A mediocridade e a desonestidade



No espectro comportamental e até patológico podemos classificar e qualificar pessoas e até instituições, todas têm um “DNA” singular e mostram explicitamente ou não suas tendências, culturas e potenciais.
Entre as muitas “doenças” a pior, com certeza, é a decorrente da má educação.
Educa-se pelo exemplo e lições formais, boas leituras, exercícios intelectuais etc.
A mediocridade é um câncer incurável e doença extremamente disseminada. Talvez o vírus do mau comportamento seja disseminado de propósito, algo que percebemos na programação das emissoras de televisão comerciais, sempre mantidas e ardorosas defensoras de seus patrocinadores.
Existem casos extremos e Federico Fellini mostrou em seus filmes o que a natureza humana é capaz de mostrar em casos extremos, com destaque para (A Trapaça). O crime chega a ser motivo de orgulho e meio de vida para muitas pessoas, absolutamente indiferentes ao sofrimento que possam causar.
O pesadelo, contudo, é a pressão que pessoas frustradas e limitadas criam para inibir o crescimento de quem está sob alguma espécie de influência delas.
Podemos relatar inúmeros casos de mediocridade planejada e o que mais irrita é quando isso atinge nossos filhos, netos, bisnetos, nossa família enfim. Quanto mais conhecemos o potencial daqueles que amamos mais nos entristece sentir a demolição de vidas e carreiras que más companhias podem produzir.
Isso significa que devemos ensinar quem depende de nós a ter atenção a ambientes e pessoas negativas. Podemos muito mais do que possamos imaginar, o fundamental é escolher o caminho e a forma de enfrentar doenças ambientais. Elas existem a partir de pessoas, culturas, de gente disposta a atrapalhar, mesmo que com “boas intenções”.
Os grandes vencedores são principalmente aqueles que passaram por dificuldades extremas. A história contém exemplos famosos de pessoas que superaram tudo e deixaram suas marcas na Civilização Universal. Principalmente quem partiu de cenários complexos e difíceis tem muito a ensinar.
O grande perigo da sociedade moderna é a riqueza, a flacidez das facilidades.
Famílias desatentas esquecem de expor seus pupilos a desafios. Superprotegem, mimam, tratam seus entes queridos como se a vida adiante venha a ser sempre fácil e rica. A cada instante tudo poderá desabar. As grandes catástrofes ensinam muito.
Quem nasce e vive algum tempo em lugares perigosos aprende a sobreviver, o que talvez explique o sucesso de países como o Japão, sempre prestes a sofrer um grande terremoto, maremoto e até erupções vulcânicas.
O estado de alerta educa, mas os problemas podem surgir de inúmeras maneiras.
Pais e mestres devem ensinar a lutar, a persistir, a aprender sem subserviência. Isso não significa facilitar a rebeldia; a desobediência sem consequência disciplinares é gratuita e demolidora da formação do caráter do futuro cidadão. Pagar pelos erros próprios é importante, é uma forma de temperar[1]o caráter assim como e revenimento (Revenimento)[2]aprimora, suaviza e restringe a qualidade do fio das lâminas.
Pragmatismo, utilitarismo, realismo ético e educacional são orientações que precisam se misturar sem radicalismos típicos dos fanáticos ideológicos, pregadores e profetas. As vidas pessoais, profissionais, sociais e políticas são complexas demais para se subordinarem tacitamente a critérios teóricos e lendas de tempos remotos.
O desafio da evolução, contudo, é a criação de imperativos categóricos que possamos assumir sem prejuízos significativos. Que tipo de prejuízos? Temos o que denominamos de “consciência”. É algo abstrato e íntimo, até onde ela mostra algo objetivo?
Lembrando as patologias físicas e mentais podemos imaginar uma variedade infinita de composições sinceras, perigosas ou saudáveis.
O que caracteriza as escolas filosóficas antigas é a rigidez de conceitos, desconheciam a estrutura fisiológica dos seres humanos. Era fácil julgar e condenar ou prometer privilégios neste e em outros mundos. Agora a situação é diferente, sabemos o suficiente da natureza humana para entender o comportamento humano nosso e de terceiros, o que, por outro lado, dá um tremendo poder a quem souber usar esses conhecimentos.
Ao julgar sociedades antigas merece especial atenção a obra de Michel Foucault, com destaque para (Foucault, A Arqueologia do Saber).
E agora?
Falávamos de mediocridade, essa é uma endemia social muito maior do que se possa imaginar. Graças a ela poucas pessoas se destacam e muitas têm oportunidades onde gente muito melhor não aproveitou, simplesmente por preguiça mental e intelectual ou derrotismo, acidentes, erros e coisas da vida.
Se a mediocridade é um problema, é também uma tremenda oportunidade a quem está disposto a lutar e vencer.
O desafio de pais, educadores, lideranças honestas é gigantesco num plante que encolhe e se destrói.
Inacreditavelmente percebemos a volta de teses que pareciam superadas.
Nesse ambiente precisamos ensinar o poder da dúvida, honestidade intelectual, seriedade, humildade e coragem quando necessário.
Simplesmente o século 21 será mais um período extremamente perigoso. É prudente aprender a sobreviver.

João Carlos Cascaes
Curitiba, 8 de outubro de 2016


Foucault, Michel. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária Ltda., 2010.








[1] têmpera refere-se a um resfriamento brusco. Na química de polímeros e na ciência dos materiais, o processo de têmpera é usado para evitar processos que se dão em temperaturas mais baixas, tais como transformações de fase, disponibilizando apenas uma pequena janela de tempo em que a reacção é termodinamicamente favorável e cineticamente acessivel. Por exemplo, pode reduzir a cristalinidade e por consequência aumentar a rigidez de ligas e plásticos (produzidos através depolimerização).
Em metalurgia, é mais frequentemente usado no endurecimento de aço ao introduzir martensita, submetendo o aço a um arrefecimento brusco e obrigando-o a passar pelo seu ponto eutetóide, a temperatura onde a austenita se encontra instável. Em ligas de aço com outros metais, tais como o niquel e o manganês, a temperatura eutectóide torna-se mais baixa, mas as barreiras cinéticas à transformação de fase são iguais. Isto permite que o processo de têmpera comece a uma temperatura mais baixa, tornando o processo mais fácil. O aço rápido também possui tungstênio, que tem como função o aumento das barreiras cinéticas e dar a ilusão que o material arrefeceu mais rapidamente do que realmente foi. Até o arrefecimento de tais ligas ao ar (processo de normalização) obtém muitos dos efeitos desejados do processo de têmpera e so depois disso tudo que o aço pode ser entao comercializado.
A tempera tem como objetivo a obtenção de uma microestrutura que proporcione propriedades de dureza e resistência mecânica elevadas. A peça a ser temperada é aquecida à temperatura de austenitização e em seguida é submetida a um resfriamento brusco, ocorrendo aumento de dureza. Durante o resfriamento, a queda de temperatura promove transformações estruturais que acarretam o surgimento de tensões residuais internas. Sempre após a têmpera, temos que realizar o revenimento, para a transformação da martensita em martensita revenida. Wikipédia

[2] Revenimento é um processo feito após o endurecimento por têmpera. Peças que sofreram têmpera tendem a ser muito quebradiças. A fragilidade é causada pela presença da martensita. A fragilidade pode ser removida pelo revenimento.
O resultado do revenimento é uma combinação desejável de dureza, ductilidade, tenacidade, resistência e estabilidade estrutural. As propriedades resultantes do revenimento dependem do aço e da temperatura do revenimento. @cimm

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