Cadeia neles

Cadeia da infelicidade
À medida que as eleições se aproximam vamos observando movimentações e negociações que arrepiam. Talvez o mais desagradável seja a impotência diante de antigos hábitos de ajuste de interesses, onde o que menos importa é o futuro da nação.
Convivendo com políticos é rotina vê-los anunciar “projetos de poder”, não seria mais lógico ouvirmos dessas pessoas “projetos de trabalho pelo Brasil”?
Na universalização do cinismo já não se esconde a vontade de conquistar posições em benefício de quadros (para não usar outras denominações) que se agrupam em torno de líderes midiáticos. O marketing substitui o conselho ideológico, as propostas saem de pesquisas de opinião para enfeitar programas e discursos e a equipe do dinheiro se encarrega de conquistar apoios que serão os verdadeiros comandantes do eleito.
Já trabalhamos na iniciativa privada e pública, via de regra em grandes empresas (muito grandes). Nelas ficávamos observando o desfile de interesses escusos diante dos chefes com malas de dinheiro (nacional ou estrangeiro). Áreas de lazer, e que lazer, eram construídas e existem para recepção de amigos de conveniência, tanto no processo político quanto em outros que as empresas demandem. Afinal, com a mania legiferante de nosso país logo todo brasileiro terá de andar com “Habeas Corpus Preventivo” no bolso e um bom cartão de crédito e dinheiro vivo para agüentar os achaques e pressões dos inúmeros órgãos de “fiscalização”. Jorge Orwell (Eric Arthur Blair) tinha razão?
O Brasil precisa retomar o bom senso, o equilíbrio, um espírito de nacionalismo sadio e a determinação de uma ética mínima, mas enérgica em torno do estado. A política é a arte da negociação, dos ajustes de interesses, assim é difícil simplesmente redigir um manual de escoteiro para seus profissionais. Tudo tem limites, contudo. Estamos chegando a níveis absurdos. Talvez até menores do que o descoberto no vergonhoso episódio do “Mensalão”, mas a repetição em outros níveis alerta os brasileiros para a necessidade de uma revisão comportamental e jurídica, institucional e moral.
Fica difícil acreditar no sucesso de esforços saneadores, afinal na América Latina a imoralidade está na moda, vemos dia a dia mais lideranças acima da lei e das lógicas mais razoáveis de convivência e democracia.
Podemos mudar, muito e depressa.
Sempre lembrando, quem financia as campanhas? Quem paga os marqueteiros, os escritórios políticos, os cabos eleitorais? O fenômeno da “terceirização” das fontes de recursos é tão evidente que até o partido da estrelinha vermelha já não coloca seus militantes nas ruas para vender “botons” e bandeirinhas, não precisa mais.
Querer mudar o comportamento de cento e trinta milhões de eleitores é um processo longo, demorado. Nosso povo mais humilde carece de meios estruturais para um crescimento acelerado e as atuais classes mais altas foram educadas em períodos de exceção, ou seja, não têm educação política. Moral e cívica era simplesmente uma cartilha lida com raiva em nossas escolas.
Quem financia as campanhas?
Devemos cobrar dos grandes grupos econômicos, por bem ou por mal, que parem de aliciar políticos, que renunciem a distribuir verbas para conquistar “empregados informais” no espaço político. É impressionante o servilismo de indivíduos eleitos com o apoio dessa gente, chegam a se perfilar quando o “Capo di tutti i cappi” telefona.
O Brasil pode mudar já, rapidamente, é só haver um acordo entre as grandes empresas para cessarem radicalmente o financiamento de campanhas políticas.
Essas empresas podem criar uma fundação de estudos políticos, escolas de formação de lideranças, educação cívica e de apoio ao povo comum no processo de compreensão do que é Democracia.
Recentemente vimos uma reportagem lamentando a falta de altruísmo de nossos grandes capitalistas. Nos EUA é rotina a doação de quantias fabulosas para universidades e fundações. Aqui notamos que o dinheiro é usado de outras formas, entre elas para a obtenção de favores na máquina e poderes institucionais.
Podemos mudar já.
Nossos grandes empresários podem se reunir em algum lugar paradisíaco do planeta e estabelecerem um pacto de moralidade e trabalho a favor do saneamento do Brasil. Unidos poderão se dar ao direito de pagar esquemas de vigilância, de auditagem, de controle do dinheiro do contribuinte. Com certeza uma dúzia de grandes e das maiores empresas privadas no Brasil, se quiserem, farão a diferença. Gradativamente o modelo que poderá ser construído com o apoio dos melhores causídicos, pedagogos, publicitários, sociólogos, engenheiros, urbanistas etc., afinal se reunidos poderão pagar os serviços desses profissionais.
Teremos eleições em 2010, ainda dá tempo para mudar, para se iniciar um processo de saneamento antes da campanha.
Estamos vivendo um cenário de “ou corre e o bicho pega ou fica e ele come”. Essa aparente impotência pode ser quebrada se os grandes empresários (e depois os outros) quiserem e estancarem o sangue da corrupção. O dinheiro que sai do contribuinte para pagar obras e serviços está fluindo das empresas para os caixinhas dos políticos e parando nas cuecas dos bandidos...
Essa cadeia da felicidade tem que ser amarga, transformando-se em “cadeia da infelicidade” para aqueles, corruptos e corruptores, que insistirem na desmoralização do nosso povo.
Cascaes
1.12.2009

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