A necessidade de qualidade e segurança nos serviços essenciais

Grandes acidentes e as concessionárias
O apagão de 11 de novembro deste ano foi um enorme desastre e uma advertência aos nossos grandes líderes nacionais. Ele é simplesmente mais um evento assustador numa seqüência mórbida, entre os quais podemos citar o “apagão” dos aeroportos e a explosão do gasoduto em SC. Temos lógicas erradas que precisam ser corrigidas. Algo em nosso país precisa ser revisto para que nosso povo tenha mais segurança.
Tudo o que vimos mostra que concessionárias privadas e estatais registram falhas inaceitáveis, indicadoras de má gestão. Pior ainda, entidades criadas para controle e regulação não estão sendo eficazes.
O Brasil optou pela organização negocial, a opção mercantil, a seleção de concessionárias, prestadoras de serviços, fornecedores, projetistas, etc. pelo menor preço de exploração. E daí? O resultado é a economia nem sempre sensata e a aceitação de riscos eventualmente elevados.
Vemos sem parar o discurso a favor de tarifas mínimas. Naturalmente é simpático gastarmos menos com água, energia, transportes, telecomunicações e por aí afora. Obviamente acabamos tendo o que merecemos, serviços de baixo custo e qualidade questionável.
É importante a pressão pela redução de custos, mas a definição de padrões de qualidade e segurança também o são. Infelizmente aí os critérios se tornam mais complexos, matemáticos, talvez acima da compreensão da maioria da população e dos reguladores.
Diante da dificuldade do cidadão comum e até dos profissionais menos preparados em compreender e usar lógicas complexas voltamos ao critério mercantil, monetário, negocial. Nada melhor do que a aplicação de multas e a exigência de compensações financeiras diante de acidentes que, feitas as melhores perícias, mostrarem indicações fortes de incompetência e, talvez, omissão dos responsáveis pelos serviços públicos. Assim os inquéritos deveriam ser exigência automática, sem necessidade de teatralidade ou denúncia formal, sempre que as falhas ganhassem dimensão significativa.
O apagão de 11 de novembro mostra indícios de falhas graves. Talvez uma coleção de decisões administrativas e técnicas tenham criado o cenário em que um raio qualquer tenha dado início a uma sucessão catastrófica de eventos.
Felizmente as grandes instalações do Setor Elétrico possuem equipamentos de registro automático de atuações. Se não forem perdidos, existirão relatórios mostrando passo a passo o que aconteceu. Profissionais honestos, competentes, determinados e com acesso a essas informações poderão decifrar o enigma da escuridão que se abateu sobre grande parte do Brasil na noite fatídica do apagão. Com o relatório técnico concluído o trabalho passará ao Poder Judiciário, que deverá analisar pedidos de indenização e reforçar pressões a favor da boa gestão das concessionárias.
Nossos legisladores, por seu turno, devem formular leis que impeçam nomeações aleatórias, irresponsáveis. Precisamos de conselheiros, presidentes e diretores de concessionárias à altura de seus cargos. Gente bem formada profissionalmente e moralmente e em condições de comandar as concessionárias e órgãos de fiscalização e regulação com a qualidade devida. Está na hora de sentirmos eficácia e começarmos a ter tranqüilidade em relação aos serviços públicos. O Brasil retoma seu desenvolvimento, cresce e se torna mais e mais sensível às suas empresas concessionárias, muitas delas em condições de paralisar cidades, estados, indústrias, hospitais, etc. e de expor a nós todos a acidentes e constrangimentos inaceitáveis.
Assim, concluindo, nunca dependemos tanto dos Ministérios Públicos, dos PROCONS e principalmente do Poder Judiciário quanto agora. Que esse apagão seja o início de uma nova era de responsabilidade e competência, precisamos, chega de falhas absurdas, talvez criminosas.

Cascaes
13.11.2009

Comentários