O que fazer? 31 de Março?

31 de março ou 01 de abril de 1064
O desgoverno reinante está preocupado com a aproximação do aniversário da revolução, golpe, contragolpe etc. do movimento militar de 1964 que mudou a história do Brasil. Isso não seria problema se o mês de junho de 2013 não tivesse mostrado a insatisfação popular contra tudo e todos que mandam no Brasil.
Razões não faltam e preocupam demais.
É natural, afinal estamos vendo o desmonte de nossas grandes estatais e a empresas brasileiras encaminham-se para o mercado internacional, inclusive a propriedade e o comando delas. Abdicamos da Tecnologia, assumimos a posição de exportadores de commodities e montagens industriais.
As concessionárias (públicas e privadas) colocaram como objetivo principal maximizar lucros, a qualidade e a universalidade de serviços foram abandonados.
Nossas universidades não técnicas se multiplicam, faltam profissionais e grande parte de nossas pequenas cidades vê de longe os privilégios das grandes cidades. Nelas a violência cresce, a mídia consumista cria desesperos e todos se sentem mal, com medo, pressentem que falta algo.
O cartel financeiro manda (Napoleoni) soberanamente. O Poder Político instalado esquece o povo e enaltece os poderosos. No jogo das trincheiras políticas o apadrinhamento de “companheiros” deixa o Brasil sem rumo. Mais e mais dirigentes indicados pelos patrocinadores de campanha desmoralizam desde concessionárias importantes até simples postos de trabalho em qualquer repartição pública.
Temos tido sucesso em algumas áreas. A riqueza nacional viabilizada por décadas de pesquisa e desenvolvimento da EMBRAPA e de algumas empresas que realmente investiram em tecnologia assim como na exportação de minérios e lingotes a preços ridículos, considerando o volume das vendas, geram divisas que viabilizam os prazeres estrangeiros, sempre idolatrados pelas elites mais ricas, em condições de mandar seus mauricinhos, principalmente, para a Europa de onde voltam com trejeitos e hábitos refinados.
O custo das viagens internacionais desabou e agora uma multidão de brasileiros corre para o exterior, a maioria absoluta para registrar e mostrar orgulhosamente coleções de fotografias padrão “eu estou aqui, onde mesmo?”, como diria Jô Soares, “é um espanto”.
Países, nações, tribos, famílias e indivíduos procuram valores de diferenciação entre si. O sentimento natural de propriedade, força, dominação e utilização de terceiros e de tudo o que existir faz parte de nossos instintos. Pobre do ser humano e de suas formas de aglomeração que desistem de se defender. Exemplos clássicos: os Moriori (Wikipedia) , habitantes de arquipélagos perdidos no meio dos oceanos assim como muitos povos pré-colombianos que foram exterminados e os sobreviventes escravizados simplesmente por não terem condições de se defender de povos invasores. O darwinismo é algo inerente à Natureza.
A escravização e o genocídio sempre tiveram razões aceitas pelas pessoas mais rudimentares. A satisfação de ambições e a indiferença diante do sofrimento causado, entretanto, é algo que persiste em comportamentos de organizações corporativas em nossa sociedade. A esperança é a de que evoluamos no sentido da fraternidade e tolerância.
E as comemorações cívicas e religiosas? Tanto as grandes organizações religiosas quanto ideológicas procuram colocar na mente das pessoas rituais e símbolos que simplifiquem e sirvam de camuflagem às suas intenções. Afinal o ser humano é um conjunto de órgãos, dispositivos e funções que exigem um trabalho habilidosíssimo para serem otimizados, e podem sê-lo em qualquer direção. É muito pouco provável que qualquer um de nós, tenha a idade que for, evolua suficientemente para fazer afirmações razoavelmente lúcidas.
Não faltam livros, filmes e trabalhos científicos à disposição dos estudiosos. Se o estudante (de qualquer idade) quiser verá que as dúvidas só aumentam à medida que se aprofunda e for capaz de raciocínio independente e lúcido. Talvez a evolução de cérebros naturais e artificiais algum dia permita conclusões e diagnósticos plausíveis e sensatos.
Precisamos, contudo, estudar o passado para salvar o futuro.
A Revolução de 1964, em princípio pacífica em relação a similares, apesar de violenta em alguns cantos de nosso imenso Brasil (relatos ainda desconhecidos e mal analisados), merece mais e mais estudos, se possível isentos de paixões e cacoetes ideológicos. Lamentavelmente até entre pessoas aparentemente cultas o radicalismo inibe a isenção de espírito e a honestidade intelectual; é algo que podemos entender observando as torcidas organizadas de clubes profissionais de futebol.
As limitações humanas são imensas (Nietzsche) e talvez o ideal seja simplesmente ser feliz, alienando-se tanto quanto possível [ (Ferry, 2006), (Luc Ferry)].
