NÚCLEOS E GRUPOS DE ESTUDOS DE GÊNERO NAS UNIVERSIDADES COMO INTERFACES EM MUDANÇAS SOCIAIS E POLÍTICAS







XV ENCONTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO NORTE E
NORDESTE e PRÉ-ALAS BRASIL

4 a 7 de setembro de 2012, UFPI, Terezina, PI

Grupo de Trabalho 06: GÊNERO, POLÍTICA, FEMINISMOS e
DESENVOLVIMENTO



Título: NÚCLEOS E GRUPOS DE ESTUDOS DE GÊNERO NAS
UNIVERSIDADES COMO INTERFACES EM MUDANÇAS SOCIAIS
E POLÍTICAS



Autora: TÂNIA ROSA FERREIRA CASCAES

UTFPR- GETEC



NÚCLEOS E GRUPOS DE ESTUDOS DE GÊNERO NAS UNIVERSIDADES COMO
           INTERFACES EM MUDANÇAS SOCIAIS E POLÍTICAS

                                 Tânia Rosa Ferreira Cascaes [1]
RESUMO

Esta comunicação visa demonstrar uma proposta de projeto com o tema acima referenciado e alguns resultados parciais por ela já obtidos, qual seja o de investigar o estado da arte dos grupos de estudos de gênero, ciência e tecnologia nas universidades e sua importância para o surgimento da abordagem deste objeto de estudo junto à sociedade, não só como discurso da mídia, mas como proposta de reconfigurar e articular mudanças de paradigmas. Atualmente, nas discussões das áreas específicas de Gênero já se opta pelos debates que perpassam as dicotomias das relações: "masculino x feminino" para reconhecer o espaço conquistado pelas mulheres na esfera do mundo do trabalho e da superação dos limites na produção do conhecimento científico buscando compartilhar com a sociedade as reflexões e produções direcionadas pelos objetivos dos estudos que demonstraremos nesta proposição.
 Palavras-chave: núcleos e grupos de gênero; ciência; tecnologia.

  
1     INTRODUÇÃO

O estudo que apresento a seguir é a construção de um projeto de pesquisa, cuja idéia principal nasceu de uma constatação das mudanças sociais que estão ocorrendo com uma velocidade intensa no tecido social vigente em relação aos preconceitos de gênero, da diversidade sexual e da homofobia que emergem em nossa sociedade, originados pelas dificuldades de abordagens destes assuntos tanto no cotidiano do senso comum quanto na mídia em geral, no âmbito familiar e na escola, fruto de preconceitos milenares que no decorrer da história das relações humanas encontra suas explicações.
 Na universidade, com o surgimento da Sociedade da Informação, emergem indagações que são as molas mestras para as pesquisas que o ambiente acadêmico tem como objeto e trabalha na atualidade através de Grupos e Núcleos dos mais variados assuntos que a coletividade de um ambiente universitário, principalmente em suas pós -graduações têm contemplado o corpo docente.  No Grupo de Estudos e Pesquisa em Relações de Gênero e Tecnologia, (GETEC) pude constatar como a existência de Grupos e Núcleos de estudos de gênero podem colaborar na problematização e sensibilização das questões de gênero e promover mudanças sociais colaborando na conscientização e posterior eliminação dos preconceitos de gênero com trabalhos de sensibilização dentro da própria universidade bem como através da oferta de cursos de extensão universitária que tivemos a oportunidade de levar aos docentes do curso fundamental em quatro edições destas  referidas extensões.
A partir desta rica experiência percebi a importância em proporcionar um conhecimento aprofundado destes grupos e núcleos que se estabelecem nas universidades como agentes transformadores e também analisar os desdobramentos que eles podem exercer tanto na academia quanto na militância das organizações dedicadas a este assunto cada vez mais aparentes colocados na mídia dos periódicos dedicados ao assunto.
Pretende-se, com esta pesquisa, investigar os núcleos e os grupos de estudo em relações de gênero em atividade nas Universidades Brasileiras onde a formação temporal e espacial dos mesmos carece de um trabalho de pesquisa direcionado. Na atividade acadêmica, dentre os núcleos e grupos de gênero atuantes, não encontramos um projeto específico sobre esses grupos e suas interrelações. Igualmente, esta proposta permitiria aprofundamentos teóricos num campo cujo percurso foi iniciado pela proponente por ocasião do ingresso no Grupo de Estudos e Relações de Gênero e Tecnologia em 2006 – GETEC, pertencente ao Programa de Pós Graduação em Tecnologia- PPGTE, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR.

