Dia festivo - aniversário de meu filho




A família, os filhos e filhas etc.
Após a Segunda Guerra Mundial o mundo ocidental entrou em um processo ético revolucionário que permanece com avanços, recuos, avaliações, ajustes de rumo e colheita de muitos equívocos e acertos.
Se as elites pensantes mergulharam em questionamentos profundos, algo ensaiado entre as duas Grandes Guerras e turbinado pelas atrocidades inomináveis desses enfrentamentos e dos conflitos que a sucederam, agora, principalmente no Brasil, vemos temas importantes ganharem o carimbo de dogmas religiosos, a pior forma de análise de comportamentos que dizem respeito ao ser humano, maravilhosamente polimórfico e singular, quando decide questionar “verdades absolutas”.
A família é objeto de mídia política e religiosa, quando seria mais razoável analisá-la permanentemente sem colocações radicais.
Pessoalmente posso dizer que tenho opiniões consolidadas por uma infância e juventude em boas escolas e ambiente familiar muito pessoais que demonstrei muito mais agindo de acordo com minhas convicções; graças a isso agora colho os maravilhosos resultados, motivo de tanto orgulho e até diversão. Filho (hoje dia de seu aniversário) e filhas, netos e netas, bisneto e bisnetas, todos crescendo eticamente e profissionalmente. Felizmente vivi para saborear essa experiência e poder acompanhar a luta hercúlea de todos eles para crescerem e se posicionarem de acordo com suas próprias convicções. É gratificante saber que são independentes, têm personalidade forte e sabem enfrentar a vida.
O Caio Lúcio, meu filho caçula que hoje aniversaria (4 de novembro), é o exemplo perfeito da mistura genética e cultural de seus pais; um menino que nasceu com deficiência auditiva profunda, teve questionamentos severos, passou por muitos gurus e agora vive o que mais admiramos: de forma extremamente responsável e num lar que o envolve perfeitamente.
O Caio serviria de exemplo para muitos que têm medo e desistem de criar filhos e viver com alguém que possa viabilizar uma união estável. Aliás as crianças não pedem para existir; desde que iniciam dentro do útero de suas mães são absolutamente dependentes e podem, antes de surgir maravilhosamente para o mundo exterior, serem vítimas de atrocidades que lamentavelmente vemos defendidas ardorosamente por inúmeras pessoas.
Ainda ontem, acompanhando um debate na TV5 na Suíça (infelizmente descobri ao final) sobre a eutanásia ouvi a contestação de um debatedor sobre a aplicação de regras de morte por motivos de saúde [ (1), (2), (3)] em crianças. A colocação sobre a morte desejada no início da vida veio com tudo: a criança pode decidir, sabe o que é, imagina o que possa mudar com a ciência?
Orgulhosamente temos em nossa família exemplos de respeito à vida ganhando a convicção de que pais (principalmente a mãe) quando acreditam no valor de criar filhos, mesmo sabendo de problemas que possam ter, poderão receber ao final da vida o inestimável presente de sentir que foi maravilhoso apesar de todo o sofrimento eventual das crianças, jovens e o nosso.
A vida é importante demais para ser minimizada. Até o último instante podemos fazer algo de muito valor, no mínimo dando um exemplo de tenacidade e amor.
Outubro e novembro por aqui em casa é tempo de muitas festas e aniversários entre nós, festas porque temos orgulho do resultado de convicções que só se fortaleceram ao longo desses quase 50 anos de casamento...  Sabemos que nossos descendentes são pessoas valentes, briosas, trabalhadoras e de excelente caráter.
Caio Lúcio, parabéns a você, Tatiana e Eliana que são motivos de orgulho e sabedoria para todos nós.
Cascaes
4.11.2015

1. Sobel, Jerôme. Mitos e realidades sobre o suícídio assistido na Suíça. SWI swissinfo.ch. [Online] 17 de 12 de 2008. http://www.swissinfo.ch/por/mitos-e-realidades-sobre-o-su%C3%ADc%C3%ADdio-assistido-na-su%C3%AD%C3%A7a/893224.
2. Fernando Hirschy, swissinfo.ch com agências. Organização suíça amplia serviços de assistência ao suicídio. SWI swissinfo.ch. [Online] 5 de 6 de 2014. http://www.swissinfo.ch/por/decis%C3%B5es-de-fim-de-vida_organiza%C3%A7%C3%A3o-su%C3%AD%C3%A7a-amplia-servi%C3%A7os-de-assist%C3%AAncia-ao-suic%C3%ADdio/38714960.
3. Hirschy, Fernando. Leis alemãs podem ter consequências para Suíça. SWI swissinfo.ch. [Online] 14 de 10 de 2015. http://www.swissinfo.ch/por/eutan%C3%A1sia_leis-alem%C3%A3s-podem-ter-consequ%C3%AAncias-para-su%C3%AD%C3%A7a/41714250.


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