Teimando em pensar e nunca esquecendo os ensinamentos de Michel Foucault, com destaque para os livros [ (Foucault, A Arqueologia do Saber, 2010), (Foucault, História da Loucura), (Foucault, Vigiar e Punir), (Foucault - a coragem da verdade)] e muitos outros livros e filmes recentes sobre a história da Humanidade e do Brasil (Livros e Filmes Especiais), com quase setenta anos (ufa, não mais serei obrigado a votar), tendo iniciado a militância política na década de sessenta em Blumenau, nascendo e crescendo conversando com meu pai e ouvindo aulas extremamente interessantes, agora me atrevo a escrever algo na esperança de contribuir com alguma coisa a favor da inacessível e misteriosa verdade.
No Brasil estivemos, desde suas origens lusitanas, submetidos a interesses de potências estrangeiras. A independência de Portugal levou-nos ao colo da Inglaterra. A aceitação de regras de mercado matou qualquer veleidade de industrialização mais sofisticada, que, aliás, não era vocação dos imigrantes até o início do século 19. A formação do Império deu sustentação à unicidade territorial. A Corte Brasileira [ (Gomes, 1808), (Gomes, 1822 - Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil - um país que tinha tudo para dar errado., 2010), (Gomes, 1889, 2013), (Mauá - Empresário do Império)], contudo, centralizadora e forte impôs atrasos monumentais. A riqueza de nosso solo foi nossa perdição, viabilizando o extrativismo e a monocultura e valorizando a escravidão.
Nos países mais desenvolvidos o “chão de fábrica” era uma experiência vil, atroz, mas reunia trabalhadores que aos poucos souberam impor seus direitos. Aqui o culto etéreo à bandeira e a violência das elites gerou constituições, leis, padrões de exclusão que persistem até nas maiores e melhores cidades de nossa terra (Cascaes, O irredento).
O mundo ocidental está apenas um pouco adiante de nós em certos aspectos, mas as revoluções violentas e guerras sucessivas quase por milagre deram força aos ideais de solidariedade, liberdade e Justiça real. Aqui, América Latina, ganhamos arremedos de democracia que viabilizaram caudilhos e ditaduras ferozes, só não muito piores porque, como aconteceu com a ilha de Cuba, o êxodo evitou a necessidade de prolongamento dos paredões.
O que é terrível, contudo, é em pleno século 21 estarmos assustados com teses e paixões do século 19, visíveis no relacionamento íntimo com lideranças perversas deste lado do mundo. Isso não significa que a alternativa seja saudável. Nos EUA grupos econômicos poderosíssimos manipulam e se intrometem em tudo, inclusive em nossos emails, para quê?
Em nossa história as Forças Armadas, consolidadas na Guerra do Paraguai e amarguradas com o tratamento recebido após a guerra, influenciadas pelo Positivismo e o culto da excelência corporativa assumiram posições políticas.
Criaram motins, levantes, quarteladas e mudanças radicais em nossa história republicana. Datas festivas? Acima de tudo o 15 de Novembro, e outros existiriam se vistos com mais atenção, momentos bons e maus, festivos ou de tristeza, tudo dependendo dos pontos de vistas dos analistas.
A dúvida maior e fator de questionamentos agora é a comemoração do 31 de março de 1964. Após esse evento traumático à democracia o Brasil mudou muito. Que democracia existia? O período militar que se estendeu até o início da década de oitenta foi bom para o Brasil? O cenário político atual satisfaz as pessoas mais preocupadas com o futuro dos brasileiros?
31 de março é uma data importante por muitas razões positivas também e até os seus efeitos negativos mereceriam debates inteligentes. No último período militar o Brasil iniciou um processo de formação de infraestrutura e industrial que teria feito de nosso país uma potência não tivesse acontecido os erros colossais de avaliação das crises de petróleo e a influência nefasta e criminosa de grandes grupos econômicos nacionais, que se lançaram vorazmente sobre as oportunidades oferecidas, deixando para o BNDES e em alguns casos escombros o que deu errado.
Os montepios dito militares martirizaram milhões de idosos e idosas...
Perdemos, e isso foi uma lesão gravíssima, a continuidade democrática. Partidos bem estruturados e caracterizados deram lugar a agremiações inconsistentes.
Após 1988 o sindicalismo e o corporativismo ganharam força demais assim como outras guildas. Lideranças sindicais, sempre prontas a negociar qualquer coisa para satisfazer suas categorias agora dominam o Brasil trabalhador enquanto oligarcas faturam bilhões de reais à custa de nosso povo ingênuo.
Devemos prosperar, contudo. Estamos em momento de transição econômica. Grandes centrais de energia deverão começar a operar viabilizando mais alguns pontos no PIB e no desenvolvimento de nosso país e outras obras estruturais serão inauguradas nos próximos anos. Universidades evoluem e os sistemas de comunicação (Cascaes, Ensino e literatura século 21)permitem, entre outras maravilhas o EAD, o Ensino a Distância.