1.1  A PROPONENTE
 À despeito dos preconceitos de gênero que tenho a oportunidade de constatar ainda na atualidade, nasci e cresci em ambiente onde mulheres desempenhavam papéis destacados na esfera pública e quase sempre eram apontados como exceções pela questão meramente biológica, os quais eram significativos na sociedade da época não tão remota. Em minha trajetória posterior de vida pude observar que um longo caminho de ruptura de preconceitos e lutas teve que ser realizado para chegarmos até conquistas que hoje consideramos naturais. Essas constatações básicas despertaram-me significativo interesse pelo trabalho que encontrei em desenvolvimento na UTFPR pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Relações de Gênero e Tecnologia - GETEC.
No GETEC, enfatizam-se os estudos e projetos sobre as razões da não inclusão da mulher como sujeito social atuante numa sociedade, que ainda privilegia as diferenças entre estes sujeitos com papéis devidamente dicotomizados entre masculino e feminino, por uma série de razões históricas com valência negativa para as mulheres, em particular na ciência e na tecnologia, entre outras várias questões relativas aos preconceitos que serão contabilizadas e enumeradas no projeto a seguir.
Essa visão levou-me à uma autocrítica de minha dissertação de Mestrado “O Instituto de Pesquisa Para o Desenvolvimento - LACTEC - na Gênese do Processo Tecnológico Paranaense: uma contribuição para a História da Técnica e da Tecnologia”, onde muito me instigaram as conclusões deste meu estudo de caso que não contemplava em nenhum momento as questões de gênero, tais como a ínfima participação de pesquisadoras mulheres na criação e gerência dos Centros de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) no estado do Paraná e também no seu quadro funcional, partindo daí as instigações que movem um projeto desta natureza.

1.2  SOBRE O TEMA

O termo Gênero surgiu na busca por uma área do conhecimento que contemplasse toda a diversidade de campos de estudos em que se vislumbrasse e melhor se adequasse à linguagem acadêmica destes estudos sobre as mulheres e suas relações na sociedade[2].
Nesse grupo, opta-se pelas discussões que perpassam as dicotomias nas relações: “masculino x feminino” para adentrar nas esferas do mundo do trabalho e da sociedade em geral, donde emergem, ainda neste terceiro milênio, preconceitos advindos da trajetória de uma civilização de imposições androcêntricas e que se aprofundam buscando compartilhar com a sociedade as suas reflexões e produções direcionadas pelos  objetivos dos estudos que demonstraremos nesta proposição.
Os estudos de gênero se iniciaram na Academia, na década de oitenta do século passado, há quase trinta anos, portanto. Percebe-se que têm sido ampliados enormemente os focos de interesse nas questões de gênero e atualmente percebe-se também uma exacerbação dessas preocupações, não só das mulheres em si, mas de toda a sociedade pela consciência que a era da informação e da globalização traz em seu bojo.
Postas essas constatações é com enorme interesse que se vê atualmente a criação e propagação desses núcleos e grupos, alvo de nossa investigação.
Pretende-se iniciar este estudo com um mapeamento da gênese dos núcleos e grupos dedicados a questões de Gênero. Nas Universidades essa trajetória foi iniciada através de Fanny Tabak, pesquisadora e mentora desses grupos institucionalizados, fundadora do primeiro Núcleo Acadêmico de Estudos sobre a Mulher - NEM, nos anos 80, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Esse núcleo conseguiria despertar o interesse no meio acadêmico pelos estudos relacionados à mulher, principalmente na Ciência e na Tecnologia, criados também junto a universidades federais como o da Bahia,(NEIM) que está completando 25 anos.
Tabak aponta mudanças positivas para as mulheres cientistas brasileiras e prevê um futuro melhor advindo de uma educação feminina direcionada para a ciência, através de estudos de gênero, onde desmistifica-se as “profissões mais adequadas para mulheres”[3].
Nos campos de gênero, ciência e tecnologia ainda percebem-se imensas vertentes de preconceito, onde grupos e núcleos direcionados com tal objetivo podem produzir as mais variadas formas de trabalho intelectual, privilegiando as abordagens advindas de olhares de uma sociedade androcêntrica e marcada pelos preconceitos nas relações sociais do cotidiano.
Vale aqui ressaltar dentro desta linha de pensamento o que Londa Shienbinger, sugere em seu livro O feminismo mudou a ciência? (...) que quando as mulheres ingressam na ciência elas podem trazer consigo valores e prioridades distintivos e que isto poderá acrescentar novas maneiras de se fazer e concebê-la, pois centenas de anos de exclusão das mulheres vai inegavelmente estabelecer mudanças estruturais na cultura, métodos e conteúdos da mesma[4].
Na atual sociedade, o acesso à informação permeia todas as esferas sociais e permite discussões em inúmeras instâncias, como na Academia, na mídia, no ambiente escolar, na esfera laboral, nas comunidades e seus entornos. Nesse contexto cabem questionamentos sobre as funções de um núcleo e de um grupo de Gênero, sua importância, suas teorias e seus objetivos, desde a criação do primeiro grupo com esta finalidade até os grupos nos dias atuais. Os avanços tecnológicos propiciam variadas intercomunicações, porém, é sugestivo, que além de informações, as poucas existentes decorrentes dos encontros intergrupais não estão sendo sistematizadas e disponíveis para uma possível e rica troca de experiências para articulações possíveis. Assim sendo cabem questionamentos com os seguintes teores: Como se articulam esses grupos em nosso território tão vasto e com influências interculturais marcantes? Em que medida essas diferenças geográficas e culturais influenciam na escolha dos objetivos para a criação de grupos de gênero?
Dessa forma direcionamos este projeto buscando responder estas e outras questões instigantes que motivam uma estudiosa da área de gênero, e apresentamos a seguir uma sugestão de itens que retroalimentarão este estudo.


