A arte de pensar e sua dinâmica

A arte de pensar e sua dinâmica
Pensar, ponderar, meditar, avaliar e até sonhar (sinônimos ou complementares) são comportamentos que podem existir com padrões de qualidade extremamente diferentes. Se bem cultivados, definem boas personalidades.
Não é simples encontrar uma definição aceitável neste século 21 sobre o significado desta palavra: pensar. Em torno dela muitos dogmas e preconceitos firmaram posição. Definições com termos vagos também confundem mais do que ajudam. Um dicionário [Moderno Dicionário da Língua Portuguesa (pensar)] pode mostrar a diversidade de explicações e a partir daí temos de procurar na Filosofia, por exemplo, a história do pensamento, mais fácil de expor, mas sem dizer exatamente o que é “pensar”.
Para simplificar, usar a cabeça para entender algo é fundamental em qualquer atividade assim como nos momentos de meditação ou de simples prazer da forma mais íntima possível, sem qualquer interação ambiental.
Engenheiro tem suas manias. Para nós “pensar” é algo muito concreto. As emoções, algo paralelo, mas frequentemente em sentido contrário à lógica, pensar e sentir podem ser algo complexo.
Em profissões e funções de grande responsabilidade o controle emocional para o exercício de maior racionalidade (uso eficaz da capacidade de pensar), aplicação da inteligência de forma pragmática a partir do império da lógica é fundamental, ou seja, como acionistas, chefes e ambições determinam.
Nem sempre, contudo, o objeto é o indivíduo. Vimos um filme que, por exemplo, marcou a história da França (Henrique IV - O grande rei da França) mostrando que a principal qualidade do soberano pareceu-nos ser a capacidade de ser racional em situações extremamente difíceis, agindo a favor da França.
A História da Humanidade tem em seus capítulos uma série de pessoas notáveis, o que faz acreditar que se submeta eventualmente a líderes racionais, desenvolvidos ou simplesmente muito fortes.
Temos frequentemente dificuldades severas para usar o cérebro com liberdade. A liberdade ofende muita gente que se sente intocável. Os exemplos de incoerência são incríveis, principalmente quando grandes interesses industriais e comerciais além de políticos contrariam o conhecimento tácito da humanidade até seu elemento básico, o indivíduo.
No Brasil estamos observando algo simplesmente kafkiano, em que nós, moscas, voamos sem entender até onde vai a “brincadeira” extremamente cara e humilhante. O carnaval terminou e a fantasia de palhaços cai bem em todos nós quando vemos a FIFA, entre diversas barbaridades, exigindo a venda de cerveja entre torcedores, por sua vez seres fanáticos, provavelmente distantes da racionalidade mais saudável. Para garantir-se quer fóruns especiais, punições extraordinárias e prisões dedicadas a quem usar mal as garrafas de bebida alcoólica e o excitamento de um espetáculo de valor questionável. Venenos não faltarão.
A violência das drogas, das torcidas organizadas, fanáticos religiosos e políticos e o insucesso profissional demonstram a fragilidade do cérebro humano e seus acessórios, assim como, na glória, as fantasias do poder que temos quando usamos bem nossos recursos naturais, nossa ecologia pessoal.
Felizmente tivemos a oportunidade de conhecer pessoas fantásticas. Simplesmente observando como agiam e se expressavam talvez tenhamos aprendido muito, acima de tudo a raciocinar e avaliar adequadamente situações eventualmente decisivas (pelo menos é o que vaidosamente acreditamos).
No exercício da Engenharia saber pensar é fundamental ao sucesso profissional.
Em tempos de mestrado na UFSC, 1972, aprendemos Fortran IV. Que maravilha! Unindo isso ao estudo melhor de Métodos Numéricos, Álgebra Linear, Probabilidade e Estatística, Cálculo Matricial e... Sistemas de Potência tivemos alguns professores fantásticos. Um deles, Dr. Domingos Alves Boechat, a quem pedimos para tornar suas aulas menos complexas, ele nos derrubou dizendo simplesmente que era nossa obrigação chegar ao nível do curso e não o contrário. Resultado, mais tempo de estudo e menos praia...
