Momento de repensar as cidades


O Brasil enfrenta uma série de problemas urbanos que mostram a fragilidade dos grandes centros urbanos. Nossas maiores cidades precisam de investimentos bilionários para melhorar um pouco suas condições de mobilidade, saneamento básico, energia, segurança etc. Essa é uma condição clássica e Paris o exemplo cuja história mereceria ser conhecida em detalhes. Graças ao império francês e geração de riquezas conseguiu a proeza de ser o que é, mas teve períodos em que poderia ser comparada com as piores e belas cidades grandes do mundo subdesenvolvido.
Nossas metrópoles brasileiras precisam ser ajustadas constantemente, cresceram depressa demais e o Brasil sempre viveu sem abundância de recursos para desenvolver seus polos maiores e torná-los saudáveis, funcionais.
Optamos pelos automóveis, ganhamos congestionamentos ferozes.
O êxodo rural não acabou, trazendo gente totalmente despreparada para a vida urbana.
A Região Sudeste atualmente passa por um período de estiagem rigoroso, que pode ter existido antes, mas agora o significado desses eventos ganha até epidemias de dengue, pois lugares cercados por barracos medievais, contendo bairros miseráveis ou favelas abrigam habitantes que improvisam, guardam água e lixo de qualquer jeito.
No passado outras doenças dizimaram populações (tifo, varíola, malária, tuberculose...).
Estamos em tempos de modernidade e cabeças medievais.
Os problemas sociais das cidades vão da qualidade de suas calçadas que, no caso de Curitiba, servem para tudo menos para o simples ato de caminhar com segurança (fruto da extrema insensibilidade de nossos “urbanistas”) até a existência de uma infraestrutura de serviços essenciais que precisa ser refeita.
Os tempos dos arquitetos, urbanistas, engenheiros e imperadores que simplesmente mandavam demolir tudo e refazer o que quisessem acabou.
O que podemos e devemos realizar, promover e apoiar é a criação de processos democráticos e com o suporte dos melhores profissionais possíveis para a reinvenção das cidades, cidades novas e, sempre que possível ($$$), corrigir as antigas.
Felizmente a cultura técnica evolui e as ferramentas de comunicação, estudos, simulações, análises etc. melhoram.
Temos até jogos digitais (de que meu filho era fanático) de montagem de cidades fictícias, substituindo os antigos bloquinhos de madeira e montes de areia, brinquedos de madeira (as rodinhas afundavam), os aviõezinhos que segurávamos imitando o som e a água para dar consistência ao nosso artesanato..., materiais de construção que usávamos nas tardes de folga em nossa infância.
Dia a dia ganhamos mais profissionais e entre eles provavelmente alguns gênios que precisam de oportunidades para mostrar seus talentos.
Transferir compulsoriamente grandes contingentes humanos não é simples, os construtores de grandes barragens que o digam. Podemos, contudo, criar cidades administrativas, políticas, bem situadas, atraentes no interior do Brasil transferindo as capitais dos estados para lugares distantes dos atuais, principalmente aquelas situadas em ambiente inadequado, de saturação ambiental, superpovoadas.
Não podemos esquecer também o risco em termos de “Defesa Civil” em metrópoles que em qualquer anomalia travam veículos de socorro e até contêm edifícios que são autênticas armadilhas. Tivemos casos como o do Edifício Joelma que motivaram mudanças arquitetônicas, os famosos pisos para helicópteros, gradativamente esquecidos até o próximo grande incêndio.
As cidades crescem sem disciplina, assim também aeroportos, presídios, depósitos de combustíveis e outras “coisas” dessa espécie que logo ficam cercados de casas, no início improvisadas e posteriormente “urbanizadas”. Para agravar tudo a Lei de Solo Criado viabiliza tudo e imperadores discretos de cidades conseguem alvarás inacreditáveis.
Isso significa que o gerenciamento técnico precisa ser mais enérgico (com a força e vontade real do Poder Judiciário e Ministérios Públicos) e as cidades contidas dentro de limites razoáveis, se possível transferindo atribuições para novos centros, estimulando, assim, a redistribuição dos brasileiros nesse imenso território que é o Brasil.

Cascaes

6.5.2015

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