Motoqueiros e motoristas em Curitiba

A reportagem do Jornal Gazeta do Povo “Tragédias expressas”[i] dos jornalistas José Carlos Fernandes e Mariana Domakoski (16 de maio de 2010) traz de forma inteligente uma questão que demonstra a irracionalidade de um país, que pouco a pouco torna o automóvel mais cheio de dispositivos e técnicas de segurança a favor de seus pilotos e, ao mesmo tempo, favorece a utilização de motocicletas velozes e sem dispositivos de segurança adequados aos seus usuários, muito menos nas cidades.
Vale transcrever:
As informações são genéricas. De acordo com o Instituto Brasi­leiro de Segurança do Trânsito, o país teria algo como 18 milhões de motos, veículo que gera 10 mil mortes por ano e 500 mil feridos. Perto do volume de carros, as motocicletas não fazem um verão – são 10% da frota de veículos. Mas ao se levar em conta os estragos que provocam nos seus condutores, a situação se inverte: correspondem a 30% dos acidentes, a 13% das vítimas fatais.
Pesquisas do Denatran e do Ipea indicam que a chance de um acidente com moto levar a óbito é de 71%, dez vezes mais do que o automóvel. O mesmo se diga para a geração de sequelas. Ainda que sob suspeita de chutômetro, o consenso é que 70% dos sobreviventes venham a carregar por toda a vida os efeitos de sua queda. Apenas em 2008, gastou-se R$ 8 milhões para tratar das vítimas. O que não tem impedido o surgimento de um exército de mutilados.
Em Curitiba percebe-se pouco esforço para redução de acidentes, exceto, agora, um curso de pilotagem que, até cobrir um número razoável de motoqueiros, dará tempo para mais acidentes.
As ruas de nossa cidade são asfaltadas e mal iluminadas, de modo geral, e o resultado é a dificuldade de visualização de todos em relação ao que seria se, ao contrário de asfalto, tivéssemos concreto e o padrão de iluminação respeitasse normas internacionais de intensidade, conforto visual, qualidade em si.
Nossas motocicletas poderiam ser feitas com padrões técnicos de maior proteção a seu usuário em atividades profissionais. É só querer e nossas autoridades determinarem.
O reasfaltamento de ruas não poderia deixar buracos, valetas entre o meio fio e a pista, como está acontecendo na capital paranaense. Há dois ou três meses um motoqueiro quase perdeu o controle de sua moto ao ultrapassar por mim, entrando sem perceber nesse canal criado pela elevação da pista (superposição sem desbaste da camada anterior).
Ou seja, o problema é grave para todos. Ninguém quer ser o motorista de um automóvel ou de uma motocicleta envolvido em um acidente.
Em Curitiba dirige-se com medo disso acontecer por uma ultrapassagem inesperada ou algum maluco furando o sinal (não deve ser privilégio de curitibano, mas falamos daqui porque é aqui que vivemos). Em condições normais de trânsito saturado, como já é o nosso, naturalmente o motoqueiro não resiste e procura ultrapassar onde é possível, até sobre calçadas, como vimos acontecer em frente à ADFP no ano passado[ii].
Precisamos de atenção para esse problema que, com certeza, é um dos que mereceriam comissões técnicas do CREA, IEP, SENGE, IAB-PR, ABNT, etc., pois, como disseram os jornalistas, o massacre é enorme, matando ou aleijando milhares de jovens brasileiros. Não podemos esquecer também, como foi dito na reportagem citada, que muitos sentirão as seqüelas de seus acidentes mais tarde, e de forma extremamente dolorosa.
O que enfatizamos é a necessidade de retomarmos a boa Engenharia. É até estranho ver profissionais da área técnica manifestando-se prioritariamente em taxas internas de retorno, custos, tarifas e outras condições econômicas e financeiras, deixando de lado a segurança e o respeito a boas normas técnicas.
Quando o Brasil parece sair do fosso em que mergulhou ao final dos anos setenta, é hora de repensarmos estratégias de urbanização, de desenvolvimento, de vida em si.
Os entregadores de pizza estão pagando com a própria vida a omissão de engenheiros, arquitetos, urbanistas e legisladores.

Cascaes
16.5.2010
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[i] http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1003326&tit=Tragedias-expressas
[ii] http://conhecendoaadfp.blogspot.com/2009/03/fachada-da-adfp.html

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