Com o aprendizado de programação com uma linguagem de alto nível (Fortran à época) e num computador gigantesco e infinitésimo, se comparado aos nossos mais modernos, descobrimos que não adiantava querer enganar o computador, dizíamos que era burro, não nós!
Programando sentimos todo o peso do raciocínio exato, da organização do pensamento e a importância de escolher dados e equações.
A frustração veio quando, retornando, não nos deixaram usar o computador da Copel, degradava tempo de máquina.
Felizmente as maquininhas evoluíram exponencialmente e mesmo no Brasil, com tantas barreiras à inteligência externa, os PCs entraram e agora a moçada nem imagina como tudo era complicado naqueles tempos atavicamente atrasados.
Os computadores e as técnicas de processamento avançaram. Serviços inimagináveis agora são possíveis assim como a operação e a otimização de sistemas tão complexos e gigantescos quanto o Setor Elétrico Brasileiro.
A evolução dos computadores trouxe-nos a possibilidade de entender, de tabela, como funciona um cérebro humano. Os progressos da Medicina nessa área são sensacionais e tudo leva a crer, se a humanidade não se destruir antes, que teremos um desenvolvimento de inteligências espetacular dentro de poucas décadas.
O que é um computador para servir de analogia com o cérebro?
Um centro (pelo menos um) de distribuição de tarefas chamado processador central, memórias, programas residentes, sistema operacional, sensores, transdutores, unidades de I/O e capacidade de turbinamento de algumas funções formam um computador.
O cérebro humano admite processamento paralelo, ou seja, tem (parece-nos) diversos computadores dentro da caixa craniana, parte do volume de neurônios funcionando como arquivos, e dentro deles capacidade polidimensional (não é binário) e memória química, capacidade de se autoprogramar, rotinas que herdamos ou construímos, permitindo-nos automatizar a maior parte de nossas atividades diárias, componentes do corpo fazendo o papel de sensores e transdutores (olhos, ouvidos, nariz, pele, língua e paredes da boca) e unidades de I/O que nos permitem falar, gesticular, andar etc.
Mais ainda, o cérebro parece ter capacidade de processamento paralelo além de se autoprogramar...
E o turbinamento? Nossas glândulas produzem substâncias que estimulam o cérebro ou o inibem, drogas naturais produzidas pelo nosso corpo que, perigosamente, podem ser afetadas por outras substâncias externas estimulando excessivamente ou inibindo demais o raciocínio.
Pensar, usar tudo isso de forma objetiva, eficaz, que desafio!
Quando uma criança nasce é um computador com um sistema operacional primário mais alguns programas e um potencial incrível de desenvolvimento. Assim encontramos diversos tipos de inteligência entre adultos, graças ao que gênios da Música, Dança, Esportes, Engenharia, Medicina, Sociologia, História e por aí afora formam um belíssimo mosaico entre nós. Tudo isso também pode construir uma combinação terrível, da qual os impérios de ideologias e religiões são a demonstração do que pode acontecer.
Nada impede, também, que um povo não se destaque em nada, basta trazer consigo uma tradição apática e existir em ambientes antissinérgicos. As ditaduras mais primitivas são a prova eloquente do que significa castrar nações e excluir os mais capazes...
Precisamos, contudo, se queremos evoluir, aprender a pensar, agir, assumir riscos, lutar, superar desafios e não se transformar em parte de problemas maiores ou menores e, sim, descobrir como resolvê-los.
Falamos em computadores e educação. Existem muitas formas de desenvolvimento do cérebro. Poderíamos estar contando as maravilhas de jogos tão antigos quanto o Xadrez, onde a sorte é ser mais ágil e inteligente que o adversário. Aí mais uma experiência pessoal. Quando, fazendo cursinho em São Paulo (1963) um professor disse que sua matéria poderia ser substituída pelo Xadrez, com vantagens, estranhamos sua atitude. Adiante, já nas aulas de Engenharia sentimos como muitas matérias eram jogos de raciocínio semelhantes ao xadrez. Realmente é um jogo sensacional, que tem um defeito, pode apaixonar e fazer com que só vejamos peças e tabuleiros pela frente. Assim depois de dois meses jogando paramos para não perder as aulas de Engenharia, tudo o que o professor falava e mostrava virava um jogo de peões, cavalos, damas, torres, rainha e rei mudando de posição em tabuleiros imaginários.
