Opção maldita ou inevitável?
A corrupção está nas manchetes de todos os tipos de noticiário. Qual é a novidade?
Com certeza o que mudou em relação ao passado, desde tempos em que as eleições diretas e indiretas começaram a existir no Brasil, foi a transparência, mostrando ao povo brasileiro o que acontece. Bons historiadores e sociólogos poderão demonstrar isso.
Vale também a experiência de minha geração, agora setentona.
Em tempos de eleições que nos deram o desastre denominado Jânio da Silva Quadros, cuja campanha era simbolicamente marcada pela vassoura (numa alusão ao que o candidato pretendia fazer), uma reportagem da revista visão informava que cada voto desse indivíduo custaria em torno de 4 a 8 dólares (dólar americano, valor da época). Com certeza o nosso ex-presidente não tinha riqueza para pagar tanto e a UDN não era um partido de nacionalistas tão radicais a ponto de gastar tanto como devem ter investido na campanha eleitoral.
Não sem motivos o povo aplaudiu o que aconteceu em 1964, mas logo começou a desconfiar quando os líderes civis da Revolução apareceram na mídia.
No período militar, eleições internas aos quarteis, o império de alguns carteis se impôs. O resultado foi a desmoralização de um período que poderia ter sido infinitamente mais eficaz no saneamento de nosso país. Talvez os coronéis padrão Moreira Cesar tenham faltado nessa época (merece leitura (1) , um romance muito especial).
Voltamos à “democracia”. A década de oitenta oscilou entre sentimentos extremos.
O Brasil quebrou para valer, os movimentos a favor da liberdade, a Constituinte e o início de um período de ajustes que consumiu duas décadas de sacrifícios imensos e sonhos desfeitos foi a tônica após o período militar. A esperança, contudo, era a atuação de novos e velhos políticos na reconstrução de nosso país.
Gradativamente o povo viu seus partidos preferidos se desmembrarem em outros. No início desse processo a sensação era a de que assim deixaríamos o pior de nossas lideranças isolado em barcos podres, chagamos a 2014 vendo, ouvindo, lendo e descobrindo que fomos sistematicamente enganados da pior maneira.
Felizmente reportagens e livros podem, graças à liberdade que ainda temos, documentar o que acontece. Maravilhosamente a Polícia Federal e órgãos federais de fiscalização apresentam dados e fatos inequívocos que podem balizar os eleitores.
Mas escolher quem entre candidatos que são o fruto de um processo político degradante? Quem eleitores funcionalmente analfabetos vão escolher?
Vemos tempos assustadores no cenário internacional. Aqui um esforço colossal dos eternos privilegiados em centrar o debate em torno da sustentabilidade promovida pelas ONGs internacionais. E nosso povo? Será mantido na ignorância? Conduzido a teses totalitárias?
Felizmente o ser humano pode surpreender. Pessoas eleitas, chegando ao poder, talvez se imponham a seus patrocinadores e “companheiros”. Precisamos de uma Presidência vacinada contra o horário eleitoral e capaz de resistir aos encantos dos cartões corporativos e cortesias ilimitadas dos poderosos. Gente sem medo dos criminosos, que não “pague” proteção de qualquer espécie.
Somos humanos, demasiadamente humanos (2) , mas queremos ser felizes sem ter vergonha de nossa pátria...
Cascaes
08.09.2014
1. Lhosa, Mario Vargas. A guerra do fim do mundo. Livros e Filmes Especiais. [Online] http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/2014/08/a-guerra-do-fim-do-mundo.html.
2. Nietzsche, Friedrich. Humano, Demasiado Humano. [trad.] Antonio Carlos Braga. 2. s.l. : escala.
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