Calçadas - um pesadelo curitibano

Calçadas hediondas
Nas cidades temos pistas para pedestres (as calçadas), eventualmente ciclovias, linhas férreas para trens, bondes e metrôs (se existirem, obviamente) e as ruas, avenidas e alamedas cujos pisos servem a veículos de toda a espécie que não exijam trilhos (Veneza não vale). Note-se que para qualquer desses circuitos vale toda a lógica da Engenharia de Trânsito (velocidade, fluxo, direção, sentido, acidentes etc.).
No século vinte os carros motorizados ganharam importância industrial, comercial etc. Entraram em nossa vida. Tornaram-se parte do dia a dia, justificando investimentos permanentes e cuidados especiais. Para servi-los em Curitiba devemos ter, por exemplo, mais de quatro mil quilômetros de ruas e avenidas, ou seja, dezenas de quilômetros quadrados de asfalto ou concreto que precisam ser mantidos e aprimorados permanentemente. Para cada metro de rua devemos ter, pelo menos, o dobro em calçadas. As ruas são de responsabilidade das prefeituras, de modo geral, enquanto as calçadas competem aos proprietários de imóveis fronteiros à pista, ou seja, tantos quanto forem donos de imóveis.
Os cenários para veículos motorizados e pedestres mostram uma diferença importantíssima, capaz de explicar inúmeros acidentes e a preferência da maioria pelos automóveis: a calçada e a responsabilidade pela construção e manutenção desses caminhos urbanos. Se as ruas contam com estruturas de suporte nas prefeituras e suas secretarias, as calçadas mal dispõem (com raras exceções) de padrões de referência (projeto, construção, manutenção, utilização).
O resultado da má qualidade das calçadas é óbvio: restrições violentas de mobilidade, riscos de acidentes e a opção pelo transporte motorizado individual, sempre que possível.
Não podemos esquecer que o usuário do transporte coletivo precisa caminhar até/de os pontos de embarque.
Se a opção for ir e vir andando do foco de deslocamento (trabalho, lazer, educação, religião etc.), quando não pode ou não se quer esperar ônibus, impõe-se cuidar para não tropeçar, escorregar, ser atropelado, assaltado ou até ser assaltado e/ou assassinado em algum tipo de agressão.
Tivemos o “Dia sem automóveis” (22 de setembro) quando se deu grande destaque à poluição causada pelos carros. Está na moda falar de poluição. A violência contra o pedestre ficou em segundo plano, talvez porque muitos cidadãos, além dos políticos, sejam os responsáveis pelo suplício denominado “passeio”, “calçada” etc.
Andando enxergamos o desprezo pelo cidadão do lado de lá das cercas e muros. Lixo, pedras irregulares, padrões inadequados, mau uso e falta de manutenção são a rotina extremamente preocupante de nossas calçadas, algo que no mínimo mostra perversões sociais de nosso povo, um crime talvez hediondo contra quem precisa se deslocar por esse circuito sob “responsabilidade” de pessoas nem sempre capazes de entender e aceitar condições mínimas de civilidade.
Em Curitiba, 24 de setembro de 2009, telefonando para o 156, Central de Atendimento e Informações da Prefeitura de Curitiba, ao reclamar de buracos perigosos em calçadas (http://cidadedopedestre.blogspot.com) ouvimos da atendente a solicitação do número preciso do imóvel confrontante ao buraco. Não servia informação de proximidade. Ao dizermos que havia risco de acidentes, a atendente primeiro perguntou se o buraco era na rua ou na calçada. Ao dizermos que o problema era na calçada ela disse que precisavam do número do imóvel para notificar o proprietário que, se não tomasse providências, seria então acionado pela PMC. Competia ao proprietário dar explicações à PMC sobre a possibilidade da origem da irregularidade, se dele ou da Sanepar, quem sabe outra concessionária ou outro tipo de vilão (não seriam os ETs?). A alegação de que a causa do buraco poderia, talvez, ser atribuída à canalização de águas pluviais e que seria importante ação imediata não valia. Era importante respeitar a rotina burocrática, que fora imposta pela Prefeitura. Ou seja, fosse qual fosse a situação, não havia esperança de solução imediata.
Dane-se o pedestre.
Concluindo precisamos repensar a questão “calçadas”, direitos e deveres, se quisermos realmente reduzir a poluição e aumentar a segurança e o conforto do cidadão comum, que precisa se deslocar através das cidades.
Cascaes
25.9.2009

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