Personalismos requentados e a democracia no Brasil

O culto à personalidade – o retorno à Monarquia
No Brasil tivemos de forma explícita dois vícios comportamentais inerentes à raça humana: o culto à personalidade (exemplo (1)) e o corporativismo, ilustrado brilhantemente por Laurentino Gomes (2) ao tratar da proclamação da República e seus primeiros anos.
Corporações podem ser domesticadas, restritas, submetidas a códigos de ética, leis etc., e os seres humanos em geral conseguem pensar sem atavismos, vícios, tutela, interesses pessoais?
Apenas para não ir muito longe podemos ficar pela história do século 20 [ (3), (4), (4) etc.], quando ideologias, principalmente, transformaram-se em instrumentos de endeusamento de lideranças nem sempre merecedoras de admiração real por pessoas livres e pensantes.
A “democracia” tem o defeito congênito de depender do marqueting de pessoas que desejam vencer eleições, o efeito é assustador.
O potencial de entronização de pessoas já em declínio moral e intelectual é enorme.
A mídia, naturalmente, depende de imagens, palavras e ações passadas à medida que precisa promover seres humanos que tiveram algum sucesso e querem vencer, dos novatos o essencial é criar lendas, mitos. Onde estará o necessário e suficiente para a evolução de nosso povo?
Quem merece o nosso voto?
O eleitor mais antigo está encanecido pelas experiências frustradas. Duvida se não faz parte de alguma torcida organizada de algum curral intelectual ou político da “democracia”, pior ainda, perde o otimismo ou aceita os vícios de uma sociedade que poderia ser melhor.
No livro (3) “Foucault e a crítica da verdade” de Cezar Candiotto o capítulo IV (a partir da página 93) e em especial o tema deste espaço “A aquisição ascética (ética) da verdade” merece leitura e releitura para uma avaliação da miséria intelectual em que mergulhamos. Tanto faz onde formos em nosso Brasil mal construído, sentiremos a promoção permanente de valores e comportamentos frágeis. A cultura norte-americana é idolatrada de diversas maneiras e outros modismos (extremamente rentáveis) são cultivados à exaustão. O resultado disso tudo é um desastre crescente que nem a FIFA conseguiria conter.
Teremos eleições, espertamente os nossos representantes e as famosas “bases aliadas” deixaram os prazos vencerem e trabalharam para esfriar as teses de junho de 2013, que apareceram nitidamente, exceto para os marqueteiros dos poderosos (a obra de Michel Foucault trata em toda a sua extensão do Poder em suas diversas formas (4)). Vamos escolher entre os mesmo atores desse teatro nacional criado após 1988.
Vale a pena votar?
Não temos mais partidos políticos laicos autênticos, essa é a sensação nítida vendo as manifestações dos seus líderes. Exceto partidos com forte conotação religiosa, os discursos são semelhantes e nitidamente enganosos.
Será que perdemos capacidade de pensar sem o patrulhamento religioso?
A ética da verdade, a força da verdade, a coragem da verdade, os ideais de liberdade, fraternidade e igualdade, o sonho de um mundo justo e saudável parecem que não são mais preocupação real. Ou dedicamos nossa vida à próxima em outro plano, se existir é bom usar regras para ter promoções, ou nos submetemos a grupos organizados e capazes de tudo para não perdermos privilégios?
A formação da “base aliada” do atual governo federal foi um ato explícito de oportunismo “político”. Maquiavel ficaria orgulhoso do que está acontecendo no Brasil.
Obviamente Governos (em todos os níveis) fizeram coisas boas, e as más decisões?
Precisamos exercitar processos de reflexão e de identificação pessoal (nós) e de avaliação de nossas crenças. Nunca o que aprendemos com o Dr. Cesar Candiotto e seu mestre Foucault foi tão importante quanto agora. Naturalmente, sempre lembrando que o Brasil é um país cristão, devemos acrescentar o que aprendemos com o Sermão da Montanha (5) e destacar as palavras de Jesus Cristo nesse momento fantástico de suas pregações.
O que vemos, entretanto, é o culto radical a personalidades. Parece que militantes de partidos laicos e pessoas fiéis a lideranças religiosas estão esquecendo ou desprezando a democracia e as bases de opção objetivas e de interesse geral. Essa é a única explicação para a pobreza dos discursos de grandes chefes dessa tribo nacional, palavras devidamente orientadas pelos profissionais da propaganda política. Pode? Precisam disso?
Vemos e sentimos diretrizes dos tempos do absolutismo monárquico, quando povos e países eram propriedade de famílias sob proteção e decisão divina (dinastias que gradativamente se entregavam a corporações e personalismos extravagantes). Acreditávamos que o Brasil havia superado essa condição medíocre e superada de governo. Pior ainda, a materialização de partidos em torno de seres humanos falíveis e já em declínio é lamentável, ou seria essa a decisão dos patrocinadores de campanhas?
Cascaes
4.5.2014


1. Priore, Mary Del. O Príncipa Maldito. Livros e Filmes Especiais . [Online] http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/2014/03/o-principe-maldito.html.
2. Gomes, Laurentino. 1889. Livros e Filmes Especiais. [Online] 2013. http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/2013/11/1889.html.
3. Fromm, Erich.O Medo à Liberdade. s.l. : Zahar.
4. Hobsbawm, Eric.Era dos Extremos - O breve século XX 1914-1991. [trad.] Marcos Santarrita. s.l. : Companhia das Letras. A Revolução Social - a partir da pg 282.
5. Candiotto, Cesar.Foucault e a crítica da verdade. Curitiba : Champagnat, 2010. p. 66.
6. Cascaes, João Carlos. Livros e Filmes Especiais. [Online] http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/.
7. cascaes, João Carlos. Feliz Páscoa, e depois? Quixotando. [Online] 17 de 4 de 2014. http://www.joaocarloscascaes.com/2014/04/feliz-pascoa-e-depois.html.
8. Hobsbawm, Eric.Globalização, democracia e terrorismo. [trad.] José Viegas. s.l. : Companhia das Letras, 2007.








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