2  PROBLEMA DE PESQUISA:
   
Quais são as universidades brasileiras que possuem Núcleos e Grupos de Estudos de Gênero e quais as temáticas que lhes são recorrentes? Quando se instalaram e quais foram as principais motivações, problemáticas e objetivos que levaram às suas criações? Como esses Grupos e Núcleos de Gênero, articulados ou não, poderão contribuir para uma maior eqüidade de gênero sendo privilegiados pelos estudos na área da Ciência e da Tecnologia?

2.1  QUESTÕES NORTEADORAS

·          A partir de que foco de discussão houve o surgimento dos primeiros grupos de discussão das relações de gênero nas universidades brasileiras?
·          Quais foram os principais clamores da sociedade à época em que foram criados e que contribuíram para suprir esta necessidade?
·          Quais os enfoques dados aos Núcleos e Grupos de Gênero e em que eles contribuirão para mudanças sociais?
·          Quais as/os principais autoras/es discutidos?
·          Quais as correntes teóricas privilegiadas por estes grupos?
·          Quais as principais contribuições que um núcleo ou grupo de estudos de gênero oferece ao ambiente acadêmico?
·          Em uma sociedade tecnológica que permite utilização de artefatos de comunicação full time, on line, e mediante networks, como os grupos de gênero se valem dessas tecnologias?
·           Em que medida os núcleos e grupos, sendo predominantemente compostos por mulheres, influencia ou não o uso das inovações tecnológicas como interfaces?
·          Como se dá a intercomunicação entre esses grupos na sociedade da informação? E se não se dá, quais as razões desse isolamento?
·         A ascensão da mulher no mercado de trabalho e sua contribuição crescente no orçamento familiar influíram no interesse por estas questões?
·         A sociedade da informação e a globalização criaram um interesse maior nos assuntos da posição hegemônica androcêntrica ou essas questões sempre despertaram interesse nas relações humanas?
·         As publicações acadêmicas expressam o pensamento dos núcleos e grupos de gênero e em que medida sugestionam mudanças efetivas no universo das conquistas femininas?
·         Em que medida os núcleos e grupos de estudos de gênero contribuem para a discussão ou fomento da participação feminina na área cientifica e tecnológica?


