Mudanças e residências







Mudanças de residência
Namorados, a namorada: moramos até debaixo da ponte, amor...
Ela grávida, e agora? O neném precisa de um abrigo. Um amigo muito especial (Armando Moreira) conseguiu um emprego para lecionar (Francês, História do Brasil e História Geral), assim comecei a trabalhar. Minha esposa, Tânia, “deu” aulas até julho e depois trouxe-nos o dinheirinho mais do que precioso de sua licença maternidade.
As histórias se repetem e nós, eu e minha esposa, tivemos um caminho gratificante ao longo da vida, com momentos dificílimos, mas superamos diferenças e acidentes, continuamos mudando juntos.
Casadinhos, achamos uma meia água, o banheiro era do lado de fora, o quartinho menor era a cozinha, a prancheta das aulas de desenho técnico servia para ampliar a mesa, os caixotes dos presentes e mudanças com uma cortininha viraram armários, o quartinho maior foi de dormir, de visitas (para quê inventaram sofá-cama?); os livros, o que restou depois da feira entre amigos, no chão; uma chave faca com fusíveis num canto, maravilha para eletricista mexer.... Que beleza o banheiro, tinha até chuveiro elétrico. Um corredor virou jardim, nasceu até um pé de milho que acompanhamos com curiosidade, dá espigas? O canteiro é lindo, estreito, mas serve de corredor para uma rua mineira tranquila como só podia ser naqueles tempos. Os sons da rodoviária davam um toque peculiar e o trem passava ao longe, de tempos em tempos. Dona Francisquinha, proprietária e vizinha, sempre trazia um agradinho.
Trabalhando e um aluguel pago pelos meus familiares de um apartamento herdado mais o casal lecionando viabilizaram a mudança que foi devidamente feita por nós e nossos amigos, cada um colocando algo na camionete padrão Ford de bigode. Chacoalhando e dando risadas mudamos de bairros e mergulhamos num apartamento pequeno, na justa medida de nossa capacidade de pagar. Da. Zezé e seu marido, "Seu" Hermínio, tomaram o lugar da Da. Francisquinha.
Um quarto, uma saleta, a cozinha, o banheiro, maravilha! Tudo dentro de casa. Tinha até uma caixa mais segura para as chaves e fusíveis dos circuitos elétricos e um pequeno quintal onde, dentro de um cercadinho, a filhota Tatiana brincava meio a contragosto. Duro foi quando voltamos após três meses em Blumenau (férias escolares). O nosso ninho estava branquinho, parecia neve: mofo!
Formatura, fantástico, nossa mudança, o que sobrou após vender os móveis, veio numa Kombi. Aqui, graças a um amigo recém conquistado, o Juracy, compramos à prestação o que precisávamos para morar no Mineirão, na Vicente Machado, último andar, que luxo para nós. Curitiba de final dos anos sessenta era assim, meio cidade grande, meio cidade pequena.
Veio a segunda filha, Eliana; precisávamos de um apartamento maior. Afinal os filhos mandam. Assim passamos a viver na tranquila Rua Presidente Taunay, tendo uma família extremamente culta e educada como proprietária do apartamento onde estávamos, o de cima, e tolerante com a barulheira. Assim também conhecemos ainda menino o futuro Dr. Augusto Menna Barreto, de extrema importância em nossas vidas.
Veio a oportunidade do mestrado em Florianópolis por conta da Eletrobrás (na época com acento agudo, o mercado não mandava na grafia das empresas brasileiras). 1972 na ilha onde fui concebido em 1944, mal vimos as praias, choveu demais e simplesmente não tinha tempo para passeios maiores, mas que aconteceram para a gente rever muitos lugares que à época não estavam degradados monstruosamente; e o pessoal até aplaude o que fizeram na Ilha...
Gradativamente o sonho da casa própria nasceu e cresceu. Viabilizou-se e mudamos de novo. Agora com mais coisas para transportar, de televisão a geladeira;  muito maiores que aquelas pequeninhas que usávamos em Itajubá. A geladeira projetada para hotéis, sem compressor  (à resistência,  o que me permitiu colocar uma resistência de ferro em série para regular a tensão), mas suficiente para um jovem casal.
Surgiu a oportunidade de comprar uma casa graças ao excelente BNH e a um projeto da Habitação. Mal podíamos acreditar que teríamos um lugar tão bonito para morar, apesar dos sapos, dos terrenos baldios e do medo de minha esposa, pois seu marido viajava muito a serviço. E nesse ninho da Vila Izabel nasceu o Caio Lúcio, o garoto que agora é um homem com uma menina e um menino a nascer.
E agora?
Filhos casados, sozinhos na casa que aos poucos se modificou para acolhê-los melhor, o jeito foi voltar para um apartamento. Maravilha, podemos ver entre prédios a Serra do Mar e até um pedacinho do Cemitério da Água Verde. E a mudança? Poderia ser melhor, mas contratempos sérios impediram que cuidássemos do jeito que desejávamos. Resultado, estamos cercados de caixas de papelão esperando que venham montar os armários e sem saber onde encontrar coisas essenciais...
Mudamos, assim é a vida enquanto existir, um eterno processo de transformações que poderão concluir, antes do final, em lugares e situações muito ruins (o noticiário mostra as condições indescritíveis de populações inteiras atingidas por guerras injustificáveis, absurdas, inacreditáveis e agora, em pleno século 21, que bons filmes e livros ilustram o que a Humanidade já foi capaz de criar ( (1), (2))).
Presente e futuro maus, regulares, bons ou desejáveis, tudo depende da família que construirmos, principalmente.
Assim podemos e devemos pensar: que mudanças desejamos? Algo é absolutamente certo, colhemos o que plantamos e estaremos sempre sujeitos a surpresas. Quem estiver infeliz recomendamos conhecer melhor a história de muita gente boa que sofreu e sofre muito. Quando podemos viver e construir uma família querida sentimos que mudamos, sim. Sempre para melhor.

Cascaes
6.12.2014



1. Cascaes, João Carlos. Livros e Filmes Especiais. [Online] http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/.
2. —. Procurando Saber, Entender, Aprender Filosofia, História e Sociologia - SEM CENSURA. [Online] http://querendo-entender-filosofia.blogspot.com.br/.


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