Um excelente filme, um grande filósofo, Giordano Bruno

Giordano Bruno para não esquecer


Bertrand Russell disse em algum lugar de seu livro “Princípios de Reconstrução Social” o seguinte: “A certeza absoluta é por si só suficiente para impedir qualquer progresso mental naqueles que a possuem”. Uma frase diz tudo de milhares de anos de guerras, genocídios, racismo, fanatismos de toda espécie (até no futebol).

Um filme pode, em duas horas ou menos, mostrar dinamicamente, com fundo musical maravilhoso, usando cenários que foram o teatro das histórias o relato de pessoas que fizeram esforços sobre-humanos para empurrar a humanidade para níveis superiores lutando contra verdades intocáveis assumidas pelos poderosos e até pelas suas vítimas.

O filme “Giordano Bruno” de Carlo Ponti merece ser visto regularmente, repetidamente, minuciosamente. Isso agora é possível, pois existe em DVD, legendado (maravilha para quem não ouve direito e/ou não domina as línguas usadas) e pode ser comprado no Brasil em boas lojas dedicadas ao assunto. A vida desse filósofo que iniciou sua carreira na condição de frade em plena Itália é um exemplo do que significa querer pensar no meio de seres humanos que preferem acreditar, sem duvidar, nos poderosos de plantão. A história desenrola-se ao final do século dezesseis, terminando numa fogueira da Inquisição na Praça Dei Fiori em Roma, em 1600. Poderia ser hoje, bastaria mudar a forma de execução e o tipo de tribunal. Parece-nos que em muitos lugares desse planeta líderes carismáticos assumem poderes absolutos e impõem a seus povos suas verdades...

Hannah Arendt escreveu muito sobre o fenômeno do “Totalitarismo”, descreveu a trajetória de facínoras (Stalin e Hitler) e, de uma forma inteligente registrou um alerta inesquecível sobre as certezas brutais.

Bertrand Russel, Hannah Arendt e Giordano Bruno talvez se completem perfeitamente com as descobertas e ensinamentos de Freud e Jung, assim talvez compreendamos melhor as grandes multidões que têm merecido inúmeras reportagens com diversos sociólogos em bons programas televisivos, mas inacessíveis, infelizmente, ao público mais humilde.

A boa cultura tem preço e condições de acesso que não estão a serviço do povo mais pobre.

Cidadania, algo que o casal Pinsky procura explicar e historiar em seu livro “História da Cidadania” exige muito se o indivíduo quiser exercê-la com amplitude, mais ainda num mundo dogmatizado, padronizado, estiolado em modas e ideologias modernas e antigas.

O Giordano Bruno mostrado na pessoa de Gian Maria Volonté (um tremendo artista) pelas mãos de Carlo Ponti é um ser humano com todas as suas fraquezas e um cérebro privilegiado, mas, acima de tudo, muita coragem e determinação para ser coerente com o que descobre da vida e do Universo. Que personalidade rara!

Vivemos num período da história assustador. À medida que a Segunda Guerra Mundial vai ficando distante, nações inteiras começam a sentir sede de sangue, vinganças, paixões ou simples vontades suicidas. Que tipo de gente o povo desses países quer ser? É até interessante notar que aqueles que se matam são jovens, os velhos só provocam, ensinam barbaridades e se escondem sob as saias ou túnicas de suas mulheres, cercados de pelotões de guardas armados e treinados para se sacrificarem pelo grande chefe. Afinal eles são importantes demais para se exporem...

Muitos carecem de tempo para a leitura de grandes livros (em todos os seus sentidos). Um bom filme cobra atenção por apenas duas horas, ainda que passeie pelos nossos pensamentos pelo resto da nossa vida.

Vale a pena ver com atenção o filme “Giordano Bruno”, outros bons filmes com certeza existem, mas esse é de um filósofo cuja lembrança persiste muito além da “glória” de seus carrascos.

Cascaes

20.1.2010

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Comentários

  1. Na sua execução por heresia, Giordano Bruno transforma-se em um exemplo radical da força do pensamento humano (afirmando que a Bíblia deve ser seguida mais por seus ensinamentos morais que por sua Astronomia). Ao afrontar a teoria milenar ptolomaica do geocentrismo, apoiada pela Igreja na época, ele estava na verdade atacando uma posição que sustentava um poderoso establishment religioso da época.
    Bruno figura ao lado de Copérnico, Kleper e Galileu como um grandes transformadores da visão humana para o moderno pensamento ocidental.
    Morreu na fogueira!

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