O petróleo e o Brasil

A Petrobras e a tecnologia
Questões tipicamente brasileiras colocam em dúvida se a Petrobras é do povo brasileiro. Realmente, do ponto de vista formal a Petrobras assim como a COPEL e a SANEPAR são empresas de propriedade difusa e controle estatal, ou seja, nominalmente têm acionistas e estão em Bolsa de Valores etc., mas existem sob um estatuto próprio, que coloca os eleitos em processos teoricamente democráticos no comando real dessas empresas. Não fosse assim elas não teriam passado tão frequentemente por períodos difíceis, quando corrupção e/ou incompetência (quem deve esclarecer isso é o Poder Judiciário) quase destruíram essas estatais essenciais à nossa existência no Paraná.
A Democracia no Brasil é relativa; as campanhas eleitorais, caríssimas, dependem de “doações” indevidamente associadas a compromissos de governo. Basta prestar muita atenção à forma de agir dos secretários e ministros para perceber a quem devem obediência. As lógicas do companheirismo e de fraternidades padrão P2 existem e mandam aqui e na maioria do mundo moderno. Critérios de cortes, monarquias e regimes feudais sobrevivem com muito cuidado. No Brasil o PT escancarou essa lógica, simplesmente declarando existir o “caixa 2” e defendendo publicamente aqueles que foram fieis aos chefes e suas exigências não escritas, sagradas no mundo político nacional.
O leilão do potencial energético brasileiro virou rotina. O peso das lógicas mercantilistas no mundo privado (não é exatamente privada, é algo pior) impõem critérios selvagens, coisas parecidas ao que motivou as (Guerras do ópio)[1]adotadas com entusiasmo pelas grandes potências militares e industriais no auge do liberalismo econômico explícito. Para completar tudo isso ganhamos a mídia comercial induzindo a população a usos e costumes consumistas[2], independentemente da validade e oportunidade dos produtos. Vivemos num país extremamente semelhante à China (a diferença maior é o nacionalismo) chinês, cuja existência e resistência motivaram a intervenção do século 19. Merece destaque, também, a evolução dos vendedores de drogas e da forma de governo, mais ilusória e refletindo (lamentavelmente) um país de viciados em gasolina (Brasil), por exemplo.
A história da Petrobras a parir da década de oitenta é uma sucessão de episódios e estratégias lamentáveis. No Governo Dilma do PT parecia que tudo voltaria a ser mais lúcido. A influência de corporações de megaindústrias (FIESP entre outras) e de banqueiros privados (“via de regra” internacionalizados de diversas formas) venceu.
A Presidenta Dilma Rousseff, infelizmente formada em Economia, esqueceu a história da Humanidade e o PT fascista é acima de tudo corporativista, prevalecendo interesses das grandes organizações de “trabalhadores” (Greves, contra quem? , 2013).
O espírito egocêntrico das corporações é mais do que evidente em paralizações absurdas, sempre penalizando o povo. É o jogo ilustrado em comédias pastelão onde dois adversários fortes batem num terceiro mais fraco para testar entre si as forças que possuíam...
Talvez possamos dizer que a Humanidade é assim e nada irá mudar sua essência. Para isso é bom ler alguns livros simples, mas ilustrativos [ (Aprender a Viver - Filosofia para os novos tempos, 2006), (O Senhor das Moscas - "Lord of Flies")].
E o que tudo isso tem significado diante do leilão do Campo de Libra (Braga, 2013)?
Com o preço dos combustíveis aplicaram regras semelhantes ao da energia elétrica, para evitar a inflação num Brasil dependente demais de rodovias os preços foram contidos, os impostos mantidos.
Com FHC as estatais foram privatizadas e uma estrutura aparentemente independente foi criada para administrar contratos de concessão.
A Petrobras passou por momentos extremamente desmoralizantes no Governo FHC (Coelho, 2013).
A vitória do PT gerou um período de recuperação. Lamentavelmente logo descobriram a cornucópia e assim...
Na administração Dilma nós tivemos a impressão de um momento de ajustes positivos. Segurar o preço dos combustíveis e as prioridades herdadas implodiram a atual administração federal, apesar de inicialmente haver a esperança de um governo energicamente justo.
A Receita Federal e a submissão a interesses estrangeiros criaram pesadelos na estatal de petróleo sob controle federal.
O escândalo dos grampos interneteiros norte americano estragou os planos de suas megaempresas.
O leilão do campo de Libra rendeu menos.
Acabou nas mãos de um consórcio que vai aprender com a Petrobras. Com certeza levando conhecimentos sem a necessidade de grampos. Consórcio formado por estatais ou empresas fortemente cooptadas por seus países sede, será um caminho aberto de evasão de potencial intelectual. Afinal, quem se importa com isso?
O fundamental é poder viver bem, custe o que custar, doa a quem doer. Essa é a lógica que o ser humano sempre praticou, exceto quando teve ou tem educação, instrução e caráter para entender que o século 21 precisaria de tudo, menos do açodamento de exploração de depósitos de combustíveis fósseis, mais ainda a milhares de metros abaixo do nível do mar, podendo causar catástrofes do tipo Fukushima.
 A insanidade do mundo moderno assusta, até quando (Cascaes, Mirante da Sustentabilidade e Meio Ambiente)?
O ser humano comum não pensa, reage. Triste é quando muda comportamentos após desastres colossais que poderiam ser evitados, poderá ser tarde demais.
Mais ainda, que sina essa de viver num país em que as elites teimam em desprezar o povo da periferia, das favelas, do interior de nossas florestas...
Cascaes
22.10.2013

Braga, J. (21 de 10 de 2013). É 'bem diferente' de privatização, afirma Dilma sobre leilão do pré-sal. Fonte: globo.com: http://g1.globo.com/economia/noticia/2013/10/e-bem-diferente-de-privatizacao-afirma-dilma-sobre-leilao-do-pre-sal.html
Cascaes, J. C. (s.d.). Fonte: Mirante da Sustentabilidade e Meio Ambiente: http://mirantedefesacivil.blogspot.com.br/
Cascaes, J. C. (10 de 2013). Greves, contra quem? . Fonte: Quixotando: http://www.joaocarloscascaes.com/2013/10/greves-contra-quem.html
Coelho, W. (23 de 7 de 2013). Como foi desmontada a Petrobras: O neoliberalismo dos anos FHC. Fonte: diárioLiberdade: http://www.joaocarloscascaes.com/2013/10/como-foi-desmontada-petrobras-o.html
Ferry, L. (2006). Aprender a Viver - Filosofia para os novos tempos. (V. L. Reis, Trad.) Rio de Janeiro: Objetiva.
Golding, W. (s.d.). O Senhor das Moscas - "Lord of Flies". Editora Nova Fronteira.
Guerras do ópio. (s.d.). Fonte: Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerras_do_%C3%B3pio








[1] Em 1830, os ingleses obtiveram exclusividade das operações comerciais no porto de Cantão. China exportava seda, chá e porcelana, então em moda no continente europeu, a Inglaterra sofria um grande défice (sic) comercial em relação à China. Para compensar suas perdas econômicas, a Grã-Bretanha traficava o ópio indiano para o Império do Meio (China). O governo de Pequim resolveu proibir o tráfico de ópio. Isso levou Londres a declarar guerra à China. Pois pretendia conservar este lucrativo comércio (nota: a balança comercial das trocas entre os dois países era deficitária a favor da Grã-Bretanha).
[2] Em 1839, a droga ameaçava seriamente não só a estabilidade social e financeira do país, como também a saúde dos soldados. A corrupção grassava na sociedade chinesa. 

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