3  JUSTIFICATIVA

No século 20 as questões relativas aos direitos humanos assumiram um papel preponderante nas discussões e são fundamentais na pauta das conquistas relativas aos direitos políticos e civis das e dos cidadãos como um todo.
Nos últimos 30 anos a situação das mulheres brasileiras na sociedade experimentou intensas transformações além do notável aumento da sua escolaridade, constatadas em pesquisas atuais. Houve também sua inserção ininterrupta e crescente no mundo do trabalho, a opção consciente e possível do planejamento familiar, a ruptura das questões morais mais tradicionais, adicionando-se a isto um novo modelo familiar que se desenhou. Esses são estudos sobejamente conhecidos na área e se constituem em nossas referências, cujos aportes serviram de base para esta proposta os quais são apresentados mais especificamente na elaboração do nosso referencial teórico.
Considera-se que, partindo do contexto da ciência e da tecnologia, as conquistas emancipatórias se intercomplementam servindo de base para o entrecruzamento dos outros segmentos, que deverão ser contemplados pelo interesse maior no sentido de alcançar uma eqüidade de gênero, pois a ciência e a tecnologia contêm as bases capazes de resgatar significativamente o feminino, pois com a dimensão privilegiada do conhecimento, no nosso entender, ela obterá o ponto de partida que trará o resgate das outras minorias femininas para esta emancipação pretendida através de uma multidisciplinaridade educacional.
No Brasil, face à proporção continental de seu território, e na divisão entre o público e o privado, que sempre orientou a invisibilidade da mulher mantendo-a no âmbito do privado, criaram-se preconceitos e tabus que se perpetuam nas relações sociais. Para Hannah Arendt[5]  o termo “privado”, aplicado na antiga Grécia, significava em seu sentido lato, privar alguém de algo. Tem origem no termo privação e significa que todos os indivíduos que pretendem viver uma vida essencialmente privada, devem ser destituídos de coisas essenciais à vida. Ela afirma ainda que na vida moderna o sentido de privado se tornou um fenômeno onde se manifesta a solidão dos indivíduos, e que quando se refere à mulher na divisão de público e privado o entendimento é que a mulher deveria ficar privada das relações humanas e seus desdobramentos.
A universidade, espaço dedicado aos estudos acadêmicos, tem contribuído com especial atenção em relação às mudanças e avanços nas questões de gênero, através de grupos específicos criados para tal fim. A prática docente da extensão universitária, utilizada por alguns núcleos e grupos de gênero, nos quais o GETEC se inclui, direciona suas produções acadêmicas e de pesquisas para a sensibilização e problematização dos temas relacionados aos preconceitos, diversidades, homofobias e violência doméstica em ambiente escolar desde o ensino fundamental até os cursos de formação, os quais têm sido a semente que tem contribuído com reflexões colocando a escola como agente de mudanças[6].
Entendendo a escola como uma ponte entre os indivíduos e a coletividade, esta se torna este importante agente de mudanças ao promover um maior esclarecimento sobre o sentido desta diversidade, assim como faz surgir novas práticas como instrumentos efetivos para a construção da cidadania e da justiça social. Na certeza de que todos esses tipos de preconceitos exercem forte influência no comportamento tradicional das relações sociais o MEC através do SECAD (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade), instituiu programas de cursos para docentes em todos os níveis e que permitiram a implementação dos mesmos pelo GETEC, direcionado aos profissionais da educação e que em suas 4 edições (produzidas pelo Getec) já envolveram em reflexões nestes cursos mais de 500 profissionais da educação, ajudando a esclarecer práticas culturais extremamente ligadas ao preconceito em todas as esferas, e também a elucidar as referências androcêntricas de nossa sociedade.[7]
Inicialmente, era fato instigante para nós, a constatação da falta de diálogo entre os núcleos e grupos de gênero brasileiros nos Encontros e Congressos tanto nacionais quanto internacionais. Como pesquisadora do GETEC - Grupo de Estudos de Relações de Gênero e Tecnologia - desde 2006 via com bastante entusiasmo a oportunidade de obter respostas através de investigações acadêmicas, procurando transformar este desejo individual em um trabalho que pudesse contribuir para avanços nesta área do conhecimento.
Os vários grupos e núcleos de estudo de gênero, pela observação do senso comum, com todos os recortes e vieses que podem conter, parecem conceituá-los de uma forma mais ou menos uniforme quando busca estabelecer a distinção entre sexo biológico e construção cultural do masculino e do feminino, quase sempre percebidos de forma relacional, inseridos num determinado contexto e permeados por relações de poder. (Carvalho, 2009) Nesse contexto, tem sido apontado que na ciência e na tecnologia a mulher tem participação excludente, quanto à sua inserção e reconhecimento[8].
Consideramos pertinente investigar a existência dos Grupos e Núcleos de Gênero, que parecem estar isolados nas pós-graduações, e a falta de interação com os cursos, bem como as extensas teorizações apresentadas nos Congressos e Seminários sem a colocação de uma sugestão de práxis e ainda, as ilhas teóricas sem visibilidade em avanços na compreensão do gênero como construção social, capaz de modificar relações patriarcais, onde cientistas mulheres lutam por maior simetria e justiça de gênero[9].
Neste cenário justifica-se o estudo com o intuito de contextualizar os Núcleos e Grupos de Gênero, apresentar seu mapeamento, bem como investigar em que medida suas relações, sua constituição em abordagens específicas, a relevância social dos mesmos e em que medida esses grupos têm sido relevantes para a problematização e sensibilização sobre as relações de gênero assimétricas e tradicionais, especialmente no campo da ciência e da tecnologia.
Conhecer, mapear e estudar os grupos de pesquisa, suas relações interculturais em relações de gênero trará, além do conhecimento e da troca riquíssima de informações, visibilidade sobre os mesmos, apontando dentro deste recorte o saber cientifico e tecnológico, compartilhado como interface para um mundo mais justo e solidário.


