A Medicina - médicos - hospitais e problemas brasileiros

Escalada do arbítrio
Em política o que o eleitor vê raramente tem alguma relação com os jogos de poder. O ser humano é complexo e suas vaidades não mostram limites, caprichos que só aumentam com a idade, ainda que após certo período da vida o cérebro comece a encolher.
Personagens mais notáveis que a História registra no comando de grandes religiões, revoluções e países são exemplos inequívocos das fragilidades, convicções, espertezas e fanatismos humanos quando atingem o cume da montanha, de onde só resta descer ou morrer lá em cima.
No Brasil estamos atravessando um momento assustador e maravilhoso, ao mesmo tempo. As manifestações de junho deste ano mostraram que a rainha estava nua (respeitando questões de gênero) e ela, que tem um séquito considerável de ministros e assessores, além de consultores, procura agora desesperadamente assumir o comando das mudanças.
Não é saudável governar e começar a lançar programas oportunistas em momentos de fúria popular, não se pode, contudo, desprezar as mensagens enviadas. Se o Governo Federal, governadores e prefeitos tiverem juízo estarão articulando ações midiáticas para aplacar a paciência de nossa gente.
Um exemplo clássico que merece muito mais atenção é a situação do atendimento médico à população em geral, objeto de ações enérgicas a partir de Brasília.
 Quando o SUS começou a perder qualidade? Por que os hospitais se desligam do sistema Único de Saúde? Temos carência de médicos? E as faculdades, precisam se concentrar nas cidades maiores? As decisões do Governo Federal (Duração do curso de medicina subirá de 6 para 8 anos a partir de 2015, 2013) são adequadas e necessárias para corrigir décadas de alienação e desprezo pela saúde pública (as endemias que o digam)?
O SUS (Sistema Único de Saúde (SUS)) tomou o lugar de serviços corporativos federais e aumentou gradativamente sua abrangência à população brasileira em geral. Depende de recursos diversos (Organização e Operacionalização do Sistema de Saúde e Normatização da Assistência, 2013), nunca suficientes. Imagina-se existir gestão ineficaz e até leniência em relação a questões tais como, por exemplo, a importação de equipamentos intermediados e, quem sabe, cartelizada nos mercados internacionais e locais.
As empresas gestoras de planos de saúde praticamente mandam na vida profissional de médicos, enfermeiros, hospitais etc. e os fabricantes de remédios completam a constelação de coisas que mereceriam a maior e melhor auditoria da história brasileira, dada sua importância.
Lembranças pessoais levam-nos ao momento em que um amigo, diretor do Hospital Pequeno Príncipe, contou-nos que o hospital estava revendo planos após cortes drásticos em seus orçamentos, ato promovido pelo Governo FHC. A prioridade federal era rolar contas financeiras...
Os jornais ao longo dessas décadas trouxeram histórias de hospitais fechando ou quebrando, simplesmente, de modo geral após ações de indenização de ações trabalhistas. Ou seja, ações preventivas não eram eficazes e a bombas estouravam serviços essenciais.
Hospitais de caridade ou conveniados vivem momentos difíceis, em alguns casos provavelmente por má gestão, outros vítimas de uma legislação e jurisprudência confusas e prejudiciais ao povo brasileiro.
Participamos do Conselho Administrativo da Fundação Copel, entre nós ouvíamos histórias assustadoras de alguns hospitais e de profissionais que levaram a FC a romper convênios e contratos, estranhamente retomados adiante. Para quem gosta de trabalhar com indicadores, relatórios existem...
O que incomoda é que o próprio SUS deveria estar atento a questões que degradaram o sistema, o que ouve?
O aspecto negativo é a burocratização radical e a vigilância predatória, levando muitos hospitais sérios a se desligarem do Sistema Único de Saúde, mantendo inoperantes outros e inibindo a criação de hospitais onde são necessários.
O fechamento de faculdades de Medicina, antes de ações corretivas e até de ampliação de vagas (Sabbatini, 2000) criou um hiato que só agora parece mudar (Paraná vai ganhar mais 400 vagas de Medicina até 2017, 2013), ótimo!
E o que é ser médico?
Infelizmente a Medicina mergulhou por caminhos que Michel Foucault descreveu e usou como exemplo em seus livros, destacando:
“... o médico, pouco a pouco, deixou de ser o lugar de registro e de interpretação da informação, e porque, ao lado dele, fora dele, constituíram-se massas documentárias, instrumentos de correlação e técnicas de análise que tem, certamente de utilizar, mas que modificam, em relação ao doente, sua posição de sujeito observante” (A Arqueologia do Saber, 2010).
É, com certeza, o efeito de técnicas e sistemas de inspeção e análise do corpo humano, algo que poderá, mais cedo do que se imagina, substituir profissionais da saúde no diagnóstico e monitoramento de doenças.
A importância crescente de máquinas e laboratórios poderia nortear uma política de descentralização de atendimentos, evitando-se viagens penosas e até mudanças de residência de pessoas dependentes de tratamentos mais sofisticados. Isso continuará a existir, tenham ou não médicos instalados nas pequenas cidades.
O Governo federal e a Anvisa também poderiam reverter decisões recentes, quam sabe, e isso seria fantástico, com o apoio de atendentes locais (farmacêuticos, enfermeiros a até leigos mais inteligentes) criar centros de atendimento médico à distância.
É ruim? O livro (Steve Jobs) relata a descrença em relação à Medicina de um dos gênios do século 20, se ele pensava assim, o que diremos nós que dependemos do que está ao nosso alcance.
Outro problema é a possibilidade de se prolongar a vida a qualquer custo, o que isso significa? Um tema complexo e difícil de tratar sem paixões.
O que também parece acontecer no Brasil é a indústria dos laboratórios, exames e cirurgias desnecessários, criando-se custos e despesas que oneram o SUS pesadamente.
Temos carência de médicos (No Nordeste, carência de médicos afeta ‘Saúde da Família’, 2013), talvez muito mais de vocações, pois o ingresso em faculdades de Medicina é viabilizado em testes de conhecimento prévio de dados e fatos que os cursinhos dominam; não geramos testes vocacionais nem universalizamos cursos que a tecnologia permite. O vestibular deveria ser o mercado de trabalho, os testes de admissão a empresas, certificação de conhecimentos nos moldes dos exames da Ordem dos Advogados e a simples punição rigorosa em atos de irresponsabilidade e incompetência. Infelizmente adoramos corporações, burocracias e rituais...
Resumindo, o exercício da Medicina e a situação dos brasileiros exige uma avaliação criteriosa, lúcida e sem segundas intenções.
Temos problemas crônicos e atrasos monumentais.
O Brasil é um país que concentrou sua população de origem europeia no litoral do país. Megalópoles criam atrações irresistíveis, principalmente à beira mar. No sertão encontramos populações rarefeitas e não aconteceu ainda ao governo federal e aos estaduais, com exceção para o estado de Minas Gerais e Piauí, que mudança de capitais poderia ser uma tremendo instrumento de redução de investimentos gigantescos nas capitais atuais, viabilizando a diminuição da poluição, construção de cidades modernas e inteligentes e fixação dos brasileiros em lugares atualmente desprezados.
Brasília é um excelente exemplo de contenção do crescimento da Cidade do Rio de Janeiro.
O modelo de ocupação territorial brasileiro é ruim e afeta serviços essenciais, entre eles o atendimento médico de nosso povo.
O Governo Federal ensaia respostas às manifestações populares deste ano, ótimo. Estávamos cansados de PECs e MPs alheias aos interesses nacionais. O cinismo de nossos mandatários levava o Brasil de volta aos piores tempos do absolutismo imperial, quando família e grupos econômicos se consideravam donos do povo e de tudo que seus poderes permitissem de forma explícita ou não.
Existem, felizmente, livros e filmes excelentes, (Livros e Filmes Especiais) que merecem atenção especial.
Para os mais velhos não falta vivência de períodos de exceção que o Brasil passou e também de lutas “democráticas”. E seus efeitos.
Sentimo-nos no papel de material de consumo nas mãos de lideranças egocêntricas e incompetentes.
Em Brasília, principalmente, o impacto do estádio Mané Garrincha calou fundo. Agora é ver e agir com desprendimento para apoiar o Governo Federal quando até desprezando sua “base prá lamentar” agir de forma enérgica, mas cobrando sempre dele e de todos o respeito à liberdade e transparência.
Os próximos meses serão perigosos e decidirão o futuro de nossos filhos e filhas, netos e netas, bisnetos e bisnetas e assim por diante e de amigos e amigas, companheiros e companheiras (olha aí o respeito às questões de gênero), irmãos e irmãs etc.
A eterna vigilância e o exercício da cidadania nunca foram tão importantes. Precisamos ir para frente, nem para a esquerda ou direita. Qualquer desvio será um retrocesso à evolução política e administrativa de que necessitamos para conquistar o respeito dos povos mais desenvolvidos, acima de tudo para nosso orgulho e sentimento de amor à Pátria.
Cascaes
9.7.2013