Assustador mesmo é ver o povo desarmado diante do crime organizado e a facilidade e benesses dos corruptores, especuladores e agiotas, até quando?
Agora o desmonte das estatais é a ordem do grande mercado de capitais que assim transforma os serviços essenciais em objeto de lucro a qualquer custo, pois simplesmente carecemos de Justiça eficaz contra os abusos dessas empresas assim como todos os órgãos de regulamentação e fiscalização sempre foram travados por contingenciamentos de verbas e ingerências até sexuais na formação de suas equipes. Parece que o inferno em que vivemos é proposital.
Nunca foi tão importante quanto agora ouvir atentamente o depoimento do ex-ministro Deni Lineu Schwartz (DHPAZ PARANÁ - DEPOIMENTOS PARA A HISTÓRIA - DENI LINEU SCHWARTZ) para entender o que aconteceu após a “redemocratização” assim como compreender a dinâmica do mercado financeiro internacional, a nova forma de imperialismo, não de nações, mas de oligarcas absolutamente inescrupulosos. Para isso temos de sobra bons filmes recentes e alguns livros clássicos, sempre lembrando que qualquer obra literária aparece após algum tempo, ou seja, é anacrônica nesses tempos supersônicos de grandes transformações (positivas e negativas) da informação e processamento do conhecimento humano (Cascaes, Livros e Filmes Especiais).
Mas estamos nas vésperas do aniversário de mais um evento promovido pelos militares, como o foi a proclamação da República [ (Priore), (Gomes, 2013)]; 31 de março de 1964 e 15 de novembro de 1889, dois eventos que ilustram bem a inépcia dos civis e a força do corporativismo militar, nos dois casos decisivos para a ruptura institucional. Com a proclamação da República livramo-nos de uma sucessão imprevisível e critérios aristocráticos de comando do Brasil, a Revolução de 1964 salvou nosso povo de uma guerra civil que ganhava contornos assustadores, mas penamos duas décadas ao sabor do Almanaque do Exército e sob o arbítrio imprevisível de pessoas que usavam a farda como instrumento de império.
Devemos registrar que na confiança de escalões superiores muitos subalternos usaram e abusaram do direito de mandar indiscriminadamente. Disso fomos testemunhas amarguradas com os rumos do 31 de março de 1964.
É importante lembrar que a divisão ideológica da Humanidade viabilizou a Segunda Guerra Mundial, efeito do racismo, da xenofobia e ódios que parecem renascer na ex-União Soviética. Conhecendo mais profundamente as causas desse fenômeno chegaremos à compreensão da  formação de novos grupos de poder, desde oligarcas a cartéis explícitos e implícitos, assim como o império de grupos que simplesmente especulam com a capacidade de trabalho da Humanidade.
A escravidão volta mais sofisticada, estimulada pelo consumismo e vaidades ingênuas, sempre pressionando as pessoas a gastarem a vida em frivolidades.
Lamentavelmente estamos num momento atroz. O que realmente nossos governantes em todos os níveis querem fazer? Obedecem a quem? Sabem governar?
A degradação espantosa dos serviços essenciais, cada vez mais importantes, camuflada por alguns progressos, sempre, contudo, muito abaixo do possível e desejável, assim como a definição de prioridades ao gosto da mídia, essa sob contratos formais de patrocínio, angustia quem sonha com um Brasil melhor.
Talvez para milhões de brasileiros as esmolas que recebem sejam tão maravilhosas, e são, que beijam as mãos de quem lhes dá um mínimo a que sempre tiveram direito. Isso viabiliza a cooptação e utilização de milhões de brasileiros eleitoreiramente. As desigualdades regionais, fruto de elites podres em algumas regiões, são instrumentos de perversões assustadoras, inclusive de preconceitos que desmoralizam qualquer iniciativa e esforço de discussão de reformas saneadoras e necessárias.
Mais ainda, o eterno pesadelo demasiadamente humano do apego ao Poder e às suas benesses, é onipresente. O efeito deletério dos palácios contamina pessoas que pareciam boas, mas se deixam levar pelos áulicos e logo desenvolvem comportamentos doentios.
O povo vê atônito o desmanche de ídolos e no jogo dos minutos e segundos do horário eleitoral a formação de alianças espúrias mata o sonho de um Brasil melhor. O cenário foi preparado para que se algo mudar tudo fique como está (Il Leopardo fez escola).
De que forma recuperar a dignidade? Hannah Arendt tratou disso em um de seus melhores livros (Sobre a Revolução) assim como registrou processos vis de transformação da sociedade humana (Arendt, As Origens do Totalitarismo, 2007) e o perfil dos seres humanos mostrando quase jornalisticamente o que descobriu e contou em (Arendt, EICHMANN EM JERUSALÉM ).
Concluindo um tema interminável, o que fazer?

Cascaes
120.3.2014




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