Serviços e produtos essenciais - qual é a lógica brasileira? Existe?

Quando os serviços essenciais se transformam em simples negócio (político, privado etc.)

Estamos ao final de 2014, que ano revelador...

Das dúvidas em torno do processo de votação (com muito dinheiro de nosso povo, até no horário eleitoral (1)] no Brasil, ao 7 a 1 contra a Alemanha, o que valeu até agora foram o andamento do processo “Lava Jato” e a percepção crescente do povo brasileiro de que algo está errado. Nessa terra onde canta o sabiá o difícil é saber onde ele está, para quem não domina os segredos de nossa natureza.

Diante do pesadelo energético e da incrível falta de água potável na região metropolitana de São Paulo e os atrasos absurdos em obras estratégicas, ou inexistentes, devemos cuidar com atenção redobrada dos projetos, operação, tarifas etc. das concessionárias; só falta botarem a culpa em nosso povo trabalhador...

Os serviços essenciais têm sido mote de campanhas ideológicas e oportunistas desde que se entenderam como tal em regimes democráticos. Nas ditaduras não se discute, ouve-se o Deus terráqueo falar, fecha-se o bico ou paga-se muito caro em algum campo de reeducação política, gulag, porão ou paredon.

Pessoalmente, sendo septuagenário e filho de um eletricista que, por sua vez, era o filho mais velho de um eletricista em Florianópolis, é difícil aceitar o que acontece, mais ainda após períodos em diversas empresas e universidades, sempre dedicado a esse tema.

Nosso povo por efeito de critérios malditos foi mantido sem escolas (um livro revelador, espetacular: (2); um bom ponto de partida para uma análise na coleção “História da Vida Privada no Brasil (3), para comparar (4) ) adequadas e formação universal desde que Cabral desconfiou que chegava a um lugar novo e Caminha escrevia atônito que o povo não se vestia.

Naturalmente a vinda de muitos degredados e imigrantes (voluntários, condenados e escravos) aconteceu logo, sob governos feitos à imagem e semelhança dos existentes ao sul da Europa.

Os tempos mudaram e vieram inspirações da Europa e América do Norte (onde a inteligência e criatividade imperam). Assim o telégrafo, os trens, vapores, a iluminação das casas chiques e ruas mais importantes a bico de gás e finalmente a eletricidade chegaram por aqui no final do século 19. Demoramos muito mais para entender a importância do saneamento básico e os processos de urbanização pretendiam afastar as pessoas mais pobres e criar centros para as classes poderosas viverem com pompa e circunstância.

Após a Segunda Guerra Mundial a Humanidade ganhou muitos padrões de comunicação e contratos universais. O pesadelo gerado pelo primitivismo dos países totalitários acordou a parte mais sensata.

A favor do progresso inúmeras invenções, produtos e serviços se aprimoraram ou apareceram com destaque.

A Tecnologia não para de evoluir; ufa!

Graças ao trabalho incessante e extremamente eficaz de algumas empresas de alta tecnologia que não deixam de surpreender sempre, as telecomunicações, por exemplo, continuam ampliando-se fantasticamente. Assim nossos governantes e congressistas acordaram para a necessidade de ampliar novos conceitos de serviços e produtos na rubrica  “serviços essenciais” (5) e outros mais.

Vivemos, portanto, graças às facilidades de comunicação, aprendizado, viagens e do comércio universal ganhando consciência de que estamos precisando de tudo, muito mais do que temos.

O nosso pesadelo é talvez a tremenda ignorância e uma Justiça que ainda não se preparou adequadamente para julgar serviços e produtos mal feitos. Somos consumidores que aceitam passivamente autênticos deboches de cartéis bem instalados e capazes de impor situações kafkianas; somos moscas vendo a realidade espantosa de um Brasil explorado (no pior sentido) de norte a sul, leste a oeste.

Tivemos períodos de lucidez; vale a pena conferir a data da formação das grandes concessionárias de capital misto (estaduais e federais), que, entretanto, logo foram dominadas por conveniências alheias a seus objetivos.

De qualquer forma, antes delas essa terra varonil dependia até de vapores importados (6)para ir de Florianópolis a Santos, por exemplo; ou aceitando demoradíssimas viagens em lombo de burro, carroças e coisas primitivíssimas como o eram os ônibus daquela época. Em alguns lugares os trenzinhos eram a opção maravilhosa, ou barcos aproveitando a imensa rede fluvial brasileira.

Santa Catarina fez de tudo para poder crescer (7), somos testemunhas oculares desse esforço num país que parece ter raiva de quem produz.
O Brasil é um país gigantesco.

A Engenharia (8) e bons governos criam soluções, os piores esquemas malditos.

Agora pagamos caro até por omissões técnicas gravíssimas [ (9), (10), (11)etc.]. Em nossa “democracia” a demagogia impera e protelar decisões impopulares é a regra. A lógica gerencial medíocre não cansa de fazer PDVs (12) deixando as empresas nas mãos de pessoas inexperientes, ainda que cheias de diplomas. Para investidores (anônimos em geral), o que importa é ver dividendos, dinheiro no bolso, a qualquer custo.  Empresas estatais se deixam dirigir de acordo com as conveniências do partido político que manda no quintal, quinhão da base de apoio ao governo.

Afinal, o Brasil é presidencialista ou parlamentarista? Se for parlamentarista que tenha ministros e primeiros ministros que sejam substituídos quando a administração não for bem. Aqui, ao que tudo indica, o que vale é o horário eleitoral e o que existe confunde o eleitor...

Tudo o que se faz em grande escala exige altíssima competência técnica e bom planejamento, projetos, execução e operação. Qualquer aparelho ou instalação tem vida útil limitada a algumas décadas. O crescimento do uso e consumo obrigam os donos dos muitos poderes (gente demais dando ordens, criando regras, burocracias etc.) a serem extremamente competentes. São?

