A sinceridade, um ato de coragem e desprendimento

Sinceridade, honestidade intelectual e pragmatismo.
O ser humano é infinitesimal diante das muitas dimensões da vida e do Universo. O grau de ignorância em relação à Natureza pode ser medido pelas certezas, pelas convicções e até fanatismos. É extremamente saudável acreditar. A fé remove montanhas, cura, garante nomeações, medalhas, simpatias e segurança.
A sinceridade, algo que leva à honestidade intelectual, é “indelicada”, ofensiva e perigosa quando se reflete em posturas e palavras desagradáveis. Pior ainda ao se transformar em ação política, aí o cidadão poderá ser qualificado de subversivo, “comunista”, terrorista, nazista, reacionário etc. No cotidiano é falta de educação, aquela que nos ensinam para aceitar o que os mais velhos e os chefes dizem. Ou melhor, é necessária[1]para a disciplina tão conveniente à produção de operários, soldados, padres e pastores, executivos, etc..
A sociedade humana foi construída sobre a subserviência ao império dos mais fortes. Confunde-se coragem com força; o fraco é desprezado e a honra reside em lutar e morrer por bandeiras de pano e símbolos esotéricos[2]. Atualmente é mais comum a conquista da riqueza material, aplaudida até em muitas religiões (sinal de simpatia divina). Aceita-se o escalonamento do poder e nessa escada à multidão dos primeiros degraus cobra-se disciplina, submissão e manifestações de lealdade e paixões, ainda que hipócritas. Aliás, a hipocrisia e a bajulação geram comportamentos desprezíveis, mas invisíveis a todos que desejam honrarias, fortunas e facilidades semelhantes.
O medo conquista mais adeptos do que a liberdade e a coragem.
Um aspecto mais do que evidente da hipocrisia onipresente é a resposta à pergunta: acredita em Deus?
Não bastasse a incapacidade humana de definir e explicar o que seria Deus, exceto com afirmações vagas e imprecisas, sentimos que o medo de negar gera respostas imediatas e impensadas com profundidade.
Coitado de quem disser “não”. Seja quem for, competente ou não, honesto (com certeza será no mínimo ao declarar sua crença) ou desonesto, trabalhador ou malandro, altruísta ou alguém que simplesmente tem medo de morrer e se mudar para algum inferno desconhecido, a verdade é que poucas pessoas estão dispostas a desafiar os deuses e mais ainda a comunidade em que vive. Maslow sabia e colocou bem esse patamar na escala de valores em sua pirâmide [1], uma representação gráfica extremamente lúcida.
É tremendamente importante lembrar o crescimento vertiginoso das ciências exatas, do conhecimento sobre a vida e das coisas neste universo (único?). Ninguém, nem mesmo grupos de gênios, pode fazer afirmações absolutas. Em Arqueologia do Saber [1] [3] Michel Foucault coloca em algum momento a qualificação do que teria condições de ser considerado “ciência”, concluindo que talvez a Matemática possa ser isso que todas as condições de contorno permitem.
Bertrand Russell [2] [3], um tremendo gênio da Humanidade, arauto das dúvidas [3], em seu livro Princípios de Reconstrução Social [5] declara que:
“A certeza absoluta é por si só suficiente para impedir qualquer progresso mental naqueles que a possuem”.
Não é verdade? Quem não duvida não procura mais explicações, tudo está resolvido.
As dúvidas desse filósofo lhe valeram perseguições e ofensas, não lhe faltou, contudo, coragem para dizer e declarar suas crenças no início do século passado, quando o mundo se preparava para mais guerras, cultivava a xenofobia, o racismo e teses padrão “super-homem”; era um coquetel mortífero, não muito diferente do que vemos agora no cenário internacional. A diferença é que o poder de destruição das grandes potências era incapaz de exterminar a Humanidade, algo que agora é possível usando-se, por exemplo, armas bacteriológicas. O livro de Gore Vidal [6] publicado com o nome Kalki [7] dá uma dica romanceada de eliminar a espécie humana, algo que qualquer bilionário maluco poderá fazer sem bombas, aviões, canhões etc.
Resumindo, as dúvidas sobre o ser humano, a vida e o universo não autorizam ninguém a questionar convicções, ou melhor, aplausos para que declara não saber, duvidar, ser agnóstico[3].
É preciso muita coragem e honestidade intelectual para não aceitar imposições hipócritas ou de gente convencida de saber a “verdade”.
Ou, diante de tudo, a opção é ser feliz [10] e, como disse nossa ex-ministra diante do caos nos aeroportos, “relaxa e goza” [11], pois o ser humano é o que é [12].
Cascaes
8.9.2013

