trazer ao "baile" algumas lembranças


Miranda
Enviada em: quarta-feira, 18 de julho de 2012 19:56
Para: fomus@googlegroups.com
Assunto: Re: [FoMUS] ENC: Leitura obrigatória a quem se diz brasileiro

Amigo Cascaes,
Na mesma formatação do autor do artigo recomendado por você, mas longe de ser específico como ele em dados estatísticos, vou arranhar ou trazer ao "baile" algumas lembranças.Também fazer alguns comentários de caráter muito pessoal.
São apenas divagações sem comprovações numéricas neste "documento", mas que dizem bem da nossa indignação, da nossa estupefação diante do imobilismo da sociedade, somente desperta para a busca de direitos e benesses, numa repetição pueril do que os políticos realizam nos baixios das câmaras miúdas, antes de adentrar as plenárias ou salas maiores da grande Câmara.
Também, de forma modesta, apresento algumas saídas para tal crise de criatividade e mais ainda da inovação tecnológica, em "baixa" e "grande" escala. Vamos aos pontos enumerados.
1) Não faz mais de dez anos, uma concorrente transnacional da grande marca de sabão em pó mundial resolveu entrar no Brasil, mas não tendo como realizar isto de maneira direta lançou-se à compra da marca Febo, sabonetes e perfumes da Amazônia, mas especificamente de Belém do Pará, e ali adquiriu a maior parte das ações líder de vendas naquela porção do território nacional e, assim, conseguiu seu intento;
2) Alguns anos atrás a melhor marca nacional de chocolates, e também líder do mercado, a Empresa Chocolates Garoto, com sede no Espírito Santo, foi adquirida por empresa transnacional e tronou-se competidora também de marcas renomadas como Nestlé e Lacta;
3) A Maguari, também na última década do século passado, empresa líder no Nordeste quanto à venda de sorvetes e uma das mais populares em todo o País na venda de sucos, foi adquirida por outra empresa multinacional;
4) Com o regime de privatizações desenfreadas que se alastrou entre os homens de governo como um rastilho de pólvora, levaram de roldão nosso sistema de telefonia, líder mundial em termos de inovação tecnológica com a Embratel, onde surgiu pela primeira vez os "chips" com inovações comprovadas mundialmente e ninguém fala nisto. Devido a interesses "difusos" e a outros mais "claros", deu-se a debacle e todo o sistema, que era de fato apresentava algum grau de ineficiência em termos de comunicação nacional, foi leiloado a preço de banana. O pior é que hoje, mostrando ainda elevado grau de incompetência de atendimento, as companhias operadoras são campeãs de reclamações junto ao PROCON, e ainda pagamos um dos sistemas de telefonia mais caros do mundo, numa verdadeira espoliação do povo;
5) Já tivemos as marcas de cerveja mais renomadas do mundo. Mas recentemente começou uma verdadeira troca de mãos das cervejarias menores para as médias e destas para as mãos de empresas estrangeiras aportadas aqui neste paraíso de calor e de consumo. Assim, a região de Blumenau assiste a venda de suas cervejarias artesanais, como a Eisenbahn para a Schincariol, e esta recentemente vendida para empresa transnacional;
6) Um caso emblemático aconteceu com um amigo meu, no município de Pomerode. Ele tinha uma fábrica de coroa de bicicleta, produzindo cerca de 600 mil coroas/mês. Deixou de patentear uma coroa única, desenvolvida nas oficinas de sua empresa, onde uma só coroa tinha três bitolas diferentes, formando assim, três coroas em uma só. Alguns meses depois, viu a sua inovação ser patenteada nos EUA por outra empresa que havia comprado dele uma partida de coroas para a bicicleta. Depois de três anos que ele patrocinou minha empresa na elaboração de projetos para a sua cidade, resolveu fechar a fábrica e desempregar cerca de 80 pessoas de sua indústria porque não conseguia produzir uma coroa de bicicleta a um valor inferior a R$ 2,18 a unidade, considerando o preço do aço que recebia, além de outros insumos e os custos de produção com empregados, energia etc. Somando-se os impostos, o seu preço final para venda não conseguia ser inferior a R$ 3,60. E considerando os custos de transportes, de lucro dos revendedores e outros custos embutidos, a mercadoria chegava ao mercado ao preço de R$ 4,80. Ocorre que os chineses estavam colocando coroas no Brasil ao preço final de R$ 3,20. Conclusão desta longa história: virou importador de coroas da China;