Nosso povo adora modismos e paga muito caro pelos seus erros, ou melhor, dos seus governantes. Chegamos a lógicas especulativas selvagens (vide Setor Elétrico (13)); as empresas concessionárias, mais livres que nossos sabiás, silenciam para não perderem negócios e se jogam de joelhos quando erram, mendigando empréstimos subsidiados. O povo paga a conta (é bom repetir infinitamente), de qualquer jeito. Afinal temos o falso carinho de Governos que não querem se desmoralizar.

Algumas empresas dedicadas a serviços essenciais gastam uma fábula de dinheiro em propaganda, pois dá mais lucro do que simplesmente serem mais eficazes. Propagandas bem feitas, lindas; nós pagamos a conta [ (14), (15), (16)]. Outras simplesmente mantêm silêncio, na sombra mandam mais.

Merece destaque em letras garrafais para reflexão dos brasileiros o comentário do Dr. Dane Avanzi (16):
A má qualidade dos serviços de telefonia móvel no Brasil é um desdobramento da falta de prestação jurisdicional do Estado brasileiro. Comumente ouvimos notícias acerca de punições aplicadas pela justiça às operadoras, que se beneficiam do excesso de recursos garantidos pela lei, permitindo que processos judiciais se arrastem por décadas. Enquanto não houver uma reforma ampla e irrestrita no Poder Judiciário, o mercado de telefonia móvel brasileiro continuará sendo o paraíso dos conglomerados mundiais de telecomunicações, em vista da fragilidade de nossas instituições.

Do Setor Elétrico ao transporte coletivo, da telefonia aos serviços de saneamento básico, em tudo a realidade é cruel, impondo aos usuários todo tipo de constrangimento, inclusive quando procura seus direitos em órgãos complexos e mais atentos a estatísticas.

Qual é a realidade nacional, estadual e municipal?


Se alguma dúvida existe os resultados obtidos são reveladores e não vale comparar cenários tecnológicos radicalmente diferentes como fazem usando o que existia no Brasil há três décadas com a situação atual.

Nos anos setenta os grandes serviços começaram a deslanchar com o desafio de nascer e crescer com harmonia e amplitude nacional. Durante o período militar alguns presidentes tiveram a lucidez de promover e estimular grandes empresas concessionárias nacionais, e agora? Vamos caindo nas mãos do “mercado”, simplesmente? Vale a ditadura do dinheiro?

Cascaes
28.12.2014

1. VEIGA, GILBERTO. Gasto público nas eleições. REGISTROem foco. [Online] 24 de 10 de 2014. http://www.registroemfoco.com.br/eleicoes_de_2014/id-139625/gasto_publico_nas_eleicoes.
2. Lhosa, Mario Vargas. A guerra do fim do mundo. Livros e Filmes Especiais. [Online] http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/2014/08/a-guerra-do-fim-do-mundo.html.
3. coleção, Fernando A. Novais - coordenador geral da. História da Vida Privada no Brasil. Livros e Filmes Especiais. [Online] http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/2013/06/historia-da-vida-privada-no-brasil.html.
4. História da Vida Privada . Livros e Filmes Especiais. [Online] http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/2011/01/historia-da-vida-privada.html.
5. Serviços Públicos; conceito, classificação, regulamentação e controle; forma, meios e requisitos; delegação: concessão, permissão, autorização. Central de Favoritos. [Online] 31 de 1 de 2012. https://centraldefavoritos.wordpress.com/2012/01/30/servicos-publicos-conceito-classificacao-regulamentacao-e-controle-forma-meios-e-requisitos-delegacao-concessao-permissao-autorizacao/.
6. Jensen, Claus.[Online] 30 de 5 de 2011. http://pt.slideshare.net/clajen/navio-carl-hoepcke.
7. Wittmann, Angelina. As embarcações no Rio Itajaí Açú - Blumenau. ARTE - CULTURA- HISTÓRIA - ANTROPOLOGIA. [Online] http://angelinawittmann.blogspot.com.br/2014/06/as-embarcacoes-no-rio-itajai-acu.html.
8. Origen de la Ingeniería . A formação do Engenheiro e ser Engenheiro . [Online] http://aprender-e-ser-engenheiro.blogspot.com.br/2014/12/origen-de-la-ingenieria.html.
9. Cascaes, João Carlos. Tecnologia e pedestres. [Online] http://tecnologia-e-pedestres.blogspot.com.br/.
10. —. Serviços Essenciais. [Online] http://servicos-essenciais.blogspot.com.br/.
11. —. Cidade do Pedestre. [Online] http://cidadedopedestre.blogspot.com.br/.
12. Luck, Saldanha.Programa de demissão voluntária. Revista Jurídica. [Online] http://revistavisaojuridica.uol.com.br/advogados-leis-jurisprudencia/54/artigo190838-1.asp.
13. Ilumina - Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico. [Online] http://www.ilumina.org.br/.
14. PT, Agência.Sabesp investe, mas é em publicidade. PT. [Online] 27 de 8 de 2014. http://www.pt.org.br/sabesp-investe-mas-e-em-publicidade/.
15. Gasto de empresas estatais com publicidade sobe 65%. Folha de São Paulo. [Online] 17 de 12 de 2014. http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/12/1563460-gasto-de-estatais-com-publicidade-sobe-65.shtml.
16. Avanzi, Dane.Empresas de Telecomunicação: menos propaganda e mais transparência. CANALTech Corporate. [Online] 4 de 12 de 2013. http://corporate.canaltech.com.br/noticia/telecom/Telecomunicacao-menos-propaganda-e-mais-transparencia/.



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