No exercício profissional trabalhar em manutenção na área de testes e laboratório é outro massacre mental. Viramos médicos de máquinas que se não forem corrigidas poderão deixar cidades e indústrias sem energia elétrica.
Assim vamos, principalmente no exercício da Engenharia, aprendendo as leis da Natureza, percebendo que elas não são ludibriáveis e que se não forem respeitadas a casa cai.
E o ser humano?
Somos jogadores por natureza. Lendo e estudando “Análise Transacional” (Harris) vimos, simbolicamente, como usamos argumentos de diversas formas em função do nosso caráter e objetivo. A Psicologia clássica demonstrou coisas que Michel Foucault até exaltou em seus livros, afinal, quem são os loucos?
Recebemos um e-mail de um amigo lembrando nossa paixão pelo tema Confiabilidade. Que maravilha! A lembrança me emocionou. Obrigado Takao. O universo simplista é determinista e o real é uma possibilidade, uma probabilidade como diria Martin Heidegger em (Introdução à Filosofia). Voltei aos tempos de CEFET, curso de Análise de Problemas Operacionais, quando começava o curso dividindo o quadro negro pela metade e dizendo que na Engenharia existiam dois mundos, o determinista e o probabilista. Alguns anos antes, nas aulas do Professor Marzullo, Topografia (1964), entender com prazer o rudimentos da teoria de propagação de erros em contas e ensaios, que as calculadoras eletrônicas (hoje digitais, simplesmente) começaram a mostrar na década de setenta com um montão de algarismos sem significado algum, tem sido extremamente importante ao analisar informações e processos de decisão.
Qual é a margem de erro de nossos “especialistas” quando fazem afirmações com números cheios de dígitos em artigos e reportagens de valor discutível?
Aprender a pensar, não esquecer aulas aparentemente simplórias e de extrema importância, como, por exemplo, saber e calcular em 1965 que a velocidade da luz em meios diferentes é menor do que no vácuo, aulas do professor Fernando que entre essa e outras nos fizeram ver a Física com paixão.
Era uma época fascinante numa escola (EFEI, (A UNIFEI - histórico e atualidades)) que se dedicava exclusivamente à Engenharia. Como isso era funcional, o que se perdeu com as mudanças impostas pelo Governo federal e batalhadas por alguns da própria escola...
Vivendo aprendemos acertando e errando. É a maneira que nosso cérebro se desenvolve, quando não se desmancha. Essa condição maravilhosa pode nos levar às alturas ou acabar com a nossa vida em apenas um erro de avaliação. Assim é importantíssimo aprender a pensar, é uma ciência que deveria começar cedo.
Aplaudimos, por exemplo, a reintrodução do ensino da Filosofia em nossas escolas, o que preocupa é a forma com que será lecionada. A Humanidade coleciona uma quantidade enorme de pensadores que merecem ser conhecidos e analisados. Nada mais próximo da Engenharia que a Filosofia como a busca da verdade.
Assim ficamos preocupados com o império de mercados alucinantes e “especialistas” improvisados. Precisamos valorizar nosso povo, formar e educar para a boa Engenharia (por exemplo), para o uso adequado da inteligência e a submissão às leis da Natureza, até onde pudermos aprendê-las, entendê-las e aplicá-las.

Cascaes
16.2.2012
A UNIFEI - histórico e atualidades. (s.d.). Fonte: UNIFEI: http://www.unifei.edu.br/diversos/a-unifei
Harris, T. A. (s.d.). Eu estou OK, você está OK. artenova.
Heidegger, M. (2009). Introdução à Filosofia. (M. A. Casanova, Trad.) São Paulo: Editora WMF Martin Fontes Ltda.
Henrique IV - O grande rei da França. (s.d.). Fonte: Livros e Filmes Especiais: http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com/2012/02/henrique-iv-o-grande-rei-da-franca.html
Portuguesa, e. d. (s.d.). pensar. Acesso em 26 de 2 de 2012, disponível em Moderno Dicionário da Língua Portuguesa: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=pensar

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