Você quer feriado?

Você quer feriado?
Lembrando o refrão (Índio Quer Apito) de Haroldo Lobo e rememorando sua história (A verdadeira história do Índio Quer Apito)[1]não podemos deixar de escrever sobre a campanha a favor de feriados durante a Copa do Mundo no Brasil. A quem realmente interessa feriado em dias de jogos desinteressantes nas cidades sede desse campeonato mais do que comercializado, empresarial e promovido pelos estrangeiros e nossos comandantes da folia?
Com certeza feriado é um rombo nas contas de empresas que precisam produzir, até para concessionárias de serviços essenciais, afinal não podem parar e hora extra nessas condições não é pouco, sem falar em serviços que deixam de ser feitos. Muitas indústrias, lojas, oficinas, quitandas etc. têm orçamentos apertados, podem passar por dificuldades e qualquer dia de trabalho significa muito. Outras enfrentam prazos e até podem estar procurando recuperar tempos perdidos. Eventos extemporâneos, não previstos, custam caro.
E os empresários de modo geral?
Alguns ganham muito. Nas praias o pessoal aplaude os feriados e feriadões. Nas cidades os bares, principalmente, e até vendedores de pipoca faturam. Quem mais?
Os sistemas de televisão e rádio têm nesses campeonatos a chance de ganharem mais dinheiro com a propaganda. Muito dinheiro está em jogo. Como turbinar audiências, ainda que de jogos entre gringos? De que jeito convencer vereadores, prefeitos e a população de que devemos ter feriados em dias de Copa do Mundo?
O negócio é fazer pesquisas de opinião.
Qual é a validade desses questionamentos?
Perguntar para criança se ela quer brincar, comer doce ou fazer festa é covardia. Naturalmente dirão, pulando de alegria, que querem. Resposta positiva? A solução é pagar a conta, quem mandou perguntar.
Todos reclamam da inflação, dos impostos elevados etc. Naturalmente aumentando-se custos e reduzindo-se a produtividade do nosso povo os preços aumentam, algumas frações que os beneficiários da ciranda financeira aplaudirão, afinal dependem dessa neurose para acrescentarem fortunas incalculáveis ao balanço de suas empresas.
É triste dizer isso, mas tudo tem limites, inclusive a farra do futebol.
E os apitos? Espelhinhos? Enfeites?
Nossos “índios” perderam muito não tendo em épocas favoráveis consciência do que deveriam pedir, querer e motivos até para lutar.
A invasão dos europeus começou com a distribuição de espelhinhos e outras coisas que nossos seres humanos pré-colombianos desconheciam e viam fascinados. Assim viraram escravos e vítimas de genocídio. Naturalmente não temos similar em campeonatos de futebol, carnaval, feriadões etc., precisamos, contudo, pensar que tudo o que aumenta custos gera redução de outras despesas, principalmente em educação, habitação, cultura, saúde, segurança, dignidade.
Durante o governo Dutra desperdiçamos muito dinheiro desprezando uma boa oportunidade de fazer no Brasil a base para um desenvolvimento sólido. As reservas cambiais[2]desapareceram, talvez em projetos tão perdulários quando a Copa do Mundo de 1950, momento de glória dos uruguaios. Com certeza o futebol não foi o pior, mas inaugurou, quem sabe, a fase das ilusões nacionais.
No campeonato que acontecerá em 2014 a FIFA foi uma tremenda surpresa negativa. Em doses homeopáticas chegamos a ver um estádio “pronto”, recém-reformado, ser destruído para atender os caprichos dos estrangeiros. O Brasil assumiu compromissos vergonhosos [ (Câmara dos Deputados aprova isenção do ISS para Fifa em relacionados à Copa de 20141, 2012), (Fifa ganha mais isenção fiscal e mão de obra gratuita na Copa, 2012), etc.]. Pode?
Os abusos dessa entidade até seriam aceitáveis quando o Brasil foi indicado para sede da Copa do Mundo. O mundo vivia tempos de euforia e parecia que nada abalaria as previsões mais otimistas. Para azar dos brasileiros a tormenta (Trabalho Interno) começou em seguida, demolindo previsões e estudos de viabilidade (que não foram refeitos). Estamos numa situação delicada e poderemos dar vexame por conta dos erros de lideranças mal informadas...
Com tudo isso o desespero dos promotores da Copa do Mundo; o que mais vão inventar para fazer desse campeonato um sucesso? O processo de lavagem cerebral está a pleno vapor, queremos apitos, (ops!), feriados para ver jogos secundários? Vale a pena?
Cascaes
26.5.2013

