Ética profissional e a moral necessária à sobrevivência humana

Ética profissional e a moral necessária à sobrevivência humana

A Humanidade mais e mais demonstra um distanciamento perigoso entre seus conhecimentos e sua capacidade de existir com segurança em meio a tudo o que produz e pode fazer a partir da vontade de indivíduos trabalhando e formados até nas melhores universidades. O ser humano é incapaz, mesmo em grupos seletos, de assimilar tudo o que existe e é descoberto diariamente; o mais grave, contudo, é como utiliza seus conhecimentos e poderes.
Tudo isso seria aceitável se nossa índole fosse adequada á solidariedade e convivência sadia. Infelizmente ainda vivemos em tempos de selvas e savanas, selvas de concreto e aço, campos de monocultura, extremamente importantes, mas socialmente e ecologicamente estéreis.
A hostilidade mútua é a tônica de feras defendendo suas propriedades, taras e luxos. Grandes pensadores já viram isso [por exemplo: (Ferry, 2006), (Nietzsche)] e lamentavelmente, à medida que envelhecemos, percebemos que falhamos ao educar e que o império de nossa ignorância na extrema e ridícula dimensão que possuímos é altamente nocivo a todos nós.
Nisso tudo, diante inclusive das reações e motivações de grandes projetos sociais [exemplo: (Programa Mais Médicos)] ganhamos a convicção de que os “profissionais de nível superior” carecem do básico: educação social e sentimento de solidariedade.
O exercício profissional, mais do que tudo, precisa submeter-se a um padrão moral maior para criar códigos éticos sensatos[1].
Colhemos a lógica universalizada da vida dentro de pequenos círculos. As causas disso são imemoriais e podem ganhar novas razões, considerando o recrudescimento dos sentimentos tribais, xenófobos, do fundamentalismo religioso e do culto à ignorância. Espantosamente ainda encontramos religiões, ideologias, orientações filosóficas, esportivas e de qualquer outra natureza propondo o isolamento hostil, a expansão guerreira e atavismos anacrônicos.
A nossa sobrevivência, enquanto profissionais, foco deste artigo, precisa ser analisada de forma realmente inteligente. A moral aproxima-se da compreensão da necessidade de existência harmoniosa e atenta ao desafio da sustentabilidade da espécie humana num planeta mais e mais poluído e suicida.
A Engenharia[2] é arte que dentro do que Michel Foucault ensinou (A Arqueologia do Saber, 2010) mais se aproxima da Matemática; quem sabe a única e verdadeira ciência razoavelmente consistente, instrumento de desenvolvimento de outras que denominamos de Ciências Exatas, e que permitem a ousadia de aplicar de forma enérgica conceitos de parresia (Cascaes) seja na Engenharia, totalmente dependente do respeito à matemática e às leis da Natureza, assim como em outras, com menor eficácia, mas não menos importantes (Parresia).
Precisamos da honestidade intelectual e da compreensão da necessidade de convivência justa e fraterna.  O que seria, contudo, honestidade intelectual e determinação de trabalhar para um mundo melhor?
É absolutamente necessário entender as limitações de nossos cérebros e recursos pessoais, sociais e da própria Natureza. A humildade é fundamental assim como a coragem de duvidar, descrer, pensar com liberdade e aceitar a impossibilidade de qualquer ser humano fazer afirmações universais e impositivas. A dúvida é saudável, necessária e lógica diante de um Universo infinitamente maior do que pensavam nossos antigos sábios assim como a complexidade até de uma bactéria desafia qualquer gênio a explicar sua existência. A humildade não significa omissão e covardia, ao contrário, obriga-nos (todos nós, afinal, quem é dono da verdade?) a pensar e agir dentro de critérios bem pensados associando o que somos, temos, podemos, sabemos e queremos.
O engenheiro assume profissionalmente a responsabilidade de raciocinar, projetar, fazer e manter o que precisamos para sobreviver. É um tremendo desafio que significa, também, se a submissão moral valer, recusar-se a realizar projetos maldosos, ruins, mal feitos.
Guerras e acidentes são os produtos de ferramentas e equipamentos negativos assim como a ingenuidade já apagou da história da Humanidade a existência de nações pacíficas e mal protegidas. Não é sem motivo que a Engenharia Civil é derivada da Engenharia Militar, afinal a sobrevivência é um direito básico de qualquer ser vivo.
E a boa Engenharia? O Engenheiro cidadão? O profissional coerente com os desafios do século 21? Quais são as reponsabilidades daqueles que têm consciência das fragilidades de nossos povos?
Padrões de alienação, leniência, desonestidade e agressividade precisam ser substituídos por preocupações reais e entranhando tudo o que fizermos em relação aos Direitos Humanos, ao exercício da Liberdade, Fraternidade e Solidariedade Universal.
O engenheiro já não pode mais aceitar critérios simplistas de projeto e operação de instalações de grande porte, por exemplo. Suas responsabilidades com a Humanidade obrigam-nos, engenheiros, a entender critérios econométricos e de contabilidade, mas subordinar tudo isso à compreensão tão exata quanto possível dos riscos, dos efeitos de degradação material e ambiental, da responsabilidade da boa gerência é imperativo, mais importante que qualquer desejo de financiadores de projetos e clientes ávidos por custos menores.
Não podemos aceitar sem reagir ordens irresponsáveis, demagógicas, oportunistas, mercantilistas. Precisamos desenvolver uma ética humanista, ampla, sem fronteiras de qualquer espécie.
É lamentável sentir no Brasil, por exemplo, a alienação e covardia diante de elites políticas, empresariais e corporativas totalmente despreparadas para os poderes que exercem.
Se todos quiserem exemplos de má Engenharia estudem o Brasil, mais ainda, analisem o comportamento de grandes potências onde imaginávamos existir o império da sabedoria. Elas são o exemplo inequívoco de que estamos perigosamente defasados em relação a nossas obrigações universais.
Nossa esperança é que a Humanidade não se destrua antes de atingir um patamar mínimo de compreensão do poder que tem de viver em paz com dignidade.

