Que Deus acredite em você

Uma pergunta que lembra os tempos da Inquisição é: você acredita em Deus?
Se a resposta for negative com certeza sentirá arrepios, rejeições e até esconjurações e rejeições. Nada, portanto, mais frequente, por medo ou crença real as pessoas responderem com convicção: eu acredito.
Ao longo dos tempos a humanidade erigiu-se em torno de grandes chefes e organizações a quem a submissão era inegociável. Ou aceita ou morre. Podemos imaginar o que seria um ser humano diante da Natureza de que desconhecia o básico. Sentia seus efeitos, vivia usufruindo o que pudesse colher ou matar, ocupar ou dominar. O cidadão valia pela terra que conquistasse, dependia da armadura que usasse, Sancho Pança que caminhasse ao lado do senhor.
Muitos pensadores, vestidos de diversas maneiras, pregaram uma forma diferente de ser. Quando não foram sacrificados, acabaram desprezados ou transformadores em líderes de inúmeras religiões ou seitas que talvez renegassem, se tivessem vivido tempo suficiente para ver o resultado de suas palavras.
Jesus Cristo é um exemplo clássico de um profeta, Deus, ser humano ou tudo isso cujas palavras se perderam de muitas maneiras. A violência foi a marca dos donos da verdade e o ser pobre que perambulou por suas terras e desertos acabou sendo motivo e usado como justificativa do fausto de cortes e templos incríveis.
Comemoramos a Páscoa, para variar é o evento que mais apaixona os cristãos, pois reafirma a esperança da ressurreição. O medo da morte, principalmente quando ela se aproxima por doenças, idade ou conflitos, valoriza esse momento que em algumas religiões tenta-se sublimar com outras explicações, comportamentos e rezas.
Seja qual for a crença, de modo geral a aceitação da existência de um ser superior etéreo, onipresente, onipotente e onisciente é fato comum. O medo, travestido de respeito, leva-nos a atos de adoração e aceitação tácita de seus representantes aqui na Terra.
Seria bom, contudo, que a pergunta fosse invertida. Você imagina que Deus acredita em você? Por quê? O que Ele espera que você faça? Qual é a sua missão?
Não queremos muito de animais irracionais, violentos, incapazes de fazer algo a favor da Natureza, dos seres vivos, do Universo, por menor que seja a contribuição. Ou talvez seja essa exatamente a função de todos, todos fazendo o que Deus lhes determinou.
Animais racionais ou irracionais, plantas, pedras, oceanos e até vulcões têm uma razão de ser?
E nós?
Com certeza a maioria dos adultos já ouviu a frase dita por algum pensador: você é responsável pela consciência e poder que tiver de fazer algo... Talvez essa frase seja a maior mensagem que o Criador tenha colocado naquilo que denominamos “consciência”, capacidade de sentir, entender e corrigir algo em nós, no meio ambiente, em todos.
Naturalmente não é simples. O que acreditamos ser nossa missão poderá ser o produto de ensinamentos perversos, mas é bom pensar bem lá no fundo de nossos pensamentos: não sentimos que devemos fazer algo e que a bondade, por exemplo, é uma forma de agir inequívoca?
A promessa de ressurreição é um ato de caridade com aqueles que vão morrer, não seria a Páscoa um presente divino para pensarmos que até nisso Deus pensou?
Feliz Páscoa a todos.
Que Deus acredite na gente e todos descubram e cumpram suas missões.

Cascaes
22.4.2011

Comentários

  1. Belíssimo artigo, meu amigo. Na verdade parece que a humanidade é politeísta, pois cada grupo considera que o "seu" Deus é melhor que o do outro. Os religiosos têm em comum uma característica pouco racional: consideram que Deus é um conceito unívoco, o mesmo para todo mundo. Se perguntássemos a quem fala "de que Deus você fala?" ou "que é Deus?", veríamos que há tantos deuses quanto crentes.
    De qualquer forma, AMÉM para seus votos.

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