4  OBJETIVOS
4.1  Objetivo Geral

Identificar e analisar os grupos e núcleos de estudo em relações de gênero existentes nas universidades brasileiras, seus diversos temas, recortes e vieses, diferenças culturais percebidas mediante seus programas, relacionado às possibilidades de maior eqüidade de gênero em ciência e tecnologia.
Investigar a possibilidade do estabelecimento de parcerias e redes como networks,contribuindo para maior interação na atual sociedade da informação, onde a tecnologia contribui sensivelmente para visibilizar e combater formas de preconceito das minorias sociológicas em ambiente glocal.[10]

4.2  Objetivos Específicos

·          Levantar dados específicos das atuações dos Grupos de Gênero através de metodologia específica;
·          Identificar e visibilizar objetivos e teorias através de cruzamento de dados;
·          Destacar a relevância desses grupos na sensibilização contra os preconceitos e sua interferência nas mudanças sociais;
·          Destacar a construção identitária da mulher cientista e suas principais dificuldades para a inclusão e desenvolvimento feminino em ciência e tecnologia.


5 HIPÓTESES

Núcleos e Grupos de Gênero são encastelados nas pós-graduações, isolados das graduações e sem diálogos com a sociedade.
Os recursos tecnológicos viabilizam o diálogo, mas entre os grupos a tecnologia é usada apenas como ferramenta para pesquisas específicas sem veicular seu entrecruzamento, pulverizando possibilidades de reflexão conjunta, que possibilitaria uma permuta imprescindível de informações neste recorte, incorrendo numa maior visibilidade para levar à problemática das relações de gênero.
Os Grupos e Núcleos específicos em gênero, ciência e tecnologia não dialogam com os outros Grupos e Núcleos para articulação de temas comuns na busca de maior emancipação feminina dos preconceitos ainda vigentes e desconstruí-los.