João Carlos Cascaes
Curitiba, 1 de setembro de 2013


Cascaes, J. C. (s.d.). Fonte: Livros e Filmes Especiais: http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/
Ferry, L. (2006). Aprender a Viver - Filosofia para os novos tempos. (V. L. Reis, Trad.) Rio de Janeiro: Objetiva.
Foucault, M. (2010). A Arqueologia do Saber.Rio de Janeiro: Editora Foerense Universitária Ltda.
Nietzsche, F. (s.d.). Humano, Demasiado Humano(2 ed.). (A. C. Braga, Trad.) escala.
Parresia. (s.d.). Fonte: Wikipedia: http://es.wikipedia.org/wiki/Parres%C3%ADa
Programa Mais Médicos. (s.d.). Fonte: Portal da Saúde: http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/area/417/mais-medicos.html




[1]Ética é a parte da filosofia dedicada aos estudos dos valores morais e princípios ideais do comportamento humano.A palavra "ética" é derivada do grego ἠθικός, e significa aquilo que pertence ao ἦθος, ao caráter. Diferencia-se da moral, pois, enquanto esta se fundamenta na obediência a costumes e hábitos recebidos, a ética, ao contrário, busca fundamentar as ações morais exclusivamente pela razão. (Wikipédia)

[2]engenharia é a ciência, a arte e a profissão de adquirir e de aplicar os conhecimentos matemáticos, técnicos e científicos na criação, aperfeiçoamento e implementação de utilidades, tais como materiaisestruturasmáquinasaparelhossistemas ou processos, que realizem uma determinada função ou objetivo. Nos processos de criação, aperfeiçoamento e implementação, a engenharia conjuga os vários conhecimentos especializados no sentido de viabilizar as utilidades, tendo em conta a sociedade, a técnica, a economia e o meio ambiente. (Wikipédia)

Comentários