7) Cito ainda um último exemplo, das rodovias nacionais que tiveram de se valer de empresas transnacionais para suas explorações. O pior é que os investimentos para suas melhorias foram realizados antes com recursos nacionais. Ou seja, o governo arrumou a casa para depois alugar o imóvel. Nada mau se isto fosse apenas um incentivo não somente as concessionárias, como exemplo a ser continuado em seus contratos. Nada disto, muitas delas aumentaram suas tarifas muito antes de realizar melhorias para seus negócios. E neste mister, pior ainda ocorreu com o sistema ferroviário, entregue a uma única companhia, quando, por exemplo, somente na Inglaterra, que tem muito menos território e extensão ferroviária do que o Brasil, o serviço está nas mãos de pelo menos oito empresas ferroviárias com operação nacional, afora outras menores operando em nível local/sub-regional.
A pobre inovação tecnológica brasileira.
8) O Brasil está construindo ou reformando dezesseis estádios de futebol. Não vimos, talvez nem venhamos a assistir, nada inovador em termos de infraestrutura especial para as coberturas, para o controle da qualidade dos gramados, ou da insolação ou proteção contra as intempéries nestas praças esportivas. E mais. Nada é previsto como, por exemplo, placas solares capazes de captar destes verdadeiros dinossauros da Engenharia, energia solar para e produzir energia por longos períodos do ano, abastecendo os bairros das cidades onde estão sendo instalados. Não acredito que isto tenha sido previsto. Acredito sim, que continuamos persistindo na técnica do concreto, que tão bem dominamos no final dos anos 50 e que com ela atravessamos todo este tempo, mas que se demonstra obsoleta em se tratando de estruturas para espaços com mobilidade em função de variáveis climáticas e tipologias de eventos;
9) A indústria do automóvel é um caso recorrente em se tratando de obtenção de subsídios governamentais. No espaço de década e meia o Brasil passou a ser o quintal do mundo. Aqui aportaram mais de duas dúzias de empresas, de todos os continentes, a exceção da África, em busca do Eldorado mercado e dos subsídios governamentais. Atravessaram a crise do final do Século XX incólumes, exportando o que produziam aqui; com aço subsidiado; com impostos subsidiados; mão de obra com salários subaviltados; e incentivos de toda a natureza, inclusive na locação das suas plantas industriais. E quanto a inovações, o que fizeram aqui? Muito pouco. Tudo provêm de fora. Nenhuma pesquisa de ponta a indústria automobilística trouxe para o interior das universidades ou delas demandaram. Talvez a exceção seja mesmo a Volvo e a Scania com os ônibus bi-articulados e seus motores horizontais. Quanto a novos motores e sistemas, acoplados à indústria automotiva, muito pouco ou nada foi desenvolvido;
10) Nossos registros de patentes e de inovações continuam muito abaixo de muitos países. O número de artigos técnicos produzidos por nossas universidades ainda é muitas vezes inferior a de países como Coréia do Sul, Austrália e outros tigres asiáticos, sem contar a China. Não é à toa que ela cresça duas ou três vezes mais do que nós;
11) Todos sabemos que nosso mercado é fantástico, em se tratando da inclusão de novos atores na economia de consumo. No entanto, pouco se avança em termos de pesquisas para saber efetivamente o que o povo mais gostaria de receber e de consumir. Quais são suas demandas mais prementes;
12) A nossa demanda por unidades habitacionais e por habitações de qualidade ainda representa um enorme gargalo em nosso bem estar, representando caos generalizado por nossos grandes centros urbanos, através da favelização crescente dos espaços, com todas suas consequências, como aumento da criminalidade e diminuição da qualidade de vida com esgotos a céu aberto, ausência de coleta de lixo etc. A qualidade das habitações, quando são oferecidas, visam muito mais a concessão de lucros imobiliários e aos empreiteiros do que a satisfação das famílias consumidoras. É ineficiente em seu todo o que é produzido em termos de inovação tecnológica para residências de baixa e média renda em todo o País.
Diante de tudo isto há uma constatação inequívoca: nosso ensino é deficitário em atendimento e em qualidade ─ do pré-escolar aos níveis universitários. Nossos professores estão mais preocupados em obter bons salários, em realizar bons "papers", em participar de congressos internacionais, também em se preparar para a aposentadoria. A formação dos alunos não tem remuneração suficiente, com bolsas e estímulos à produção de pesquisas, e de documentos, que mude o quadro da realidade próxima e distante em todo o território nacional. Por isto, acredito que para produzir mudanças será necessário, em primeiro lugar, reavaliarmos a educação brasileira.
Muito mais teríamos e muitos teriam mais a dizer sobre as mazelas e as potencialidades do nosso País, mas este texto já se arrasta longo e poucos têm paciência para ler tantas palavras de um único autor.
Abraço a você e a todos que acompanharam este longo desabafo até o final.
Antonio Miranda

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