O Dia do Professor

Os dias 14 e 15 de outubro fazem parte da história do professor brasileiro, pois em 14 de outubro de 1827 o nosso Imperador D. Pedro I baixou um Decreto Imperial que criou o Ensino Elementar no Brasil. Pelo decreto, "todas as cidades, vilas e lugarejos tivessem suas escolas de primeiras letras". Esse decreto falava de bastante coisa: descentralização do ensino, o salário dos professores, as matérias básicas que todos os alunos deveriam aprender e até como os professores deveriam ser contratados. A ideia, inovadora e revolucionária, teria sido ótima - caso tivesse sido cumprida (Wikipédia) e em 15 de outubro de 1963 o Decreto Federal 52.682 estabelecia o dia 15 de outubro como sendo o “Dia do Professor”.
Podemos, nesse dia tão cheio de significado, pensar no ensino em nosso país, lembrando, pessoalmente, que justamente em 1963 era normal atrasarem o pagamento de professores por meses e mais meses. Estudando em Minas Gerais, víamos estarrecidos a situação dessa classe de heróis e, no Instituto Eletrotécnico de Itajubá (IEI), descobríamos que o pesadelo ia até o terceiro grau.
Somos o país das “leis para inglês ver”, deveríamos dizer mais, somos uma nação que se satisfaz com fantasias. Talvez por isso os desfiles de carnaval sejam tão espetaculares...
Não existe melhor sintoma das deficiências do nosso ensino que a tragédia política, ainda capaz de eleger parlamentares de discurso fácil, custo elevadíssimo e pouquíssima eficácia, sem falar daqueles que aparecem acintosamente nas páginas policiais, via de regra salvos pelos seus pares. Mais ainda, a criminalidade assustadora, o império dos traficantes e a necessidade de esmolas oficiais para que o povo não se desespere apontam, com evidência cristalina, a falência do nosso sistema educacional. Nele vimos a multiplicação de turmas na mesma sala de aula, revezando-se em até três turnos onde deveríamos ter durante um dia inteiro nossas crianças e jovens estudando, lendo, praticando esporte, exercitando-se em laboratórios e ambientes de aprendizado e discussão cultural.
Podemos atribuir dificuldades ao excesso de filhos que as famílias brasileiras tinham e ainda criam em algumas regiões de nosso Brasil varonil, algo que diminui com o domínio de técnicas de planejamento familiar. Outro argumento possível é o tamanho continental de nosso país. Para tudo isso existe, agora, pelo menos, o Ensino a Distância e recursos para aprendizado a baixo custo. Nada, contudo, substituindo a necessidade de educar, de ensinar comportamentos, de se criar valores éticos e políticos, algo que só boas escolas podem fazer, sem luxo, mas com professores em condições de se dedicarem aos seus alunos. Isso dá ao mestre, até o segundo grau, pelo menos, uma importância inimaginável, decisiva à formação de uma nação que se pretende desenvolvida. O professor é fundamental, essencial à criança que precisa de atenção total e ao jovem, explodindo em hormônios, numa fase em que uma educação ética consistente, de boa qualidade, será decisiva ao futuro cidadão.
O Governo Federal pode alegar falta de recursos que, entretanto, não deixam de aparecer para sustentação de uma política monetária extorsiva, a favor do cassino internacional e da agiotagem nacional. Qualquer “um por cento” a menos nos juros estratosféricos brasileiros representam alguns bilhões de reais que o governo poderia aplicar na Educação. Os estados não raramente mostram cenários deploráveis de mau comportamento, para não dizer pior. Os municípios, muitos escondidos de diversas formas, são o patinho feio na distribuição do dinheiro dos impostos. Em todos os níveis sentimos que a Educação não é a prioridade maior...
Hoje é Dia do Professor, parabéns e saudades de professores e professoras que amamos, que nos fizeram adultos, que nos deram condições de escrever essas palavras.
Quem sabe, dentro de alguns anos, tenhamos mais de duzentos milhões de brasileiros escrevendo, aplaudindo, comemorando nos dias “15 de outubro” o advento de uma nova era, a de valorização do Ensino, da Educação, do Professor e da Professora que então todos saudarão com paixão, amor e respeito aos mestres que foram e serão nesse futuro melhor.
Agora podemos, é só ter mais cuidado nas próximas eleições.

Cascaes
15.10.2009

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