Cascaes, J. C. (s.d.). Fonte: Livros e Filmes Especiais: http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/
Foucault, M. (2010). A Arqueologia do Saber.Rio de Janeiro: Editora Foerense Universitária Ltda.
Isaacson, W. (s.d.). Steve Jobs (Companhia das Letras ed., Vol. 1). (D. B. Berilo Vargas, Trad.) Companhia das Letras.
LINS, L. (6 de 7 de 2013). No Nordeste, carência de médicos afeta ‘Saúde da Família’. Fonte: globo.com: http://oglobo.globo.com/pais/no-nordeste-carencia-de-medicos-afeta-saude-da-familia-8940700
Nathalia Passarinho, P. M. (9 de 7 de 2013). Duração do curso de medicina subirá de 6 para 8 anos a partir de 2015. Fonte: G1: http://g1.globo.com/educacao/noticia/2013/07/duracao-do-curso-de-medicina-sobe-de-6-para-8-anos-partir-de-2015.html
PARO, D. (9 de 7 de 2013). Paraná vai ganhar mais 400 vagas de Medicina até 2017. Fonte: Gazeta do Povo: http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1389254&tit=Parana-vai-ganhar-mais-400-vagas-de-Medicina-ate-2017
Prado, D. d. (7 de 4 de 2013). Organização e Operacionalização do Sistema de Saúde e Normatização da Assistência. Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/palestras/deildes/palestra.htm
Sabbatini, R. (9 de 6 de 2000). Fechando escolas de medicina. Fonte: Família Sabbatini: http://www.sabbatini.com/renato/correio/medicina/cp000609.html
Sistema Único de Saúde (SUS). (s.d.). Fonte: BRASIL.gov.br: http://www.brasil.gov.br/sobre/saude/atendimento




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