Vamos pensar vendo filmes

Pensando nos filósofos e na liberdade


A vida é um aprendizado permanente. A questão maior é se aprendemos realmente algo real, válido, sensível à realidade.

Para termos uma idéia de nossa dimensão é só lembrar o que somos diante do Universo. Vivemos num planeta com 12.756 km de diâmetro e a altura média do ser humano é menor do 0,002 km. A Via Láctea, a galáxia em que a Terra existe circunstancialmente, tem uma largura de mais de 100.000 anos luz (um ano luz vale 9.460.536.207.068 km), ou seja, a luz gasta mais de 100 milênios para ir de um estremo ao outro. O que vemos da extremidade oposta saiu de lá quando o ser humano ainda era um animal predador, selvagem (mais civilizado do que os nazistas). O Universo, que tantos insistem ter um início, esquecendo a possibilidade de “renascer” ciclicamente, num processo de expansão e contração, ou combinação com outros “universos”, já revela para nós bilhões de galáxias. Se olharmos para dentro de nós, nós já tão pequenos, descobriremos o ácido desoxirribonucléico, o famoso DNA, com uma infinidade de moléculas que dizem o que fomos e que nossos descendentes terão na proporção da nossa participação genética. Algo tão fantástico que simplesmente ainda não sabemos explicar suas origens e possíveis conseqüências.

Nesse espaço monumental, galáctico e microscópico, temos a pretensão de explicar tudo e de sermos feitos à imagem e semelhança de algo que denominamos Deus. Pior ainda, as certezas criam ódios, violências e ditaduras.

Felizmente em alguns países já não somos hostilizados por duvidar, pelo menos em certos ambientes muito especiais.

Pensar na vida, no Universo, do que somos ou podemos ser é uma condição do que entendemos por filosofar, procurar a verdade. Estudar Filosofia pode ser interessante ou monótono, chega a ser um exercício de teimosia cultural quando nos obrigamos a conhecer em detalhes as obras dos clássicos. Nossos amantes da verdade escreveram inúmeros livros, alguns de extremo valor, ainda que distantes das ciências atuais e construídos para os padrões de comunicação da época.

Vale a pergunta: já leram o que os antigos escreveram?

Com certeza existem aqueles para quem tudo o que é mais velho do que a titia é histórico, de imenso valor. É chato, contudo, para a maioria dos seres humanos ler o que muitos escreveram há muito tempo, principalmente quando se meteram a explicar o Universo, a vida. Alguns foram tremendos gênios da Humanidade. Simplesmente careciam de informações suficientes para desenvolver suas teorias. Isso nos obriga a vê-los com tolerância, mas imaginando como, naquelas condições, foram tão competentes. Qualquer criança atual de 10 ou 15 anos sabe mais do que todos os grandes filósofos do passado se quiser e tiver acesso à internet ou a uma boa biblioteca convencional; alguns séculos passados, contudo, não existia nada que facilitasse qualquer estudo sério. Além das limitações técnicas, o mundo abundava de gente com certezas absolutas e poder para matar quem discordasse...

Conhecer o passado, por mais tedioso que seja, é importante para entendermos o tempo presente, passageiro, e imaginarmos hipóteses futurísticas. Uma maneira aprazível é ver filmes clássicos sobre nossos maiores filósofos ou de períodos mais antigos da história da Humanidade, de preferência obras cinematográficas conduzidas por bons produtores.

A possibilidade de se utilizar dispositivos de armazenagem digital e a reprodução em casa, sem necessidade de esperar a programação dos cinemas, é algo maravilhoso nesses tempos “século 21”. Existem inúmeros filmes de excelente padrão, pois há muitas décadas, quase um século, o cinema deixou de ser uma curiosidade para se transformar em fonte de diversão, educação e profissão para centenas de milhares de pessoas.

Recentemente tivemos a oportunidade de comprar e ver os filmes relacionados abaixo [ (1), (2), (3) e (4)]; que passeio na história do comportamento humano! Mais importante do que rever teses e teorias, foi sentir o ambiente em que pessoas importantíssimas para a história da Humanidade viveram. Graças à competência dos diretores desses filmes, em poucas horas mergulhamos em tempos passados, ainda extremamente atuais em muitos lugares desse planeta.

O noticiário internacional mostra, diariamente, situações incríveis de cerceamento à liberdade, censura, de dominação de mentes e corpos, em alguns lugares chegando-se à prática da tortura e pena de morte por crimes de opinião e comportamento social ofensivos aos defensores da moral e religião, donos do poder.

Precisamos trabalhar pela liberdade, pelo direito de ser diferente. Os filmes citados mostram situações incríveis assim como, no caso da história da Revolução Francesa (1), quanto alguns povos lutaram para serem respeitados por suas “elites”, ou melhor, para sermos iguais, fraternos e livres.



Cascaes

5.2.2010



1. Rossellini, Roberto. Sócrates. [esc.] Renzo Rossellini, Roberto Rossellini, Jean-Dominique de La Rochefoucauld Marcella Mariani.1971.

2. Montaldo, Giuliano. Giordano Bruno. [art.] Gian Maria Volonté. 1973.

3. Rosselini, Roberto. Descartes "Cartesius". 1974.

4. Renoir, Jean. A Marselhesa, Uma crônica da Revolução Francesa. 1937.

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