O fanatismo e Walter Benjamin

A cegueira e violência dos fanáticos
A história de Walter Benjamin[1](um relato e análise excelentes em (1)) ilustra bem o calvário de um grande pensador do século 20 aprendendo, evoluindo e estranhando o mundo em que vivia, pior ainda, hostilizado por suas ideias, religião, etnia, opiniões e opções ideológicas. Para seu sofrimento foi capaz de antever pesadelos que, infelizmente, se abateram sobre a Humanidade, voz talvez solitária num mundo egoísta ao extremo assim como exercitar uma postura crítica sobre paixões ideológicas num mundo ambiente que se deixava levar pela propaganda ilimitada de lideranças criminosas.
Nasceu  numa Europa que ainda é uma colcha de retalhos tribais e atavicamente ligada a comportamentos medievais (maravilhoso para turistas), caldo perfeito para radicalismos absurdos, que procuram exportar.
E Walter Benjamin?
Viveu sofrendo as consequências de sua educação e experiências, mas pagou um preço elevado por ter nascido numa época em que o mundo inteiro fez de conta que o racismo na Alemanha, principalmente, não era importante e que as teses de um indivíduo patologicamente agressivo seriam contornáveis.
Judeus, ciganos, homossexuais, pessoas com deficiência foram as primeiras vítimas do mito da raça perfeita, algo que surgiu durante o século dezenove como alternativa às teses socialistas que cresceram até dominarem a Rússia, transformada em União Soviética e exemplo perfeito da degradação de propostas de fraternidade em ditaduras sórdidas. O culto à personalidade em todos os países que adotaram as teses marxistas é uma demonstração do valor absoluto da liberdade e das incertezas em relação ao ser humano (2), sempre disposto a assumir comportamentos de “torcida organizada”, militâncias cegas pelo fascínio da glória a qualquer custo.
Felizmente podemos agora ver os efeitos do que Eric Hobsbawm[2]chamou de Era das Revoluções e, num segundo livro, Era dos Extremos [ (1) e (2) ] e processos de mudanças enormes nas relações humanas. Isso nos dá condições de pensar mais e corrigir comportamentos.
A Monarquia tinha na divisão de classes e coisificação do povo como sendo algo natural (merece leitura (5)); o advento dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade geraram mudanças que ainda estão longe de se consolidarem.
A campanha eleitoral que se aproxima é um bom exemplo do padrão de democracia em que vivemos, aqui e em muitos países que são notícia em 2014. Do Brasil podemos falar melhor, pois conhecemos bem a história dos seus partidos e de alguns candidatos, assim como do padrão ético de alguns meios de comunicação tradicionais.
Nosso povo está saturado, revoltado, irritado com seus políticos, mas esquece quem realmente manda no Brasil. As empresas, secretarias, agências reguladoras, ministérios, entidades de classe etc. falharam tremendamente na vigilância dos serviços essenciais (conveniências da “Base Aliada”?). A Copa do Mundo e erros absurdos turbinam a inflação. Ou seja, a mistura é explosiva e recomendaria um pacto de prudência entre os políticos mais influentes e honestos assim como uma estratégia de campanha diferente, dizendo minuciosamente o que pretendem fazer se vencerem as eleições. Cansamos das tradicionais frases de efeito...
Precisamos mudar para melhor e não simplesmente mergulhar em conflitos oportunistas que poderão fugir ao controle de seus líderes, criando condições para alguma ditadura salvacionista. Talvez até valesse a pena enfrentar esse risco, mas ele é desproporcional aos benefícios imagináveis. O Brasil tem um potencial de riqueza grande demais para se fragilizar diante de potências imperialistas, sempre a serviço mercenário de grandes grupos econômicos multinacionais.
Walter Benjamin viveu na Europa até se suicidar em 1940, procurando um caminho para a liberdade. Ele previu o pesadelo que experimentou em seu início. Não lhe deram ouvidos. A mídia e as “elites” viam com entusiasmo propostas antagônicas, radicais e irresponsáveis.
Será que voltamos à década de trinta do século passado?