6  REFERENCIAL TEÓRICO

Os grupos e núcleos de gênero, objeto desta pesquisa, procuram em seus estudos, em encontros e debates respostas aos questionamentos relativos aos papéis dos sujeitos sociais “homem x mulher” numa clara evidência de um binarismo segmentado pela construção social de uma sociedade heteronormativa. Isto quando estamos nos referenciando aos preconceitos também em relação à diversidade sexual que infere o item gênero e sexualidade. Os relatos históricos, que temos como referência para a observação dos preconceitos e do estigma da não valorização do sexo feminino em todas as esferas do contexto público, desde tempos os mais remotos, decorrem historicamente da divisão sexual do trabalho. Tendo como eco as heranças culturais, o homem excluiu a mulher das práticas do trabalho no campo, quando houve um aumento expressivo da taxa de natalidade e conseqüentemente tornou-se provedor, “era o cenário para um novo e penetrante patriarcalismo[11]. Abordar as principais categorias de análise e de correntes de pensamento que discorrem sobre o tema oportunizará o acesso aos conceitos e argumentações de autoras/es que utilizaremos para nossa investigação, que tem como ponto de partida  a categoria gênero, para atingir seu objeto, que  pode ser entendida “como uma linguagem, uma forma de comunicação e ordenação do mundo que orienta a conduta das pessoas em suas relações específicas, e que é, muitas vezes, base para preconceitos, discriminação e exclusão social”. (SIMIÃO, 2005, p.13)
Cabe aqui salientar que podemos traduzir o pensamento abaixo como uma reprodução de comportamento e conseqüente “violência simbólica”:
Curiosamente, de acordo com os resultados que encontramos, as mulheres têm oportunidades iguais na formação dos alunos e, portanto, na reprodução dos modelos e paradigmas sociais da ciência e da pesquisa, em geral. Isso pode indicar que, por conta das pressões dos habitus da academia, elas estejam sofrendo daquilo que Bourdieu classificou como “violência simbólica” que, em suas palavras, se estabelece quando “os dominados aplicam categorias estabelecidas do ponto de vista dos dominantes às relações de dominação, fazendo-as  assim ser vistas como naturais”[12]. (LETA e MARTINS, 2008, p.98)
Para Scott, gênero é “uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado” (1995, p.75), explicitando que sexo é um dado biológico e gênero é um dado cultural. Essas discussões se acaloram e tomam um significado para questionamentos sobre as relações de gênero com sua aparição inicial, segundo Scott[13] “(...) entre as feministas americanas, que queriam enfatizar o caráter social das distinções baseadas no sexo e indicando uma rejeição do determinismo biológico implícito nos termos como “sexo,” ou diferença sexual e introduzindo uma noção relacional em nosso vocabulário analítico.” (1990, p.72) Esta onda feminista, que adveio de um movimento político organizado nos anos 60, teve seus objetivos mal interpretados, pois buscou a igualdade de direitos sem negar as diferenças, estigmatizando, muitas vezes, a palavra feminista.
A mídia, nos mais variados meios de comunicação, criou uma expectativa de articulação por parte dos movimentos instituídos sobre as mulheres e suas reivindicações, tendo como suporte esta mesma sociedade da informação, criando uma multiplicidade de enfoques sobre as questões do preconceito e dos estudos sobre as mulheres na atual sociedade. Sem o desejo de ser reducionista, aqui se chama a atenção para o fato do senso comum sempre transferir a dicotomia das diferenças “homem x mulher” para as questões biológicas. Os estudos através dos núcleos e grupos de gênero via Academia tendem a tornar visíveis estes embates ocultos nas relações do cotidiano e colaboraram com mudanças sociais que poderão ser significativas, sendo este um dos objetivos de nosso projeto de pesquisa. Abordar um tema com tais perspectivas trará uma contribuição na tentativa de demonstrar que a civilização ocidental, à despeito das concepções e oportunidades de discussões que a mídia deveria fomentar em sociedades com liberdade de expressão, pode e tenta ocultar preconceitos e dificuldades que o universo feminino ainda enfrenta no início deste milênio.
É importante estabelecer conexões que propiciem aos Grupos e Núcleos de gênero um lócus permanente de debates, esta conexão é aleatória, e formar uma rede de discussão permitirá dar visibilidade aos problemas que de tão arraigados nas relações sociais se tornaram “naturais”, principalmente quando incorporados subliminarmente ao comportamento feminino pela violência simbólica, como exposto por Bourdieu, citado por LETA e MARTINS[14].
A problemática das mulheres na ciência tem sido estudada por autores (as) variados (as), como vimos, e urge desdobrar esses estudos e aprofundá-los, como pretendemos, estabelecendo a priori o estado da arte dos núcleos e grupos de gênero nas Universidades Brasileiras, com recorte na questão científica e tecnológica.


7  PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS


Pretende-se com esse trabalho estabelecer o Estado da Arte dos Grupos e Núcleos de gênero desde suas gêneses, teorias fundantes e utilizadas, objetivos, funções, atividades, pretensões, relações e interrelações, intercâmbios, conquistas, desafios e dificuldades.  Para tal se aplicará uma pesquisa quali-quantitativa. Utilizar-se-á tempo integral para a pesquisa, pretendendo-se mapear os grupos e núcleos de estudos de gênero nas Universidades Brasileiras, identificando, deste modo, suas interrelações com as instituições de caráter social, ativistas e que não têm vínculo com a Academia. As pesquisas poderão contribuir com subsídios para organização desses grupos, que de alguma forma se entrecruzam em Congressos, Seminários e têm seus objetivos interligados pela mesma temática, na busca de minimizar e visibilizar preconceitos e atrasos em relação às questões dos avanços nas conquistas femininas nos diversos campos do conhecimento.
No que tange à questão do papel da mulher em áreas e profissões, a despeito das opiniões do senso comum em que esses preconceitos há muito já foram resolvidos, ressalta-se que elucidar como e em que condições a mulher se inseriu nessas esferas é visualizar questões que são estigmatizadas como essencialmente masculinas e cuja ascensão feminina percebe-se ainda plena de barreiras, esbarrando em preconceitos de toda ordem, especialmente no campo cientifico e tecnológico, saber considerado Hard e, portanto, de domínio masculino.
Este mapeamento norteará a pesquisa de campo, seu recorte e viés, a pesquisa bibliográfica e de contatos, incluindo entrevistas e questionários com as instituições e seus membros envolvidos. Para a pesquisa de campo, o projeto prevê viagens para a aplicação dos questionários de pesquisa e entrevistas semi-estruturadas, que poderão ser alimentadas com perguntas abertas, conforme orientação pertinente. A análise dos dados quantitativos, que exigirem tratamento estatístico, será feita através de softwareespecífico para este fim: Statistical Package for Social Science (SPSS[15]) ou equivalente, a fim de gerar tabelas e gráficos que contribuam para a correlação entre variáveis relevantes para o trabalho, possibilitando, assim, tanto uma análise descritiva do objeto de pesquisa quanto a viabilização de uma análise crítica.
Na análise qualitativa, que dará o suporte para as considerações conclusivas, pretende-se aplicar as técnicas da análise de discurso conforme Laurence Bardin e a utilidade que pode ter nas ciências humanas com seu conjunto de instrumentos metodológicos, que se aplicam a discursos e seus conteúdos: a hermenêutica e os dois pólos do rigor da objetividade e da fecundidade da subjetividade[16].

