Governo Democrático é isso?

Ditaduras formais e informais
Um maior e talvez o mais valioso direito do ser humano é o de expressão, o “jus esperniandi”[1]como brincando falam os poderosos. A qualificação jocosa não diminui a importância de poder expressar opiniões, discordâncias, críticas e até ofensas quando temos convicção de que as pessoas merecem. Num “Estado de Direito” sempre deverá existir formas de punição à calúnia, à difamação dolosa e improcedente, seja qual for o meio de expressão.
Justamente por faltarem meios enérgicos de cerceamento de opiniões percebemos uma tendência assustadora à intolerância, mascarada pela idolatria a caudilhos e promoção de novas leis restritivas à informação.
A intolerância não é privilégio dos poderosos de plantão que, infelizmente, contribuíram demais para a construção do atual Estado Brasileiro, frágil diante do crime organizado e da corrupção.
Organizações que exigem juramentos de fidelidade e crenças antigas não aceitam a liberdade de expressão, principalmente quando contrariam juramentos feitos no acesso a essas instituições. É algo deplorável, eventualmente necessário em condições suicidas, como é o caso de exércitos que precisam agir enfrentando a morte quase certa em batalhas essenciais ao povo que defendem.
A falta de conhecimentos, a ignorância até recentemente universalizada e a dificuldade de aprendizado viabilizam as certezas e atitudes radicais, eis porque as ditaduras investem prioritariamente na censura, no terrorismo de Estado e no controle dos sistemas de Educação.
Em sociedades livres encontramos situações muito diversas entre minorias, cada uma com suas teses e compromissos. Nelas descobrimos heranças de negação da inteligência e a defesa intransigente de dogmas e crenças, infelizmente.
O conhecimento humano em todos os níveis evolui com aceleração constante, e a própria aceleração é turbinada por novos sistemas de comunicação e registro, processamento e ensino graças a coisas fantásticas que a Engenharia, a Matemática e outras ciências aliadas à Indústria nos oferecem diariamente com mais e mais novidades. Isso implica na necessidade de evolução, de correção de paradigmas, quando não a substituição de alguns parâmetros milenares ou simples abandono de fórmulas cabalmente negadas pela Ciência.
É uma veleidade aceitar sem dúvidas saudáveis o que pesquisadores, estudiosos e até as mais renomadas universidades do Mundo afirmam, mas é o que temos de mais próximo do conhecimento dos mistérios talvez insondáveis da Natureza.
O que é assustador é descobrir a virulência das certezas das minorias. A maioria da população humana tende à tolerância, mais ainda porque envelhece, muito mais do que as gerações que nos precederam. A senilidade, entretanto, pode gerar certezas. Não são poucos os que antes falavam com Deus, agora acreditam serem o próprio Criador.
Aos jovens podemos imputar a inexperiência e a ingenuidade, ainda que bem informados. Aos velhos as limitações intelectuais e sensoriais crescentes e a cristalização até defensiva de conceitos ultrapassados explicam a teimosia mórbida em torno de comportamentos antigos.
E a delinquência? A corrupção? A criminalidade em todas as suas formas?
Grupos organizados podem impor suas vontades entre nações desarmadas. Sob diversos pretextos proíbe-se a defesa pessoal, exceto se o cidadão ou cidadã for atleta e especialista em lutas marciais.
As minorias também se posicionam em partidos políticos, sem falar nas organizações religiosas.
Quando grupos ideologizados fanáticos ou oportunistas conquistam poderes acima de suas disposições éticas e de compromisso com o povo tudo fica assustador. Os modelos caudilhescos, albaneses, a história do Khmer Vermelho assim como heróis que o FBI e a CIA criaram [ (John Edgar Hoover), (Henry Kissinger)]  e outros que Gore Vidal descreve bem em seus livros e do próprio nazifascismo assustam.
Isso seria muito e motivo para mobilizações políticas, mas no Brasil, por exemplo, vemos o poder crescente de quadrilhas explicitamente criminosas. Se em tempos de exceção tínhamos medo de falar de política, agora vivemos com medo de ações violentas ao sair de casa, quando não dentro de nossas gaiolas.
Aqui também militantes de “esquerda” conviveram com bandidos. Tinham culpa de serem bandidos? Não, na maioria absoluta dos casos os presidiários são vítimas da aplicação equivocada de leis mal feitas e de jurisprudência mal feitas, além, é claro, de nossa história escravagista e aristocrática.
Nós que nascemos em torno da década de quarenta do século passado podemos agora até lembrar com saudosismo o tempo em que podíamos viajar, passear, usar bicicletas, caminhar sem medo pelas cidades, e agora? Onde e como podemos fazer isso?
Com certeza sempre haverá um jeito de lembrar dívidas históricas, mas cobranças violentas agora e de nossos filhos e netos, bisnetos? Cobranças que exploram a leniência e o medo da maioria da população?
A sociedade humana está longe da racionalidade comportamental. Isso é fácil de entender. A violência é uma mina de ouro para artistas, produtores de filmes, donos de sistemas privados de comunicação e, principalmente dos patrocinadores e vendedores de vícios, manias e produtos agressivos (as montadoras de automóvel são um excelente exemplo disso).
Estamos no mundo intelectual que viabilizou as Guerras do Ópio (Guerras do Ópio), ainda não saímos dele.
Comportamentos extremamente bem ilustrados no livro (O Príncipe Maldito) e em muitos filmes e livros que sugerimos conhecer em (Livros e Filmes Especiais) mostram a forma odiosa de relacionamento das elites com o povo que as sustentava, inclusive com o trabalho escravo de negros, brancos, amarelos e de povos pré-colombianos de nossa “América” recente.
O sentimento de propriedade de consciências e nações é um pesadelo, até entre lideranças que nasceram defendendo a liberdade, igualdade e fraternidade.
Lamentavelmente a idade degrada as pessoas e o imperativo categórico de Kant[2], a ética de Baruch Spinoza (Ética - Demonstrada à Maneira dos Geômetras) assim como as teses mais recentes de Michel Foucault se perdem na preguiça mental das pessoas e disposição para pertencerem a alguma torcida organizada retrógrada.
Chegamos, no Brasil, a desejar o retorno aos tempos em que apenas as opiniões políticas eram proibidas. Está cada dia mais difícil viver em cidades que se transformam em monstrópoles e em seu entorno, império de gangues violentíssimas.
Governo Democrático é isso?

