Dados e fatos sobre motoqueiros e suas vidas suicidas

Prezado Cascaes,

Li com interesse o seu artigo. Até porque tenho na família próxima dois acidentados com motos. Um deles, meu próprio filho (nada muito grave). O outro, meu sobrinho, que quebrou o fémur e a rótula junto da bacia, tendo ficado nove meses afastado do trabalho. E ele não era entregador de pizza.

Apenas um detalhe. No seu artigo você diz:

As informações são genéricas. De acordo com o Instituto Brasi­leiro de Segurança do Trânsito, o país teria algo como 18 milhões de motos, veículo que gera 10 mil mortes por ano e 500 mil feridos. Perto do volume de carros, as motocicletas não fazem um verão – são 10% da frota de veículos. Mas ao se levar em conta os estragos que provocam nos seus condutores, a situação se inverte: correspondem a 30% dos acidentes, a 13% das vítimas fatais.

Isto é um grande equívoco. Tivéssemos 18 mlhões de motocicletas e elas representassem 10% da frota de motorizados, teríamos 180 milhões de veículos. Isto está muito equivocado. A nossa frota hoje é pouco superior a 60 milhões de veículos e as motos representam de 15% a 20% desta frota. Em número ainda não consolidado, situa-se entre 9 e 12 milhões de veículos. E neste total estão presentes ônibus urbanos e interurbanos; caminhões; tratores etc. Portanto, comparativamente ao número de automóveis é possível dizer que a frota de motos está próxima de 20% do total de automóveis de passeios.
No entanto, o seu alerta é mais do que oportuno. Há excesso de motorização na mobilidade da nossa população. Uma boa parte da economia urbana gira ao redor dessa febre pela motorização. Não possuir um meio motorizado é entendido hoje por muitos ou como sinal de pobreza ou demência familiar. Este é o meu caso.

Isto não me abala, prefiro investir em vinhos e em espírito, comprando bons livros, viajando, presenteando amigos, com conversas e jantares. De que me vale um automóvel? Muito pouco quando tenho amigos, quando se tem ônibus leito-cama, apesar das estradas não serem nenhuma "auto-bahn", os aeroportos viverem lotados e os assentos dos aviões não serem confortáveis.

O uso das motos no espaço urbano e na periferia das grandes cidades, assim como a banalização do seu uso pelo interior brasileiro é preocupante. Seja porque nossas vias não são projetadas de forma adequada ao erro de condução do veículo, seja porque não existe manutenção municipal para retirada dos "borrachudos" no bordo das vias pela dilatação do pavimento flexível (CBUQ), em razão de deformações causadas pela combinação do peso dos veículos com as temperaturas elevadas em determinadas épocas e dias do ano. Ou ainda pelas fissuras geradas pela ação da água.

O fato é que nossas vias urbanas encontram-se um tanto deterioradas e a urgência dos "moto-boys" na busca por ganhos econômicos e sobrevivência vem aumentando ano após ano. E tal urgência vem acompanhada dos acidentes graves, das mortes e das lesões permanentes.

Os melhores e mais bem cuidados índices ainda são aqueles trabalhados pela cidade de São Paulo, que realiza acompanhamento dos acidentados até trinta dias após dada a entrada da vítima no hospital. E o índice paulistano é estarrecedor. Ou seja, morrem na capital paulista mais de três motoqueiros por dia. Isto é fácil de constatar quando somente no ano de 2009 foram mais de 1000 óbitos, segundo dados da Secretaria de Saúde local. E aqui quantos se foram? Não sei dizer.

O ponto é que as estatísticas não fazem parte nem da agenda, nem tampouco das preocupações dos nossos administradores municipais e dos vereadores. O problema é que entendem eles ser a coleta de dados um desperdício. O que deixam de entender é que a estatística visa a oferecer um quadro capaz de diagnosticar a extensão do problema. E quando ele começa a ser solucionado, permite observar a rapidez com a qual o mau consegue ser debelado. E se precisa de reforço ou outra ação corretiva. A estatística deve operar assim como um diagnóstico para a Medicina. Mas parece que aqui todos são sábios e têm as fórmulas mágicas e soluções mais mágicas ainda. A técnica passa longe dessas pessoas. O nosso grande problema é que as instituições não foram feitas para servir ao povo, mas para servir aos políticos e seus próprios credos.

Grande Abraço, amigo.

Miranda


Em 17 de maio de 2010 07:54, JCCascaes < jccascaes@onda.com.br  > escreveu:
http://mirantepelacidadania.blogspot.com/2010/05/motoqueiros-e-motoristas-em-curitiba.html
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