Criminalidade, trabalho e Brasil

O império do tráfico e nossas leis
Vemos com imenso pesar o crescimento do poder dos traficantes no Paraná.
O noticiário mostra que, apesar da existência até de uma secretaria municipal para cuidar do assunto, as chacinas e execuções sumárias acontecem em Curitiba de forma acintosa, sem que nossas autoridades ligadas à segurança e os times dos serviços sociais mostrem ações eficazes, ainda que tardias.
Sentimos que os poderosos se afastam do povo, criam leis românticas e critérios ineficazes de pacificação e disciplinamento.
Descobrimos, com o anúncio dos eventos esportivos, Copa do Mundo e Olimpíadas, que dinheiro existe. Sabemos disso quando analisamos a política monetarista, ou melhor, extorsiva do Governo Federal. Um abrandamento na lógica dos juros, que opera a favor da agiotagem embutida nas decisões dos nossos xerifes do dinheiro, criaria recursos mais do que suficientes para ações nacionais de retomada do controle perdido.
O Congresso Nacional, se ao contrário de gastar tanto tempo em CPIs inúteis discutisse seriamente nosso quadro institucional, constituição, leis e estatutos mal feitos, com certeza daria uma contribuição positiva; afinal nossos congressistas são bem pagos para manterem um plantão permanente de supervisão das leis que eles mesmos fazem.
Temos violência que nos assusta, por quê?
Entre muitas fontes de consulta possíveis, vale a pena ler, atentamente, o livro “Freakonomics, o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta”, autores: Steven D. Lewitt e Stephen J. Dubner. Se não quiserem gastar dinheiro, na internet podem encontrar inúmeros comentários e análises dessa obra extremante oportuna para os brasileiros. O que diz, entre outras coisas, esse livro? Os efeitos, demonstráveis estatisticamente, da aprovação da Lei do Aborto nos EUA na reversão da criminalidade. Veremos o que os norteamericanos reduziram, sem terem decidido conscientemente por isso, a criminalidade nos EUA, fato observável quando as crianças que teriam nascido por efeito de gravidezes indesejadas chegaram à idade juvenil. Adultos indesejados, criados por mães e famílias que não podiam ou não queriam filhos, estariam servindo de material de consumo de traficantes e viciados. Ou seja, apontaram em conveniências circunstanciais e acertaram um problema social gravíssimo. Deixamos os detalhes para o leitor interessado no problema.
No Brasil criamos leis e decretos proibindo o jovem de trabalhar. Protegemos excessivamente um ser humano que assim aprende a ser irresponsável. Não investimos em escolas do primeiro e segundo grau, preferimos formar doutores. Carecemos de um sistema de reclusão ajustado ao menor infrator (é melhor fazer arenas). Os programas de reurbanização criam favelas de tijolo e concreto. Não temos ações eficazes.
Sobram repartições públicas, “prós” disso e daquilo, assessorias e doutores falando difícil. Carecemos de realismo, determinação e vontade objetiva.
Ganhamos, isso sim, em abundância, crimes absurdos cometidos principalmente entre os jovens da periferia, usando armas e trabalhando para o tráfico, equipados e municiados a partir de países vizinhos aos quais nosso governo não tem sido capaz de exigir contrapartidas em acordos absurdamente favoráveis a eles, estados que são bases perfeitas para quadrilhas internacionais.
Felizmente nosso time da Economia Nacional pelo menos acertou na meta da credibilidade junto à banca internacional e agora, depois de três décadas de sufoco, o Brasil começa a ver a cor do dinheiro. Estamos, pois, em tempo de revisões de lógicas fiscais, talvez voltando a valorizar um ente estratégico à União, os estados. A capitalização das grandes unidades federadas é fundamental aos investimentos otimizados em educação, saneamento básico, transporte, segurança etc. Preocupa, em qualquer sentido, a absorção do dinheiro dos impostos em mais salários e postos de trabalho inúteis, dificilmente, contudo, os estados serão tão incompetentes quanto os municípios, mais facilmente ocultos da grande mídia e da vigilância mais do que necessária diante de comportamentos seculares de apropriação indébita do dinheiro dos impostos, nosso.
Concluindo, se para nossos descendentes queremos uma vida sadia, segura, confortável, é hora de um choque de realismo, boa vontade e disposição para ajustes institucionais estratégicos. A punição da omissão será a perda de vidas talvez mais do que amadas por todos, inclusive dos mais alienados, acomodados, covardes e omissos.

Cascaes
6.10.2009


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