Augusto, L. (s.d.). A verdadeira história do Índio Quer Apito. Fonte: Samba Choro: http://www.samba-choro.com.br/s-c/tribuna/samba-choro.0305/0210.html
Brasil, A. (1 de 11 de 2012). Câmara dos Deputados aprova isenção do ISS para Fifa em relacionados à Copa de 20141. Fonte: UOL COPA: http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2012/11/01/camara-dos-deputados-aprova-isencao-do-iss-para-fifa-em-relacionados-a-copa-de-2014.htm
Cruz, J. (1 de 11 de 2012). Fifa ganha mais isenção fiscal e mão de obra gratuita na Copa. Fonte: UOL Esporte: http://josecruz.blogosfera.uol.com.br/2012/11/fifa-ganha-mais-isencao-fiscal-e-tera-trabalho-gratuito-na-copa/
Haroldo Lobo, M. d. (s.d.). Índio Quer Apito. Fonte: letras.mus.br: http://letras.mus.br/marchinhas-de-carnaval/473878/
Trabalho Interno. (s.d.). Fonte: Livros e Filmes Especiais : http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/2012/01/trabalho-interno.html





[1] Aproveitando a lembrança que companheiros da Desafinado deram da marchinha "Índio quer apito", me lembrei que escutei, há alguns dias, no programa "Memória do Rádio", apresentado diariamente às 22:00 hs pela Rádio Educadora da Bahia, o cantor baiano Walter Levita, vencedor de muitos carnavais, contando que essa história teve um motivo, garantido por muita gente como verdadeiro. Foi o seguinte: 
Numa visita a uma comunidade indígena, a esposa do então Presidente Juscelino havia levado muitas bugingangas para agradar aos índios, e na hora em que ela tentava colocar um colar no pescoço do chefe índio que era bem mais alto do que ela, nesse esforço ela soltou um leve "pum", aí o chefe, inocentemente, ou sacanamente, teria dito a famosa frase que passaria a circular no anedotário do carioca. Em 1961 os dois excelentes compositores carnavalescos, Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, aproveitando essa fofocaria do povo, driblou a censura lançando a maliciosa marcha Índio quer apito... 

[2] Wikipédia - A política comercial de Dutra foi criticada pela má utilização das divisas acumuladas no curso da guerra. Na política externa, reforçou-se a aliança com os Estados Unidos. Eurico Gaspar Dutra deixou o governo em 31 de janeiro de 1951.
O governo avaliou mal a situação das reservas. Em 1946, metade das reservas era considerada estratégica, estava em ouro. A outra metade (US$ 235 milhões estava em libras esterlinas bloqueadas) e apenas US$ 92 milhões eram realmente líquidos e utilizáveis em países com moedas conversíveis. Uma das origens do problema: Brasil tinha superávit com área de moedas inconversíveis e déficits com EUA e outros países de moeda forte. Também, no pós-guerra não houve afluxo de capitais públicos ou privados para o Brasil, que não era prioridade no novo contexto global.
1. A taxa de câmbio sobrevalorizada, ao desestimular a oferta do produto, poderia ser usada para sustentar os preços internacionais do café.
2. O governo temia que alterações no câmbio aumentassem a inflação doméstica.
3. 40% das exportações eram para as áreas de moedas inconversíveis, enquanto o café representava mais de 70% das exportações para as áreas de moedas conversíveis, então superávits comerciais adicionais na área inconversível apenas pressionariam a base monetária.

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