Cascaes
25.5.2014

1. Löwy, Michael. El pensamiento de Walter Benjamin por Michael Löwy. Procurando Saber, Entender, Aprender Filosofia, História e Sociologia. [Online] http://querendo-entender-filosofia.blogspot.com.br/2014/05/el-pensamiento-de-walter-benjamin-por.html.
2. Nietzsche, Friedrich. Humano, Demasiado Humano. [trad.] Antonio Carlos Braga. 2. s.l. : escala.
3. Hobsbawm, Eric. A Era das Revoluções 1789-1848. [trad.] Marcosd Penchel Maria Tereza Lopes Teixeira. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 2004.
4. —. Era dos Extremos - O breve século XX 1914-1991. [trad.] Marcos Santarrita. s.l. : Companhia das Letras. A Revolução Social - a partir da pg 282.
5. Priore, Mary Del. O Príncipe Maldito. s.l. : Objetiva.







[1] Walter Benedix Schönflies Benjamin (Berlim15 de julho de 1892 — Portbou27 de setembro de 1940) foi um ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo judeu alemão1 .
Associado à Escola de Frankfurt e à Teoria Crítica, foi fortemente inspirado tanto por autores marxistas, como Bertolt Brecht, como pelo místico judaico Gershom Scholem. Conhecedor profundo da língua e cultura francesas, traduziu para o alemão importantes obras como Quadros Parisienses de Charles Baudelaire e Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust. O seu trabalho, combinando ideias aparentemente antagónicas do idealismo alemão, do materialismo dialético e do misticismo judaico, constitui um contributo original para a teoria estética. Entre as suas obras mais conhecidas, contam-se A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica (1936), Teses Sobre o Conceito de História (1940) e a monumental e inacabada Paris, Capital do século XIX, enquanto A Tarefa do Tradutor constitui referência incontornável dos estudos literários.

[2] Eric John Ernest Hobsbawm (Alexandria9 de junho de 1917 - Londres1 de outubro de 20121 ) foi um historiador marxista britânico reconhecido como um importante nome da intelectualidade do século XX. Ao longo de toda a sua vida, Hobsbawm foi membro do Partido Comunista Britânico.
Um de seus interesses foi o desenvolvimento das tradições. Seu trabalho é um estudo da construção dessas tradições no contexto do Estado-nação. Argumentou que muitas vezes as tradições são inventadas por elites nacionais para justificar a existência e importância de suas respectivas nações.
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Nascido no Egito, ainda sob dominação britânica, teve, por isso, a nacionalidade britânica. Seu sobrenome foi alterado por erro de escrituração: era filho de Leopold Percy Hobsbaum, inglês, e Nelly Grün, austríaca, ambos judeus. Teve uma irmã - Nancy. Passou os primeiros anos de sua vida em Viena e Berlim. Nessa época, tanto a Áustria quanto a Alemanha sofriam com a crise econômica e a convulsão social, consequências diretas da Primeira Guerra Mundial.
Seu pai morreu em 1929, e sua mãe em 1931. Ele e sua irmã foram adotados pela tia materna, Gretl, e por seu tio paterno, Sydney, que se casaram e tiveram um filho - Peter. A família mudou-se para Londres em 1933.
Em 1947 passou a lecionar no Birkbeck College, em Londres, mas só foi promovido em 1970. Ele atribuía essa demora às suas posições políticas.
Hobsbawm casou-se duas vezes: a primeira, com Muriel Seaman, em 1943, de quem se divorciou em 1951, e a segunda, com Marlene Schwarz. Com esta última, teve dois filhos, Julia e Andy. Teve também um filho fora do casamento, Joshua Bennathan.
Morreu em 1° de outubro de 2012, no hospital Free Royal de Londres, de pneumonia, entre outras complicações decorrentes da leucemia. Wikipédia

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