   8 CONSIDERAÇOES PRELIMINARES

Toda pesquisa coloca em seu projeto, suas pretensões, análises e toda sorte de resultados que no decorrer da mesma vão revelando os possíveis avanços e suas meras intenções. Razão pela qual seu recorte e viés se dá no caminho ás vezes árduo em se constatar algumas realidades que são postas na práxis.
Em relação ao que se pretende nesta investigação, além do que já se colocou nos itens do projeto, temos algumas considerações iniciais.
O Encontro Nacional de Núcleos e Grupos de Pesquisa é o lócus onde podemos vivenciar e colocar com todas as inferências teóricas e práticas o que acontece na atualidade sobre estes Núcleos e Grupos, já que não existe uma network, rede informatizada sobre o assunto em questão.
 Já aconteceram efetivamente dois encontros nacionais promovidos pela Secretaria de Políticas para Mulheres, órgão federal com sede em Brasília.
    O I Encontro Nacional de Núcleos e Grupos de Pesquisa, cujo tema principal:Pensando Gênero e Ciências vem de encontro justamente ao que estamos pesquisando, foi realizado em Brasília, 29, 30 e 31 de março de 2006, e com os seguintes objetivos:
• Mapear e analisar o campo de pesquisas e estudos sobre gênero e ciências no Brasil.
• Estimular e fortalecer a produção de pesquisas e estudos sobre gênero e ciências.
• Estabelecer medidas e ações que contribuam para a promoção das mulheres no campo das ciências e nas carreiras acadêmicas.
• Fortalecer as redes – temáticas, regionais e nacionais – de núcleos e grupos de pesquisa do campo de estudos das relações de gênero, mulheres e feminismos.
E com o público – alvo que era do interesse da pesquisa em questão:
• Núcleos e grupos de pesquisa do campo de estudos das relações de gênero, mulheres e feminismos das universidades.
• Pesquisadoras e pesquisadores de todas as áreas de produção do conhecimento interessados na temática: gênero e ciências.
• Revistas de universidades e instituições de pesquisa que tenham como foco a circulação da produção no campo dos estudos das relações de gênero, mulheres e feminismos.
• Redes que congreguem núcleos de estudos e pesquisadoras (es) do campo de estudos das relações de gênero, mulheres e feminismos.
• Agências de fomento à pesquisa
• Associações científicas
Fonte: www.sepm.gov.br/publicacoes-teste/.../2006/encontro-genero.pdf
 O II Encontro Nacional de Núcleos e Grupos de Pesquisa - Pensando Gênero e Ciências, ocorreu em Brasília, entre os dias 24 e 26 de Junho de 2009 se propôs a fazer exatamente isso. Fonte: www.observatoriodegenero.gov.br/.../ii-encontro-nacional-de-nucleo.
 O encontro, com tema "Institucionalização dos estudos feministas, de gênero e mulheres nos sistemas de Educação, Ciência e Tecnologia no país", tinha como mote: estimular e fortalecer a produção de pesquisas e estudos na área de gênero e estabelecer medidas e ações que contribuam para a promoção das mulheres no campo das ciências e nas carreiras acadêmicas.
Esse encontro materializava os objetivos gerais do II Plano Nacional de Política para as Mulheres (II PNPM) no que diz respeito à promoção e fortalecimento da participação igualitária das mulheres em todos os campos, na produção de conhecimentos nas áreas de gênero, e na ampliação de debate sobre as dimensões ideológicas do sexismo, lesbofobia e racismo.
Temos, também um importante elemento que não temos conhecimento por enquanto de sua atualização que são os dados disponíveis no site do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 2006, data do último encontro nacional, (á época) estavam registrados 41 Grupos de Pesquisa e 72 Núcleos e Linhas de Pesquisa em Universidades públicas e privadas. Leva-se em conta tanto uma tendência mundial, observável em outros países, quanto o fortalecimento do campo, no âmbito local, dado o surgimento do primeiro curso de graduação e pós- graduação na área de gênero na instituição da UFBA, dado que relato á seguir:
O Núcleo de Gênero NEIM, Da Universidade Federal da Bahia, realmente foi pioneiro e fortaleceu enormemente o campo quando colocou em prática a transversalidade das questões de gênero com a criação do curso de graduação e pós-graduação em gênero proporcionando com isto um impulso considerável nas publicações de assuntos feministas e de questões de gênero já que estes assuntos estão imbricados no inconsciente coletivo e também nas publicações acadêmicas.
O último encontro nacional de Grupos e Núcleos de Gênero foi o demonstrado acima em 2009, e esperamos agora neste ano de 2012, que se realize o terceiro que está se organizando.
Considerando que este projeto de pesquisa está em andamento e se coloca, nesta ocasião, no âmbito de não exaustiva, estas são as considerações em caráter preliminar.





