem não tem algum conhecido ou parente de algum amigo destruído em algum acidente de trânsito em Curitiba? Ônibus são veículos de grande porte convivendo com automóveis, bicicletas, pedestres etc.
Nesse final de semana a tragédia rondou meus amigos. O contribuinte, cidadão residente em Curitiba, Edgar Ferreira Ferraz foi simplesmente prensado entre um ônibus que saiu de trás do seu carro, onde cuidava da porta para sua mãe ou irmão saírem ou entrarem, não sei, e só não morreu por milagre. Rolou entre os dois veículos e agora precisa de uma bengala e cuidados médicos para se recuperar. O pior de tudo foi o comportamento do motorista, ao que tudo indica, agindo como se nada existisse. Afinal, que treinamento e orientação estarão recebendo?
Temos prefeito, vereadores, repartições públicas, guardas, tecnologia etc. para administrar e cuidar de nossas cidades. Têm competência? Sabem o que fazem? Duvido muito vendo como a cidade se apresenta. Linda, com certeza, afinal o pessoal dedicado às praças e parques é de primeira linha. Bons arquitetos fazem de Curitiba um show para os olhos, mas e a segurança e conforto do cidadão comum?
Definitivamente precisamos entender o que é uma metrópole. Quais são os requisitos de convivência em cidades grandes e os custos para se ter os benefícios de uma convivência sadia?
Vemos muito discurso, saudosismo, teses equivocadas e falta de ação coordenada, eficaz, coerente com as demandas de uma cidade que em poucas décadas terá milhões de habitantes.
O amigo Edgar é mais uma vítima desse trânsito maluco que se impõe numa cidade mais e mais brutalizada. Os idosos e deficientes que o digam.

Cascaes
10.8.2009

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