Dependência e morte

Deslumbramento e Poder
O anúncio da realização das Olimpíadas no Japão em 2020 veio acompanhado de reportagens mostrando a infraestrutura daquele país. Tendo saído da II Guerra Mundial em ruínas, desmoralizado, com todas as desgraças da guerra e de um passado recente e anterior à guerra, com problemas gravíssimos criados pela cultura xenófoba e belicista, o Japão renasceu de forma espetacular, brilhante.
O que podemos e devemos analisar é a capacidade industrial e técnica desse povo que perdeu tudo, menos o que sabia fazer.  Ao contrário, soube espertamente valorizar suas empresas e apoiar laboratórios, pesquisadores e inovadores.
À semelhança dos japoneses a Alemanha, Itália, França, Inglaterra, China, Coreia do Sul  e outros países agora podem falar com muito orgulho do que são e têm, tudo feito, na maioria dos casos, sem riquezas naturais abundantes e climas amenos, ao contrário, amargando desastres naturais e superando dificuldades incríveis.
No Brasil, um país maravilhoso, fértil, imenso e rico de minérios, espaços, água... , dependemos de São Pedro e mão de obra barata (exceto para os diplomados de algumas corporações) para tudo. Se nossa agroindústria é poderosa é graças a muitas unidades da EMBRAPA que nossos “neoliberais” não conseguiram destruir e de empresários extremamente competentes e criativos. Continuamos a depender de rompimento de patentes estrangeiras para enfrentar doenças seculares. Exportamos toneladas de alimentos para importar produtos bem feitos e livres dos custos absurdos criados artificialmente no Brasil. Desestimulamos ONGs bem intencionadas e pequenas empresas com a burocracia sufocante e caríssima. Sindicatos bem montados em Brasília viabilizam despesas como acrescentaram agora à conta de “contadores”. A reação brasileira? Quando acontece os donos do poder se unem para desestruturar a revolta, algo que mostrou sucesso em 7 de setembro. O Brasil é mais e mais refém da mídia comercial e seus patrocinadores assim como de oligopólios já amadurecidos após décadas de formação de carteis e cooptações insuspeitas [1].
A Parceria “povo mais empresários” poderia ser formal e menos mafiosa, razões não faltam para estímulo à “nossa” indústria.
Vemos o contrário, entretanto. O cada um por si (tirando o máximo do dinheiro do contribuinte e do trabalhador) e Deus  por todos é a regra.
Nossas corporações trabalham contra o povo, “movimentos sociais” e intelectuais universais (como classifica Michel Foucault em “A coragem da Verdade” [1]) aceitaram migalhas até ONGs internacionais para atrapalhar o Brasil. Nossos intelectuais perderam credibilidade e sempre trataram de nossas questões a partir de óticas importadas, e nossos problemas?
No mundo moderno a lógica monetarista e teoricamente sem fronteiras ao capital é a força mais eficiente no desmonte de países belos e incautos.
Em 7 de Setembro vimos o desfile de tanques de guerra [3], que tristeza! Já tivemos uma grande indústria e pesquisa e desenvolvimento de armas que nos protegeriam, corremos o risco, agora, de sentir os efeitos que a Argentina passou na Guerra das Malvinas [3], quando seus Exocets precisaram esperar desenvolvimentos de um sistema de controle e navegação, pois os franceses simplesmente se recusaram a fornecer as informações (e peças) que deviam por contrato (em tempo, toda informação dessa espécie é sujeita a dúvidas).
E no Brasil?
A indústria bélica brasileira foi implodida. Em grandes potências ela é a válvula para contratos sem concorrência estrangeira e fórmula de P&D a favor de serviços e produtos nacionais em geral. Nada semelhante a nossa legislação puritana e inútil, pois os bandidos sabem contorna-la (bandidos nacionais e estrangeiros).
Tecnologia nacional é condição de sobrevivência de qualquer nação.
Felizmente em torno da Petrobras salvou-se muito que, agora, com a internacionalização de leilões de jazidas de petróleo poderá ser perdido. O que vale é a contabilidade dura da Receita Federal e armações que, talvez de propósito, contaminaram nossa grande estatal com projetos bilionários, resultados duvidosos e contratos suspeitos.
O preço da liberdade é a eterna vigilância, ao que podemos acrescentar: tecnologia, capacidade industrial, patrimônio intelectual e acima de tudo amor à pátria, à família, ao povo brasileiro.
Nossos governantes “democráticos” e entreguistas deixaram a nação dependendo de corporações insaciáveis, elitizadas e omissas. Caímos no discurso triunfalista de “guerrilheiros” que trocaram as armas pelas contas secretas e discursos grandiloquentes, pelo menos é o que descobrimos a partir dos escândalos e processos que já se tornaram rotina.
O debate em torno dos médicos precisa ser radicalizado, aprofundado, investigado nos mínimos detalhes. Quem faria isso? É difícil identificar pessoas amantes de nosso povo e capacitadas para isso, tanto moralmente quanto tecnicamente.
Precisamos?
Os EUA relutam em intervir na Síria. Questões humanitárias? É de duvidar, pois até as bombas químicas podem ter sido lançadas por grupos rivais o ditador de plantão. Guerras produzem heróis e movimentam a indústria bélica, além de distrair o povo. Se causas morais valessem as intervenções nas guerras tribais africanas teriam trazido de volta tropas coloniais, quando pelo menos as famosas etnias, tão ao gosto dos intelectuais ditos humanistas, estariam sob controle.
Por que não interviram ainda, supondo que todas as causas morais sejam verdadeiras?
Simples, as grandes nações têm medo do Irã e outros países que poderão apoiar o governo sírio. E se fosse necessário invadir o Brasil? Já estariam aqui  porque existe em nossa terra espaços para fortunas estrangeiras crescerem. Estamos fragilizados.
No Brasil vivemos o apagão da Engenharia. Alguém duvida?
Nossos engenheiros quando muito fazem campanha para a compra de sistemas caríssimos, sonham, pelo menos, ser empregados de multinacionais ou, quem sabe, azeitar máquinas estrangeiras.
O desfile de 7 de Setembro fez chorar de tristeza. Quanto perdemos nessas últimas décadas... Para os menos informados talvez o deslumbramento diante de tantos soldados e tanques de guerra fosse impressionante, salvo para aqueles que talvez tenham ouvido que o Brasil comprou tanques da Alemanha reformados por uma empresa alemã, ou seja, nem para a reforma do que nos interessava houve empresa disponível...

Cascaes
8.9.2013

[1]
C. Amorim, Assalto ao Poder - O Crime Organizado, Rio de Janeiro -São Paulo: Record, 2012.
[2]
F. G. [org.], Foucault - a coragem da verdade, Parábola, 2003.
[3]
J. C. Cascaes, “Exército Brasileiro e Defesa Civil,” Civismo e Cidadania, 7 9 2013. [Online]. Available: http://civismo-e-cidadania.blogspot.com/2013/09/exercito-brasileiro.html
[4]
A. Palacios, “GUERRA DAS MALVINAS: Curiosidades e dados pitorescos sobre as ilhas e o conflito,” RADAR GLOBAL, 1 4 2012. [Online]. Available: http://blogs.estadao.com.br/radar-global/guerra-das-malvinas-curiosidades-e-dados-pitorescos-sobre-as-ilhas-e-o-conflito/.






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