Privacidade, novos velhos tempos

Privacidade, um privilégio.
O escândalo provocado pelo rastreamento de mensagens na internet causou reações divertidas e ridículas. Alguns governos e governantes (no Brasil, por exemplo) reagiram como se isso fosse algo inaceitável. Saber o que todos fazem? São intocáveis? Isso pode ser impedido?
As reações seriam justas se não fossem hipócritas.
A espionagem é algo tão velho quanto as guerras mais inteligentes. Bons generais nunca dispensaram os batedores, delatores e espiões. A novidade do mundo moderno é a espionagem industrial, comercial, a avaliação discreta de modos e modismos dos “mercados” e até biografias “não autorizadas”.
Bons livros e filmes relatam até romanceadamente o que existia.
Algumas religiões inventaram a confissão, autodelação premiada com o paraíso, nos regimes políticos ideologizados e ditatoriais a autocrítica em tribunais “democráticos” assim como a “delação premiada” somam-se a redes de espionagem colossais, principalmente contra os piores inimigos dos soberanos, ditadores, caudilhos e grandes corporações: o povo, fonte de riquezas, trabalho escravo e perigoso quando resolve pensar e agir por conta própria.
É divertido lembrar, só para exemplificar, que as tropas alemãs usaram livrinhos para turistas ao invadir a França na Primeira Guerra Mundial. Os franceses, tão ciosos de sua privacidade, não sequestram a parafernália de registro do “eu estou aqui, eu estou lá” que dezenas de milhões de visitantes carregam quando visitam Paris e outros lugares nem sempre tão midiáticos...
Neste cenário a evolução acelerada exponencialmente pela Ciência e a Tecnologia, tudo transformado em máquinas fotográficas, filmadoras, satélites espiões, gravadores de toda espécie, computadores, redes de comunicação etc. agora são a grande ferramenta nas mãos de nações e lideranças organizadas e poderosas.
A TI[1]soma-se ao, marqueting e sistemas policiais para completar a ditadura do pensamento, mas ela, a Tecnologia da Informação, também é instrumento de redenção do ser humano.
Vamos, contudo, enfatizar a questão: só eles e elas (governos, empresas, oligarcas, cartéis, etc.) usam a tecnologia para rastreamento e segurança?
Atualmente, na fobia da segurança, mania e necessidade, todos precisam se identificar deixando nas portarias de prédios e condomínios informações extremamente importantes sobre quem está lá, o que pretende, detalhes biométricos etc. Quem se apropria dessas informações?
A realização da Copa do Mundo no Brasil está sendo a desculpa para a montagem de um sistema formidável de monitoramento dos brasileiros, principalmente. A rede de espionagem já está funcionando, ao que tudo indica e nos disseram “off record”. Ela continuará a operar após o mês das peladas internacionais, com certeza evoluindo e a serviço de quem estiver de plantão no comando formal do “nosso” país.
O que devemos fazer acima de tudo?
Antes de mais nada é bom que os corruptos e mal comportados entendam que as armas utilizadas por eles e suas organizações podem servir à vigilância policial. Os Ministros e Secretários da Justiça, Segurança, Comunicações e similares são regularmente substituídos, assim o aparato policial será instrumento de outras lideranças, ou seja, até os sistemas de “polícia secreta” serão instrumentos de apoio a novos Governos, se o modelo atual não continuar se afunilando para bloquear a democratização do processo eleitoral.
Seremos sempre rastreados por aqueles que se interessarem pelo que somos e fazemos e tiverem recursos (sistemas e equipamentos cada vez mais baratos e acessíveis) para alugar ou pagar por isso. Devemos, portanto, ter coragem e consciência tranquila. Mais cedo ou tarde tudo o que fazemos de errado poderá ser motivo de constrangimentos. É bom, nesse momento, nós e nossos descendentes, amigos, parceiros, correligionários, sócios, companheiros e companheiras (etc.) termos segurança e tranquilidade ética para enfrentar as consequências de nossas decisões e atitudes.

Cascaes
14.3.2014







[1] Tecnologia da Informação (TI) pode ser definida como o conjunto de todas as atividades e soluções providas por recursos de computação que visam permitir a produção, armazenamento, transmissão, acesso, segurança e o uso das informações. Na verdade, as aplicações para TI são tantas - estão ligadas às mais diversas áreas - que há várias definições para a expressão e nenhuma delas consegue determiná-la por completo. É a área de informática que trata a informação, a organiza e classifica de forma a permitir a tomada de decisão em prol de algum objetivo. A Tecnologia da informação pode contribuir para alargar ou reduzir as liberdades privadas e públicas, ou tornar-se em instrumento de dominação.  Wikipédia

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