Cascaes
3.3.2014
Cascaes, J. C. (s.d.). Fonte: Livros e Filmes Especiais: http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/
Guerras do Ópio. (s.d.). Fonte: Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerras_do_%C3%B3pio
Henry Kissinger. (s.d.). Fonte: Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Henry_Kissinger
John Edgar Hoover. (s.d.). Fonte: Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/J._Edgar_Hoover
Priore, M. D. (s.d.). O Príncipe Maldito.Objetiva.
Spinoza, B. d. (s.d.). Ética - Demonstrada à Maneira dos Geômetras. Martin Claret.




[1] Jus esperneandi (também escrito como jus sperniandijus esperniandi, etc) é uma gíria muito usada no meio jurídico, e que não existe em latim. O significado da expressão é o direito de espernear, ou o direito de reclamar. Wikipedia
[2] Imperativo categórico é um dos principais conceitos da filosofia de Immanuel Kant. Sua ética tem como conceito esse sistema. Para o filósofo alemão, imperativo categórico é o dever de toda pessoa doar conforme os princípios que ela quer que todos os seres humanos sigam, se ela quer que seja uma lei da natureza humana, ela deverá confrontar-se realizando para si mesmo o que deseja para o amigo. Em suas obras Kant afirma que é necessário tomar decisões como um ato moral, ou seja, sem agredir ou afetar outras pessoas.
O imperativo categórico é enunciado com três diferentes fórmulas (e suas variantes), são estas:
1)Lei Universal: "Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, através da tua vontade, uma lei universal." a)Variante: "Age como se a máxima da tua ação fosse para ser transformada, através da tua vontade, em uma lei universal da natureza."
2)Fim em si mesmo: "Age de tal forma que uses a humanidade, tanto na tua pessoa, como na pessoa de qualquer outro, sempre e ao mesmo tempo como fim e nunca simplesmente como meio".
3)Legislador Universal(ou da Autonomia): "Age de tal maneira que tua vontade possa encarar a si mesma, ao mesmo tempo, como um legislador universal através de suas máximas." a)Variante: "Age como se fosses, através de suas máximas, sempre um membro legislador no reino universal dos fins." Wikipédia

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