Bibliografia e referências
[1]
“Hierarquia de necessidades de Maslow,” 5 6 2012. [Online]. Available: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hierarquia_de_necessidades_de_Maslow.
[2]
M. Foucault, A Arqueologia do Saber, Rio de Janeiro: Editora Foerense Universitária Ltda., 2010, p. 38.
[3]
M. Foucault, “Arqueologia do Saber,” Forense Universitária, [Online]. Available: http://www.deboraludwig.com.br/arquivos/foucault_arqueologia_do_saber.pdf.
[4]
B. Russell, “Frases de Bertrand Russell,” [Online]. Available: http://www.ronaud.com/frases-pensamentos-citacoes-de/bertrand-russell.
[5]
“Bertrand Russell,” Wikipédia, [Online]. Available: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bertrand_Russell.
[6]
B. Russell, “Dúvidas Filosóficas,” Plano Nacional de Leitura, [Online]. Available: http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/clubedeleituras/upload/e_livros/clle000168.pdf.
[7]
B. Russell, “Principles of Social Reconstruction,” George Allen & Unwin Ltd., [Online]. Available: http://ia600201.us.archive.org/17/items/principlesofsoci00russiala/principlesofsoci00russiala.pdf.
[8]
“Gore Vidal,” Wikipédia, [Online]. Available: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gore_Vidal.
[9]
G. Vidal, “Kalki,” Penguin Books, [Online]. Available: http://www.worldcat.org/title/kalki/oclc/494007779?ht=edition&referer=di.
[10]
L. Ferry, Aprender a Viver - Filosofia para os novos tempos, Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.
[11]
R. Terra, “Relaxa e goza, diz ministra sobre crise aérea,” Terra, 13 6 2007. [Online]. Available: http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI1685467-EI7896,00-Relaxa+e+goza+diz+ministra+sobre+crise+aerea.html.
[12]
F. Nietzsche, Humano, Demasiado Humano, 2 ed., escala.
[13]
A. Toffler, “Terceira Onda,” UNISINOS, [Online]. Available: http://www.projeto.unisinos.br/humanismo/antropos/Terceira_Onda.pdf.









[1]... Na segunda onda [10], a forma de criar riqueza passou a ser a manufatura industrial (sic) e o
comércio de bens. Os meios de produção de riqueza se alteraram. A terra deixou de ser tão
importante, mas, por outro lado, prédios (fábricas), equipamentos, energia para tocar os
equipamentos, matéria prima, o trabalho do ser humano, e, naturalmente o capital (dada a
necessidade de grandes investimentos iniciais) passaram a assumir um papel essencial
enquanto meios de produção. Do ser humano passou a se esperar que pudesse entender
ordens e instruções, que fosse disciplinado e que, na maioria dos casos, tivesse força física
para trabalhar. Essa nova forma de produção de riquezas também trouxe profundas
transformações sociais, culturais, políticas, filosóficas, institucionais, etc., em relação ao que
existia na civilização predominantemente agrícola. Nós todos conhecemos bem as
características desta civilização industrial, porque nascemos nela e, em grande parte, ainda
continuamos a viver nela....
[2](Wikipédia) ...Segundo alguns, o esoterismo é o termo para as doutrinas cujos princípios e conhecimentos não podem ou não devem ser "vulgarizados", sendo comunicados a um restrito número de discípulos escolhidos. Um sentido popular do termo é de afirmação ou conhecimento enigmático e impenetrável.

[3](Wikipédia)
Agnosticismo é a visão de que o valor de verdade de certas reivindicações, especialmente afirmações sobre a existência ou não existência de qualquer divindade, mas também de outras reivindicações religiosas e metafísicas, é desconhecido ou incognoscível. No sentido popular, um agnóstico é alguém que não acredita nem descrê em Deus, ao passo que um ateu não acredita em Deus. No sentido estrito, no entanto, o agnosticismo é a visão de que a razão humana é incapaz de prover fundamentos racionais suficientes para justificar tanto a crença de que Deus existe ou a crença de que Deus não existe. Na medida em que uma defende que nossas crenças são racionais se forem suficientemente apoiada (sic) pela razão humana, a pessoa que aceita a posição filosófica de agnosticismo irá realizar que nem a crença de que Deus existe nem a crença de que Deus não existe é racional. O agnosticismo pode ser definido de várias maneiras, e às vezes é usado para indicar dúvida ou uma abordagem cética a perguntas. Em alguns sentidos, o agnosticismo é uma posição sobre a diferença entre crença e conhecimento, ao invés de sobre qualquer alegação específica ou crença. No sentido popular, um agnóstico é alguém que não acredita nem descrê (não nega a possibilidade) na existência de um Deus, ao passo que um ateu não acredita na existência de um ou mais deuses (mas também não necessariamente nega, como é o caso do ateísmo cético). Em sentido estrito, no entanto, o agnosticismo é a visão de que a razão humana é incapaz de proporcionar fundamentos racionais suficientes para justificar o conhecimento da existência ou não de Deus. Dentro do agnosticismo existem ateus agnósticos (aqueles que não acreditam que uma divindade ou mais divindades existam, mas que não negam/descartam a possibilidade de suas existências) e os teístas agnósticos (aqueles que acreditam que um Deus existe, mas não afirmam saber isso).

Comentários