Pensando no amor ao próximo

Da agressividade para a solidariedade

No século 19 as elites européias, assustadas com o crescimento das ideologias de esquerda, encontraram no culto ao individualismo em todas as suas formas as bases para a manutenção dos seus poderes e privilégios. O racismo, a xenofobia e as grandes guerras, sem falar no holocausto, aconteceram como efeito natural dessa lógica. Os estados, antes organizados por aceitação do poder divino de algumas famílias, passou a existir pela identidade lingüística, religiosa, racial, via de regra pela mistura dessas condições de semelhança. O povo deixou de ser plebe para virar massa de manobra, eventualmente democrática, de lideranças que construíram o mundo do século vinte. O imperialismo ganhou força naqueles tempos ávidos de matérias primas de carne e metais.
A Segunda Guerra Mundial revelou ao mundo a capacidade de destruição e de sentimentos terríveis em nações que deveriam ser exemplo de fraternidade e racionalidade. Incrivelmente vimos a selvageria atingir picos alarmantes. Graças à mídia do holocausto e a demonização dos “inimigos da democracia” a humanidade parou um pouco para pensar. A ONU foi criada e nela convenções e tratados procuraram inibir a violência.
Infelizmente a agressividade é um grande negócio. Os empresários da morte ganham muito dinheiro com todos os tipos de ódio; se alguém duvida é só prestar atenção à tônica de grande parte dos filmes holiudianos, onde os heróis passam o tempo desenvolvendo tramas e matando sem parar. O resultado não poderia ser outro, nos EUA, principal vítima de suas lógicas, um por cento da população está enjaulada.
Felizmente temos também os efeitos positivos de propostas de fraternidade, de amor ao próximo. No Brasil a Igreja Católica desenvolve um trabalho excepcional através de suas pastorais. Os espíritas, tendo Chico Xavier como exemplo máximo, praticam a caridade como forma de expressão religiosa. Os evangélicos trabalham com seus ministérios e inúmeras ONGs fazem muito, compensando fragilidades de nossa estrutura formal de assistência.
O Governo em todos os níveis está fazendo sua parte. Obviamente com o dinheiro do contribuinte agora é normal a exigência de creches, postos de saúde, farmácias populares etc. graças a dispositivos constitucionais que já se fazem sentir em diversas áreas. Saímos de cenários escravocratas tardios, temos ainda uma imensa proporção de brasileiros sem instrução, saúde e formação profissional, demandando cuidados privilegiados. Maravilhosamente o Brasil atinge um patamar de riqueza potencial que nos permite sonhar alto.
Temos problemas e com certeza o pior deles é a corrupção, o resto é consequência. A desonestidade de quem tem poder cria desperdícios monumentais, projetos inoportunos, fragilidades que se refletem na violência, na miséria.
Algo genial, contudo, cresce em eficácia. A internet veio para ficar assim como inúmeros aparelhos de imagem, som, de comunicação direta ou indireta. Assim os ladrões encastelados no Poder começam a balançar, com certeza assustados na continuidade de seus privilégios. Os portais e blogs furam qualquer censura, é só procurar. Se criarem barreiras por aí ainda teremos os DVDs, os pendrives, etc., ou seja, uma coleção de meios de transmissão de informações...
Maravilhosamente podemos construir um mundo melhor, mais amigo, feliz. Recentemente, vendo uma palestra da Dra. Suzan Andrews[i] em Curitiba, sentimos seu entusiasmo e a forma genial, extremamente competente como ela colocou a necessidade de pensarmos em FIB, Felicidade Interna Bruta. Essa norte americana super brasileira mostrou dados e fatos ilustrando a falência da sociedade de consumo, centrada na obsessão pelo poder material.
Talvez seja utopia acreditar em mudanças radicais, é confortador, entretanto, sentir que a sociedade ocidental volta a pensar na felicidade em si, sem radicalismos metafísicos ou imperiais.
Mais uma vez na FIEP, sob presidência extraordinária do Dr. Rodrigo Rocha Loures, participamos de um seminário/assembléia dedicado aos idosos. De novo uma palestrante maravilhosa, Dra. Jurilza Mendonça[ii], mostrou-nos a necessidade de fraternidade e os direitos e deveres de todos, inclusive do pessoal da terceira idade, que tem potenciais desperdiçados por efeito da lógica egoísta do alheamento sob a desculpa de que já fizeram tudo o que deviam realizar...
O desafio está colocado, nós podemos fazer muito, os caminhos estão delineados, agora só depende de nós demonstrarmos que o ser humano é um animal racional, é mesmo?

Cascaes
29.11.2009


[i] http://www.rts.org.br/entrevistas/entrevistas-2009/susan-andrews
[ii] http://idososbrasileiros.blogspot.com/

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