[1]  Socióloga, Mestre em Tecnologia e Trabalho pela UTFPR com a Dissertação “O Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento - LACTEC - na Gênese do Processo Tecnológico Paranaense: uma contribuição ao Estudo da História da Técnica e da Tecnologia” .Especialista em Docência Superior. Pesquisadorado Grupo de Estudos e Pesquisas em Relações de Gênero e Tecnologia - GETEC- do PPGTE - Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, vinculado ao CNPq – UTFPR taniarosa@onda.com.br

[2] CARVALHO, Marília Gomes de.; CASAGRANDE, Lindamir. (2006) Cadernos de gênero e tecnologia/Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. Curitiba: CEFET-PR, ano 2, n. 8, Out./Nov./Dez (pg 11)

[3] TABAK, Fanny. (2002) O laboratório de Pandora: estudos sobre a ciência no feminino. Rio de Janeiro: Garamond,

[4] SCHIENBINGER, Londa (2001) O feminismo mudou a ciência?Bauru, SP: EDUSC
[5] ARENDT, Hannah. (2009), A condição humana. Tradução de Roberto Raposo. 5 ed. Rio de Janeiro: Florence Universitária, (p.68)

[6] LOURO, Guacira Lopes,(1997) Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalista -Petrópolis, RJ: Vozes.
[7] CASCAES, Tânia Rosa F. (2009) Gênero, Diversidade Sexual, Ciência e Tecnologia: A Escola como Agente de Mudanças.,Curitiba: Cadernos de gênero e tecnologia. Vol. 17 p.29.
[8] CITELI, Maria Teresa.(2000) Mulheres nas ciências mapeando campos de estudos. Campinas: Cadernos Pagu, v. 15,
[9] SCHIENBINGER, Londa (2001) O feminismo mudou a ciência? Bauru, SP: EDUSC, p.26

[10]  Redes glocais - neologismo nascido da contração entre global e local, para criar pontes entre cidadãs                    da América Latina, África e Ásia. O enfoque o local entre si e o local com o global, ao contrário dos atuais conceitos de Sul, Terceiro Mundo ou transnacional,. A idéia surgiu na Coréia do Sul há muitos anos. “Vivemos em um sistema global patriarcal, que reforça a discriminação baseada em gênero, classe, raça e espécie. Nosso movimento se assentará em um modelo ideológico do feminismo combinado com o verde, o vermelho e o lilás,” disse Gaphee Ko, do ponto glocal da Coréia do Sul. (LEEAN, 2009)
[11] STEARNS, P. N. (2007) História das Relações de Gênero. (M. Pinsky, Trad.) São Paulo: Contexto, p.32
[12] LETA, J.; MARTINS,(2008) F. Docentes pesquisadores na URFJ: O capital científico de mulheres e homens. In: RISTOFF, Sílvio et all (org). Simpósio "Gênero e indicadores da educação superior brasileira". Brasília: INEP, 2008. p.85-101.
[13] SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica, Educação e Realidade v. 20 (2), Jul./Dez.1995.


[15] Este programa (SPSS) é largamente utilizado para a coleta de dados e posteriores interpretações podendo confrontar teorias e autoras/es pertinentes ao tema citados no referencial teórico e outros advindos da pesquisa os quais se entrecruzarão.

[16] BARDIN, Laurence. (2008) Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, Almedina (Prefácio)


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