O Poder e a Justiça

De todos as instituições de uma nação, a mais nobre e representativa do poder real é o de “fazer justiça”. O rei judaico Salomão tornou-se célebre em grande parte porque “não se tornou num líder guerreiro, e isso, não foi preciso. Soube manter a grande extensão territorial que herdara de seu pai. Mostrou, de acordo com a tradição judaica cristã, ser um grande governante e um juiz justo e imparcial” (Wikipédia). Isso um milênio antes do nascimento de Cristo. A democracia dos tempos modernos veio com propostas de “igualdade, liberdade e fraternidade”. Revoluções aconteceram para introduzi-las dentro de impérios mal feitos e guerras violentas foram promovidas por povos que desprezaram essa condição de existência e quase destruíram a humanidade.
A escravidão e a exploração dos mais humildes, hoje e sempre, podem acontecer onde a Justiça não lhes dá amparo, ou melhor, as pessoas com a responsabilidade de aplicar o que se entende por mais nobre no direito e deveres de qualquer cidadão não se apaixonam pela importância dessa arte divina. Caímos em muitos lugares no império do formalismo, nas simplificações processuais e na valorização corporativa das palavras bem elaboradas em detrimento da aplicação pura e simples da Justiça.
Os poderosos sempre contaram com a ignorância do povo, o medo, a intimidação e cooptação. Assim também vemos o exercício da política, onde, acintosamente, o jogo das chantagens acontece sob os aplausos néscios de pessoas que mais cedo ou tarde serão vítimas do estado que aceitam.
Felizmente a tecnologia oferece mais e mais recursos de comunicação. Temos a internet ganhando força e aparelhos e sistemas sendo desenvolvidos de modo a poderem levar a qualquer canto do planeta as opiniões da maioria das pessoas. Graças à Medicina também aprendemos a ter mais saúde, a evitar doenças degradantes. No Brasil ainda garante-se, para grande parte da população, um mínimo de alimentação, o que certamente mostrará seus benefícios ao longo do tempo.
A dúvida, contudo, é a da capacidade de se superar barreiras construídas durante milênios. Castas e classes, cores e religiões, ideologias e até preferências futebolísticas dividem as pessoas. Outros já trazem por educação atávica a inércia, a falta de disposição para lutar. Nesse contexto podemos contar ainda muito tempo para vermos reações adequadas.
Temos, contudo, recursos fantásticos e a internet é a autopista do conhecimento que poderá ser usada para o ensino a distância, inclusive para educar pessoas onde existe a ausência de tudo, inclusive de educadores reais. Graças às telecomunicações e à mídia convencional também podemos saber que ainda temos pessoas acima de lei em nossa república remendada por tantos avanços e recuos. O problema é que se existe alguém acima, também viceja uma legião de “privilegiados” em escalões intermediários, ou seja, se alguns podem fazer o que bem entenderem, um número significativo de dignatários estará livre para exercer seus poderes em níveis intermediários, interpretando as leis do país ao gosto e sabor de suas arbitrariedades.
Pedofilia, escravidão, exploração sexual e desrespeito a trabalhadores são aspectos da vida no Brasil de que fazemos de conta que não existem. Compreensivelmente em lugares mais expostos isso é contido pela força dos agentes da Lei, da aplicação da Justiça.
E nos muitos grotões desse imenso Brasil? Como será a Justiça no interior do Maranhão (O Maranhão é um dos estados mais pobres do Brasil, com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) igual a 0,683, comparável ao do Brasil em 1980 e superior apenas ao de Alagoas na lista dos estados brasileiros por IDH. O estado possui a segunda pior expectativa de vida do Brasil, também superior apenas à de Alagoas), por exemplo, um estado territorialmente enorme, clássico, com imenso valor para a formação do Brasil, mas carente de tudo?

Cascaes
15.9.2009

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