A água que bebemos

Uma questão que preocupa é a qualidade da água em nossa terra.
No Brasil temos metrópoles próximas às nascentes e outras ao longo de nossos rios cuja maioria tem o péssimo hábito de fluir do leste para oeste e depois de longo percurso desaguar diretamente ou indiretamente no Oceano Atlântico. Sendo um país com forte atividade agropecuária, provavelmente crie situações de risco de contaminação em diversas regiões, tudo sem esquecer o garimpo, a indústria de modo geral e acidentes que poderão gerar venenos eventualmente invisíveis aos nossos olhos. Por motivos naturais ou artificiais, é prudente existir vigilância severa sobre a qualidade da água em todos os lugares significativos.
Tendo a cidade de Curitiba como exemplo e vivenciando situações que demonstram nossa ignorância, mas agora, graças à internet, descobrimos detalhes que nos preocupam, mais ainda quando desconfiamos que a incidência de certas doenças assusta e chega perto da gente.
Obviamente estamos com o privilégio de discutir detalhes num planeta em que a mortalidade por efeito de doenças provenientes da ignorância em relação ao uso da água já foi elevadíssima, só não eliminando a presença humana sobre a Terra porque as famílias eram numerosíssimas, viabilizando a sobrevivência de alguns entre muitos perdidos já na primeira infância.
Queremos mais saúde, entretanto, de que jeito?
Impõe-se conhecer detalhes do tratamento da água, de sua distribuição e até dos efluentes, esgoto que retorna aos rios para adiante ser a água de algum ribeirinho.
O tratamento de água tornou-se possível graças à Engenharia Química, da qual alguns produtos se mostraram biocidas, esterilizantes, tudo após um processo de retirada, tratamento mecânico e armazenamento desse precioso líquido em grandes reservatórios.
No Brasil o poder de concessão de serviços de água e esgoto foi atribuído aos municípios. Na ilusão da municipalização, criou-se uma situação delicada, pois a formação de equipes de profissionais de bom nível está longe do alcance da maioria das cidades brasileiras com autonomia para tanto. Pior ainda, o custo operacional, os investimentos necessários etc. são travados de diversas maneiras e a famosa privatização não cria empresas para atividades sem rentabilidade. O cidadão comum nem sempre pode pagar tarifas que compensem serviços de bom padrão. Instituições estaduais e a ANA - Agência Nacional de Águas[i] devem fiscalizar nossos rios e lagos, mas muita coisa deixa de ser feita graças à inércia típica de nossos administradores públicos. Em período anterior à existência da ANA tivemos, por exemplo, o desastre da mineração de chumbo[ii] em Adrianópolis e os garimpos de ouro são uma ameaça permanente quando o mercúrio[iii] é usado sem os devidos cuidados.
Graças às facilidades do espaço Web e à acessibilidade a trabalhos de pesquisadores podemos aprender muito simplesmente navegando na internet.
Alguns pólos de pesquisa produzem trabalhos interessantes. Da Universidade de São Paulo, por exemplo, encontramos estudos, dissertações de mestrado, trabalhos que merecem ser lidos atentamente. Sem maiores dificuldades podemos, por exemplo, ver uma revisão bibliográfica (período de 1974-1998), no MEDLINE, sobre exposição do ser humano a trialometanos[iv] presentes em água tratada[v] e ainda outro trabalho sobre a possível associação entre a exposição a trialometanos presentes na rede pública de abastecimento de água da região metropolitana de São Paulo e a ocorrência de lesões na gravidez[vi].
A água potável, ou o que deveria ser, passa por muitas situações de degradação, com a hipótese até de contaminação na caixa d’água da residência ou prédio em que vivemos, quando sem limpeza e cuidados adequados, ou se for de algum composto de amianto[vii] que aos poucos poderá, em caixas desgastadas pelo tempo, contaminar o líquido que usamos para beber e fazer nossos alimentos.
Ou seja, da captação ao esgoto a água merece cuidados especiais para que possamos viver com tranqüilidade e segurança, tudo isso ainda dependendo da exposição a possíveis contaminantes ao longo dos rios, exigindo um padrão de fiscalização que não vemos na maior parte de nosso imenso Brasil.

João Carlos Cascaes
17.9.2009

[i] http://www.ana.gov.br
[ii] http://www.cprm.gov.br/publique/media/Painel10.pdf
[iii] http://www.zeromercury.org/fact_sheet/index.html
[iv] http://portais.ufes.br/PRPPG/ext/mono.php?progpess=2242&curso=4&prog=30001013003P4
[v] http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/18576
[vi] http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=LILACS&lang=p&nextAction=lnk&exprSearch=443951&indexSearch=ID
[vii] http://www.alvorecer.org.br/orient_medica/dicas/caixas_dagua.htm

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